quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

"Não farás para ti imagem esculpida..." (II)

Continuamos, neste artigo, o tema iniciado no exto passado, desta série.
Vimos que há, no Antigo Testamento, uma proibição de se fazer imagens para evitar a idolatria. Mas, quando não há esse perigo, qual a postura da Escritura. Vejamos agora!

Quando não há o perigo da idolatria, de confundir o Deus de Israel com os falsos deuses, quando não há a tentação de manipular Deus, a Escritura permite claramente a confecção de imagens. É o próprio Deus quem ordena a Moisés: “Farás dois querubins de ouro, de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório; faze-Me um dos querubins numa extremidade e o outro na outra: farás os querubins formando um só corpo com o propiciatório, nas duas extremidades. Os querubins terão as asas estendidas para cima e protegerão propiciatório com suas asas, um voltado para o outro. As faces dos querubins estarão voltadas para o propiciatório” (Ex 25, 18-20). Antes, Deus havia proibido fazer imagem do que quer que fosse; agora manda colocar no propiciatório da Arca da Aliança, lugar sagrado por excelência, dois querubins de ouro! A Arca era considerada como sendo o pedestal do Deus de Israel; daí a expressão tão frequente no Antigo Testamento: «o Senhor que está sentado sobre os querubins» (cf. 1Sm 4,4; 2Sm 6,2; 2Rs 19,15; Sl 79,2; 98,1). Trata-se das imagens dos querubins da Arca! É o próprio Deus quem manda! Por quê? Porque não há perigo de idolatria, de se confundir os querubins com o Senhor do céu e da terra!

No Templo santo de Deus, Salomão também mandou colocar querubins: “Ele fez dois querubins de oliveira selvagem... Em todas as paredes do Templo, ao redor, tanto no interior como no exterior, mandou esculpir figuras de querubins, palmas de flores”... (1Rs 6,23-30).
Ainda no Templo havia o gigantesco reservatório de bronze, chamado mar de bronze, com a água para as purificações: “Este repousava sobre doze touros”... (1Rs 7,23-25).
Nas molduras das bases do reservatório, no Templo do Senhor havia imagens: “Sobre as molduras que estavam entre as travessas havia leões, touros e querubins”... (1Rs 7,27-29).
Muito significativo ainda é o episódio das serpentes abrasadoras: o Povo de Israel, no deserto, perdeu a confiança em Deus e murmurou. Como castigo, o Senhor enviou-lhes serpentes abrasadoras. O Povo, então, arrependeu-se e Deus mandou que Moisés fizesse uma serpente de bronze e a colocasse num poste; quem fosse mordido e olhasse para a serpente ficaria curado (cf. Nm 21,4-9). Ora, o próprio Senhor Jesus afirma que essa serpente é imagem Dele: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que seja levantado o Filho do Homem, a fim de que todo aquele que crer tenha Nele a Vida eterna” (Jo 3,14). O sentido é belíssimo: como os que olhavam para a serpente eram salvos, os que acreditam (= olham) em Jesus crucificado, encontram a salvação! A serpente era, portanto, imagem de Cristo. E note que a Escritura proibia fazer imagem do que quer que fosse! É interessante ainda observar, a propósito desta serpente de bronze, que os israelitas, muitos anos depois, pervertidos, começaram a adorar essa serpente como um deus, chamando-a Noestã. Por isso mesmo ela foi destruída pelo rei Ezequias! Enquanto era só uma imagem, não havia nenhum problema; quando os israelitas a idolatraram, deveu ser destruída: “(Ezequias) reduziu a pedaços a serpente de bronze que Moisés havia feito, pois os filhos de Israel até então ofereciam-lhe incenso; chamavam-no Noestã” (2Rs 18,4). A ideia é clara: a imagem em si não é um problema: o próprio Deus mandou-o fazê-la; o problema é transformá-la num ídolo!

É interessante notar ainda que nem mesmo os judeus consideravam como sendo absoluta a proibição de fazer imagens. Em algumas sinagogas da Palestina do século III, arqueólogos encontraram pinturas e figuras humanas. Em Dura-Europos, no atual Iraque, encontraram-se pinturas representando Moisés diante da sarça ardente, o sacrifício de Abraão, a saída do Egito, a visão de Ezequiel...

De tudo isto, podemos tirar algumas conclusões:

A) No Antigo Testamento a proibição de imagens não é absoluta, mas refere-se somente aos casos de idolatria: é proibido fazer imagens dos ídolos (= falsos deuses dos pagãos).
B) É proibido também fazer imagem do Senhor, pois Ele não tem corpo, é o Deus invisível, completamente diferente dos ídolos pagãos.
C) Quando não há perigo de idolatria, as imagens não são proibidas e são até recomendadas.
D) A própria tradição judaica interpretou de modo flexível a proibição do Antigo Testamento: tanto que, quando não havia perigo de idolatria, faziam pinturas nas suas sinagogas.

Veremos, num próximo artigo, a questão das imagens no Novo Testamento.




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