sábado, 30 de maio de 2020

Homilia para a Solenidade de Pentecostes - ano a

At 2,1-11
Sl 103
1Cor 12,3b-7.12-13
Jo 20,19-23

A Igreja conclui hoje o Tempo Pascal com a Solenidade de Pentecostes. Não poderia ser diferente, pois o Espírito Santo é o fruto maduro da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus.
Ele morreu entregando na Cruz, amorosamente, o Espírito ao Pai e, no mesmo Espírito, foi ressuscitado pelo Pai. Agora, plenificado por esse Espírito, derramou-O e derrama-O sobre a Igreja e sobre toda a criação (cf. At 2,33). Sim: derramou-O e derrama-O porque o Espírito é como “um rio de água viva” (Jo 4,13s), brotado do Coração aberto do Cordeiro de pé como que imolado (cf. Jo 7,37ss; Ap 5,6), que corre continuamente, sempre o mesmo e sempre novo, tudo renovando, tudo vitalizando, tudo sustentando. Por isso, a Igreja suplica e suplicará sempre de novo: “Vinde, ó Santo Espírito!” 

Vejamos alguns aspectos da ação do Espírito:

(1) Primeiramente, por ser Espírito do Cristo, Ele nos une ao Senhor Jesus, dando-nos a Sua própria Vida, como a cabeça dá vida ao corpo e o tronco dá vida aos ramos.
É no Espírito que Cristo habita realmente em nós desde o nosso Batismo, e faz crescer Sua presença em nós em cada Eucaristia, quando comungamos o Corpo e o Sangue Daquele Senhor, que é pleno do Espírito, tão pleno que a Escritura chega a exclamar, sobre o Ressuscitado: “O Senhor é o Espírito” (2Cor 3,17).
Só no Espírito podemos dizer que Cristo permanece em nós e nós permanecemos Nele; só no Espírito podemos dizer que já não somos nós que vivemos, mas Cristo vive em nós (cf. Gl 2,20), com Seus sentimentos, Suas atitudes e Sua entrega ao Pai (cf. Fl 2,5-8). Por isso, somente no Santo Espírito nossa vida pode ser vida em Cristo, vida de santidade.

(2) Mas, o Espírito, além de agir em cada cristão, age na Comunidade como um todo, edificando a Igreja, fazendo-a sempre Corpo de Cristo.
Antes de tudo, Ele vivifica a Igreja com a Vida do Ressuscitado, incorporando sempre nela novos membros, fazendo-a crescer mais na plenitude de Cristo. Depois, Ele suscita incontáveis ministérios, carismas e dons, desde os mais simples até aqueles mais vistosos ou mais estáveis, como os ministérios ordenados: os Bispos, padres e diáconos.
É o Espírito que mantém esta variedade em harmonia e unidade, para que tudo e todos contribuam para a edificação do Corpo de Cristo, que é a Igreja, em liberdade interior, a liberdade dos filhos de Deus, pois “onde Se acha o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2Cor 3,17).
Assim, é no Espírito que surge e ressurge sempre a vida consagrada, com tantas expressões, tantos modelos e tantos carismas diferentes,
é no Espírito que os mártires testemunham Cristo até a morte,
é no Espírito que se exerce a caridade, se visitam os enfermos, se consolam os sofredores, se aconselha, se socorrem os pobres, se prega o Evangelho...
Enfim, é no Espírito que a Igreja vive, cresce e respira!

(3) É no Espírito que os santos sacramentos são celebrados com eficácia, pois que o Espírito é a própria Energia, a própria Graça, a própria Força de Vida e Ressurreição que o Cristo recebe do Pai e derrama sobre a Igreja. Sendo assim, é no Espírito que a Igreja é continuamente edificada e renovada, num Pentecostes constante, continuado, no todo do Corpo e em cada um dos membros que a ele está unido, até a Vida eterna.

(4) É no Espírito que os cristãos podem rezar, proclamando do fundo do coração que Jesus é Senhor e que Deus é nosso Pai de verdade.
Somente porque temos o Espírito recebido no Batismo é que somos realmente filhos de Deus, já que recebemos o Espírito do Filho que clama em nós “Abbá” – Pai.
O Espírito une a nossa oração à oração de Jesus, dando-lhe valor e eficácia e colocando-nos na Vida da própria Trindade Santa. Sem o Espírito, não poderíamos chamar a Deus de Pai, sem o Espírito nossa oração não seria a de Jesus, nosso Senhor, e nosso louvor, nossa adoração e nossa intercessão não estariam unidas e inseridas na própria união do Cristo Jesus com o Pai. Sem o Espírito, a Igreja não estaria inserida em Cristo e jamais seria povo sacerdotal!

(5) É o Espírito quem recorda sempre à Igreja a verdade do Evangelho, conduzindo-a sempre mais adiante no conhecimento de Cristo. Por isso, assistida pelo Espírito da Verdade, a Igreja jamais poderá separar-se da memória do seu Senhor, jamais poderá contradizer sua herança, a fé católica e apostólica, jamais poderá adulterar ou ceder na sua firme profissão de fé com o intuito maléfico e enganador de agradar ao mundo, e jamais poderá errar na sua profissão de fé; enfim, jamais poderá afastar-se da verdade católica que recebeu dos Apóstolos.
Assim, somente no Espírito é que cremos com fé certa na fé da Igreja e sabemos com certeza que a fé da Igreja é a fé católica e apostólica!

(6) É ainda o Espírito quem fala ao coração da Igreja das coisas futuras (cf. Jo 16,13), isto é, do Mundo que há de vir, daquilo que o Senhor nos preparou e para que nós fomos criados; por isso, é no Santo Paráclito que a Igreja, ansiosa, olha para a frente, para o futuro e, inquieta, clama que o Esposo venha logo para consumar todas as coisas (cf. Ap 22,17). Por isso, na força do Espírito, a Igreja deverá ser sempre fiel a cada época, sem saudosismos nem medos, acolhendo, vivendo e testemunhando e difundindo com humildade o Reino de Deus, até que venha o seu Esposo e leve tudo à consumação.
É no Espírito que os cristãos devem viver como profetas do Reino dos Céus que está por vir, denunciando com doçura e vigor tudo quanto se oponha à manifestação desse Reino, a começar por seus próprios pecados e infidelidades, presentes em cada coração.
No Espírito, a Igreja anunciará sempre o Evangelho, superando todo medo de falar de modo novo a constante e imutável verdade do Evangelho, que interpela, transforma e converte o coração.

(7) Mas, o Espírito não está restrito à Igreja. Dado à Igreja, Ele, que a habita e a impregna, a partir do Corpo da Igreja, que é Corpo de Cristo, enche também, impregna e renova o universo inteiro e toda a humanidade. Onde menos esperamos, onde ainda não chegamos, lá já podemos encontrar a ação do Espírito do Senhor, que Se derrama, que age, suave e fortemente, cristificando toda a humanidade e todas as coisas.

(8) É o Espírito que vai, com força e discrição, guiando a história humana para a plenitude de Cristo - e isto por mais que, tantas vezes, o mundo pareça perdido e sem rumo, em meio a guerras, injustiças, hipocrisias, violências, tristezas e mortes. Cabe aos cristãos, saber discernir e interpretar os sinais dos tempos, que o Santo Espírito faz brotar por toda parte, tendo ouvidos para ouvir o que o Ele diz à Igreja.

(9) Finalmente, é no Espírito, que um dia, no Dia de Cristo, quando Ele, nossa Vida, aparecer em Glória, tudo será glorificado, a história será passada a limpo, a criação inteira será transfigurada, o pecado será destruído para sempre, a Morte será vencida e nossos corpos mortais ressuscitarão, transfigurados como o corpo do Cristo Jesus ressuscitado.
Então, plena do Espírito, toda criação será plenamente Corpo de Cristo, Igreja plena, universo glorificado. O Ressuscitado será Cabeça dessa nova criação e entregará tudo ao Pai, para que o Pai, pelo Filho, no Espírito, seja tudo em todas as coisas.

É esta a nossa esperança, a nossa certeza e a plenitude da nossa salvação. É esta realidade estupenda que se iniciou com o dom do Espírito e continuará sempre e permanecerá sempre, celebrado na Festa de hoje.
Só nos resta implorar novamente o que cantamos antes do “aleluia” da Missa hodierna:

“Espírito de Deus,/ enviai dos Céus/ um raio de luz!
Vinde, Pai dos pobres,/ dai aos corações/ Vossos sete dons.
Consolo que acalma,/ Hóspede da alma,/ doce Alívio, vinde!
No labor, Descanso,/ na aflição, Remanso, / no calor, Aragem.
Enchei, Luz bendita,/ Chama que crepita,/ o íntimo de nós.
Sem a Luz que acode,/ nada o homem pode,/ nenhum bem há nele.
Ao sujo lavai,/ ao seco regai,/ curai o doente.
Dobrai o que é duro,/ guiai-nos no escuro, /o frio aquecei.
Dai à Vossa Igreja,/ que espera e deseja,/ Vossos sete dons.
Dai em prêmio ao forte/ uma santa morte,/ alegria eterna./ Amém.


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