No Domingo passado, a Igreja nos apresentou-nos Jesus transfigurado. Releia o texto do Evangelho da Missa...
Na sobriedade quaresmal, a luz do Tabor, todo iluminado pela luz que emana da face divinizada de Jesus de Nazaré, recorda-nos qual o destino do caminho quaresmal: a nossa divinização, a nossa transfiguração em Cristo. Como trouxemos a imagem do homem velho, deformado pelo pecado, è medida em que formos nos deixando para nos encher de Cristo-Deus, traremos a imagem do Novo Adão, o Homem Novo, todo resplandecente de Glória.
Pense bem, que esta a mais difícil é desafiadora viagem de cada um de nós: sair de nós conformados ao velho Adão para chegarmos ao Novo Adão, Jesus Cristo ressuscitado, sendo a Ele conformados!
Engana-se redondamente, portanto, quem pensa que o cristianismo é um caminho masoquista, de auto-punição, de exacerbação do sentido de culpa, de pessimismo e certo desprezo do que é humano. Nada mais distante da intuição cristã!
Já Santo Irineu recordava com palavras lapidares que “a glória de Deus é o homem vivo”.
Mas, o homem é ferido – somos assim! Profundamente contraditórios, machucados e tiranizados pela busca doentia do nosso próprio eu: queremos sempre nos colocar no centro, vemos e avaliamos tudo a partir de nós mesmos, temos a tremenda tentação de tudo relativizar a nós! Em uma palavra: temos a ilusão e a pretensão de sermos deuses! Tudo isso inferniza nossa vida, tira o brilho de nossa existência e nos faz viver na ilusão, numa grande mentira!
Todo o caminho de ascese, de disciplina e exercício espiritual do cristianismo visa nos libertar dessa situação desumanizadora, dessa terrível auto-escravidão em que o pecado nos meteu!
O caminho cristão consiste em caminhar seguindo Jesus, Ele o Homem Livre, pleno de Si, porque nunca Se buscou a Si, mas sempre viveu inteiramente para o Pai. Nosso caminho é não fazer a nossa vontade, mas a vontade de Jesus, que nunca buscou Sua própria vontade, mas a vontade do Pai!
Aqui, vale a pena perguntar: quem é o centro que define a minha vida: o Senhor Jesus Cristo ou eu mesmo? Quem é o critério da verdade das Minhas escolhas e decisões: eu ou o Senhor?
Procure responder pensando na sua vida concreta...
Por isso, no Tabor, Jesus, transfigurado de Glória, aparece falando com Moisés e Elias sobre Sua paixão que se daria em Jerusalém.
Sua glória não é a glória chocha do mundo, a glória enganosa e passageira a que tanto nos apegamos e que tanto nos ilude!
Sua glória brota precisamente do fato de ter-Se esvaziado totalmente de Si na plena adesão amorosa ao Pai. “Por isso Deus O exaltou e deu-Lhe o Nome acima de todo o nome, para que toda língua proclame que Jesus é Senhor para o glória do Pai!”
Este processo de deixar-se para encontrar-se em Jesus é cruz para nós porque somos apegados a nós e a tantas bugigangas.
A cruz aparece como cruz e nos crucifica precisamente porque somos apegados a nós, a nossos critérios e vontades.
Quanto mais livres formos para o Senhor e com o Senhor, mais saberemos vivenciar as cruzes da vida com liberdade, serenidade, paz e até mesmo alegria...
Pense no que ensina São João da Cruz: "Quem não ama a Cruz de Cristo, não verá a glória de Cristo!" Eis: somente abrançando a Cruz do Senhor, esvaziando-se de nós mesmos, poderemos dar espaço à ação do Espírito de Cristo que nos glorifica.
Sendo assim, usemos com afinco as armas do combate quaresmal: oração, penitência, esmola, escuta da Palavra de Deus, leitura espiritual, combate aos vícios e confissão sacramental. Tudo para ser mais livres em Cristo, tudo para parecer mais com Cristo e ter Seus mesmos sentimentos!
Assim, quando chegar a Páscoa deste 2015 e resplandecer a Páscoa da Glória, na Eterna visão, seremos, também nós, inundados da Glória de Deus que refulgiu na Face do Cristo naquele Tabor!
Reze o Salmo 23/24, suplicando ao Senhor a graça de abrir-Lhe as portas do seu coração.
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