Meditação V - Terça-feira da I Semana da Quaresma
Reze o Salmo 118/119,33-40
Agora leia Gl 2,1-10
1. Esta perícope não é muito fácil de ser explicada. Vamos compreendê-la bem:
a) Quatorze anos após o encontro com Pedro-Cefas (a Pedra), logo após a conversão, Paulo subiu novamente até Jerusalém com Barnabé, seu companheiro de evangelização, e Tito, um cristão provindo do paganismo, que foi fiel colaborador de São Paulo. O Apóstolo foi à Igreja-Mãe para ver membros do grupo dos Doze, sobretudo Cefas, o primeiro dentre os Doze, João, o Discípulo Amado, e Tiago, o Irmão do Senhor, Bispo da Igreja de Jerusalém, a Igreja-Mãe.
Aqui temos uma indicação importante: o próprio Espírito do Senhor revela que Paulo deve ir ver aqueles que são apóstolos antes dele, sobretudo os Doze. Na Igreja há uma ordem, uma hierarquia, que deve velar pela conservação da unidade na verdade do Evangelho e na vida de comunhão fraterna.
Observe como Paulo vai a Jerusalém para conferir o Evangelho dele com o testemunho dos Doze e demais Apóstolos (cf. v. 2). Na Igreja, é indispensável a comunhão constante na mesma doutrina apostólica!
Observe ainda como os líderes da Igreja estendem a mão a Paulo em sinal de comunhão na fé e na caridade (cf. v. 9). Na Igreja, é indispensável a comunhão na disciplina, nos costumes, na vida.
Veja ainda como esta comunhão de fé e amor deve ser concretizada na solidariedade fraterna e na ajuda aos mais necessitados (cf. v .10). Na Igreja, é indispensável a comunhão de bens, de partilha material com os que mais necessitam: dioceses mais favorecidas deveriam ajudar às menos favorecidas, paróquias mais favorecidas deveriam ajudar às menos favorecidas, comunidades mais carentes deveriam receber ajuda das mais abastadas, irmãos em dificuldades materiais devereis ser ajudados de algum modo pelos irmãos na fé!
Pense um pouco: Sua fé e a da sua comunidade ou paróquia é atenta a estes três aspectos acima mencionados?
b) Em Jerusalém, Paulo se detém mais com Pedro (cita aqui três vezes o seu nome: Pedro-Pedro-Cefas), Tiago e João. Com eles, o Apóstolo confere o Evangelho que ele anuncia aos gentios, isto é, aos não judeus, recebendo daqueles que são as colunas a confirmação da sua pregação.
Atenção: mesmo recebendo o Evangelho diretamente de Cristo (cf. Gl 1,1.15-17) e com a autoridade de Cristo, Paulo não se coloca acima ou contra os Apóstolos, mas vai à procura deles, cultivando a comunhão (cf. 2,9) para que o seu trabalho não seja correr em vão (cf. 2,2).
Será sempre um grande desafio para cada um na Igreja conjugar e conciliar a autoridade com a espontaneidade e liberdade, frutos do Santo Espírito de Cristo. Nem a autoridade dos ministros sagrados deve sufocar as iniciativas e dons provindos do Espírito nem os que são inspirados pelo Espírito devem se colocar à margem da autoridade dos ministros sagrados... Quando todos procuram compreender que a Igreja não é propriedade de ninguém, mas pertence unicamente ao Senhor, as coisas ficam mais fáceis e tudo caminha para a edificação do Corpo de Cristo.
Leia 1Cor 12,12 – 12,13.
Observe que o Apóstolo enumera os carismas e ministérios, colocando em primeiro lugar os apóstolos (hierarquia, autoridade pela unção do Espírito) e logo em seguida os profetas (criatividade e liberdade do Espírito): apóstolos e profetas, diversos e harmonizados no Espírito do Ressuscitado, que dirige e vivifica a Igreja (cf. Ef 4,11)!
Que ninguém se julgue superior, pois “Deus não faz acepção de pessoas” (v. 6b): Ele chama a quem quer e como quer, para o bem da Igreja e a edificação do Corpo de Cristo. É péssimo quando qualquer grupo ou classe julga-se superior e autossuficiente na Igreja!
Pense: Se a Igreja fosse somente hierarquia, disciplina, ordem, seria uma realidade seca e morta, estática e fossilizada. Se a Igreja fosse somente uma realidade carismática e de inspirados, seria uma balbúrdia tão desordenada que levaria à dilacerações e delírios, terminando por destruir a unidade na fé e na caridade! Como o Corpo de Cristo, a Igreja é visível e ordenada, mas vivificada pela energia dinâmica e surpreendente do Santo Espírito.
2. Paulo insiste em afirmar que Tito, apesar de batizado, não era circuncidado nem foi obrigado a sê-lo pela Igreja de Jerusalém. Em outras palavras: os cristãos estão livres das obras da Lei de Moisés! É Cristo quem salva e não as obras das práticas legais de Moisés! O cristão está livre dessas práticas do judaísmo!
O Apóstolo defende isto com tanta força, que chama de intrusos e falsos irmãos àqueles que, sendo cristãos, querem obrigar os demais cristãos a observarem as obras da Lei de Moisés! Ora, a Antiga Aliança foi superada pela Nova: “o Antigo Testamento (ou seja, a Antiga Aliança) deu ao Novo (isto é, à Nova Aliança) o seu lugar!”
Pense um pouco em tantos cristãos fundamentalistas que ainda hoje, sob a capa de piedade e conhecimento das Escrituras lidas de modo fundamentalista, nos querem fazer voltar à escravidão da Lei de Moisés:
- implicam por causa de imagens sacras,
- implicam por causa do sábado,
- implicam por causa de transfusão de sangue,
- inventam a bizarrice tola do “templo de Salomão”,
- insistem em batizar nas águas,
- vão benzer óleo no Monte Sinai,
- imitam a arca da aliança e vestimentas dos levitas do Antigo Testamento e outras bizarrices sem pé nem cabeça!
Coitados! Não conseguem compreender que estas coisas não contam mais: a Antiga Aliança passou! Leia Mt 9,14-17; Cl 2,8.11-12.16-17.
3. Paulo insiste em proclamar e defender “a liberdade que temos em Cristo... para que a verdade do Evangelho permanecesse entre vós”... Esta liberdade é em relação à prática das obras e observâncias da Lei de Moisés; a verdade do Evangelho é que Cristo, fazendo-Se homem, debaixo da lei da natureza humana pecadora e fazendo-Se judeu, debaixo da Lei de Moisés, nos libertou da lei do pecado humano e da Lei de Moisés! Leia Rm 8,1-4.
4. Interessante como São Paulo se compreende a si próprio como Apóstolo dos Gentios, isto é, enviado sobretudo aos não-judeus para anunciar-lhes Jesus Cristo. Ele faz uma distinção interessante, mais emotiva que realmente sistemática: “A mim fora confiado o Evangelho dos incircuncisos, como a Pedro o dos circuncisos – pois Aquele que operava em Pedro para missão dos circuncisos, operou também em mim em favor dos gentios” (vv. 7s). Lendo somente estas afirmações poderíamos pensar que Paulo e sua equipe pregariam aos gentios, isto é, aos não-judeus, e Pedro e os demais Apóstolos pregariam aos judeus. Na verdade, isto nunca foi assim: Pedro foi o primeiro a introduzir um grupo de pagãos na Igreja.
Leia At 10,1-11,18. O Apóstolo não somente pregou a um grupo de pagãos, como também os batizou e os introduziu na Igreja. Depois, ainda defendeu sua iniciativa diante da comunidade de Jerusalém.
Também São Paulo, nunca pregou primeiramente aos pagãos: em qualquer cidade aonde ia, sempre se dirigia a uma sinagoga e falava primeiro aos judeus. Leia At 13,13-52. Somente depois ele se dirigia aos gentios, sobretudo àqueles chamados “tementes a Deus”, isto é, gentios simpatizantes do judaísmo. Muito raramente Paulo pregava diretamente aos gentios não tementes a Deus. Neste caso, a pregação era muito mais difícil, como no caso de Atenas (cf. 17,16-34) ou de Listra (cf. At 14,8-20).
Que lição podemos aprender? A Igreja nem é de Pedro nem é de Paulo! A Igreja é de Cristo; só de Cristo, vivificada, guiada e sustentada pelo Seu Espírito! Os Apóstolos planejam, agem, mas o Senhor é sempre livre para dirigir a missão, suscitar pessoas com dons e carismas que levem adiante a obra do Evangelho! Nunca esqueçamos disto!
Pense um pouco no enorme número de leigos, de jovens, de grupos, de novas comunidades que o Espírito do Senhor tem suscitado para a evangelização e o testemunho de Cristo! Às vezes quem mais deveria discernir e apoiar e alegrar-se, fecha-se, critica reprova, porque não cabe na sua lógica... Outras vezes, estes “carismáticos” suscitados, suscitados pelo Senhor, querem fazer as coisas prescindindo da Igreja, como se Cristo não tivesse edificado a Sua Igreja e nela suscitado pastores... As duas atitudes estão muito erradas e ferem o desígnio do Senhor para a Sua Igreja.
5. Leia e reze 1Cor 13. Agora reze com devoção e fé o Sl 144/145
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