segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Uma segunda homilia para ontem, XXVII Domingo Comum

A primeira leitura da Missa de hoje, apresenta, de modo dramático, toda a dor do Profeta Habacuc. Ele era um pobre, que viveu no final do século VII e início do século VI antes de Cristo, um tempo difícil, de impiedade, de descrença, de descaso para com o Senhor Deus e Sua santa Aliança e para com os irmãos. O Reino de Judá estava assolado pelo esquecimento do Senhor e suas consequências: a idolatria (adorava-se aos baals, a Moloc, a Astarte, enfim, aos ídolos dos pagãos, esquecendo-se que somente o Senhor é o verdadeiro Deus), a imoralidade (pois o esquecimento do Senhor dá caminho livre a todas as paixões desordenadas do coração humano), a injustiça social (já que, esquecendo o Senhor Deus, o povo deixa de se reconhecer como irmão; daí a opressão dos pequenos pelos grandes, o luxo em demasia, a falta de piedade para com a dor e o sofrimento dos próximos) e, finalmente, o falso culto (pois Deus não aceita uma adoração que brota de um coração desonesto e descomprometido com os Seus preceitos).
Diante desta situação, o Senhor advertiu os israelitas que eles seriam deportados para a Babilônia: viria o Rei de Babilônia, com todo o seu poderio militar, e levaria Judá para o exílio, destruindo tudo.
E aqui se colocam as palavras de Habacuc na leitura de hoje: o Profeta geme vendo tanto desmando, tanto pecado, tanta miséria, tanto sofrimento, tanta falta de rumo!
Como Deus pode permitir tudo isto?
Onde Ele está?
Por que não age?
E – pior ainda: Como pode permitir que os babilônios, que são mais ímpios que os israelitas, sejam os instrumentos que Ele usará para castigar o Reino de Judá?
“Senhor, até quando clamarei, sem me atenderes? Até quando devo gritar a Ti ‘violência!’, sem me socorreres? Por que me fazes ver a iniquidade, quando Tu mesmo vês a maldade?”
Eis aqui: a dor pelo silêncio de Deus, pelo triunfo da maldade e do pecado, por aquelas coisas na nossa vida, na vida da Igreja, na vida do mundo, que nós não compreendemos!
Onde está Deus? Por que não age? Por que permite? Por que Se cala?

A resposta que o Senhor Deus dá ao profeta é impressionante: “Escreve esta visão! Não falhará! Se demorar, espera, pois ela virá com certeza: Quem não é correto, vai morrer; mas o justo viverá por sua fé!” Que significam estas palavras?
O Senhor garante ao profeta: haverá um juízo de Deus! Ele está vendo tudo, Ele tudo toma nas Suas mãos benditas, Ele tudo conhece e tudo dirige. Seus tempos e modos não são os nossos! O Profeta deve permanecer firme e confiar. O julgamento do Senhor virá: quem foi ímpio morrerá para sempre; quem foi justo, isto é, piedoso, amigo do Senhor, viverá graças à sua fé, graças à sua fidelidade!

Eis, Irmãos: não são a mesma coisa ser ímpio e ser piedoso, ser reto e viver no pecado, lutar para ser amigo do Senhor e viver como se Deus não existisse! Haverá sim, um juízo de Deus, juízo de vida e de morte! Por isso, permaneçamos firmes! Diante dos desafios da vida, diante das escuridões da existência, supliquemos continuamente, ao Senhor, como os Apóstolos hoje: “Aumenta a nossa fé!”Mesmo diante das tribulações, dos empecilhos, das “amoreiras”, isto é, das dificuldades da vida, não percamos a confiança: sabendo que o Senhor nos vê, nos socorre no tempo oportuno, nós teremos força para jogarmos ao mar todas as dificuldades e provações!

Por fim, o Senhor Jesus conta uma misteriosa parábola, que nos ajuda a compreender as demoras de Deus: o Senhor somente nos servirá o Banquete do Reino, Banquete do repouso, Banquete da recompensa, Banquete da Eucaristia eterna, na Glória do Céu, na plenitude do Reino, no final dos tempos! Até lá é trabalho, é luta, é perseverar, é persistir, é teimar, de esperança em esperança! Até lá, é lutar e ir dizendo: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos ter feito!” Habacuc Profeta teve que aprender isto, os Apóstolos tiveram que aprendê-lo; também nós temos que aprender a cada dia! Não duvidemos do Senhor, não duvidemos da Sua presença santíssima e atuante na nossa vida, não façamos como Israel em Massa e Meriba, que duvidou da presença do Senhor, perguntando de modo blasfemo: “O Senhor está ou não no meio de nós?” (Ex 17,7)
Nunca nos esqueçamos, nunca duvidemos: aconteça o que acontecer, o Senhor está conosco, está em nossa vida, está presente e atuante na Sua Igreja! Assim, valha-nos a exortação do Apóstolo a Timóteo, na segunda leitura deste hoje: Reaviva “a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos!” Para Timóteo, esse dom foi o episcopado; para cada batizado, esse dom é a unção crismal, que, no Sacramento da Confirmação, confere o Espírito não de timidez, de covardia, de descrença, mas “de fortaleza, de amor e sobriedade”, para bem viver, perseverar e testemunhar a fé!
Nestes tempos de covarde relativismo por parte de tantos fieis e tantos pastores da Igreja, mantenhamos firme a nossa santa fé católica, com toda a sua pureza, simplicidade e limpidez, fugindo dos raciocínios mundanos e capciosos: “Não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sofre pelo Evangelho, fortificado no Poder de Deus”, que é o Espírito Santo do Cristo!

Por fim, irmãos, no combate da fé, testemunhemos a nossa santa fé, sobretudo aos nossos filhos, às nossas crianças e jovens e a todos quantos procuram de verdade o Senhor Jesus Cristo nosso Deus: “Usa um compêndio das palavras sadias em matéria de fé e amor em Jesus Cristo! Guarda o precioso depósito”, o depósito da fé, da verdadeira e contínua e imaculada doutrina, “com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós!”

Eis, caríssimos meus!
É assim que vigiamos,
é assim que perseveramos,
é assim que combatemos,
é assim que esperamos,
é assim que testemunhamos,
é assim que haveremos de nos sentar à Mesa do Banquete do Reino e seremos servidos pelo próprio Senhor, quando chegar a hora (cf. Lc 12,37),
é assim que seremos justos diante do Senhor e haveremos de viver por nossa fé, por nossa fidelidade!
A Cristo que nos sustenta, pela força do Seu Espírito, a glória, a honra e o poder, hoje, na Igreja, e pelos séculos dos séculos. Amém.


Um comentário:

  1. Bom dia meus irmãos em Cristo Jesus... Obrigado Dom Henrique pelas palavras...bela homilia que nos faz fazer uma reflexão tão importante nos dias de hoje... parece que estamos vivendo os dias do profeta Habacuque.

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