Este, Sábado Santo, é um dia de silêncio.
A Igreja recorda, de modo reverente e adorante, a Descida do Salvador à Mansão dos Mortos, ao Sheol, como o chamavam os judeus.
Jesus não somente inclinou a cabeça e entregou o Espírito. Ele realmente morreu, isto é, entrou no estado de morte, de total passividade, de dissolução do seu ser: corpo e alma separaram-se:
o corpo, num estado de cadáver,
a Sua alma humana, na situação de todos os que morriam antes do Salvador nos abrir o Céu: alma presa na morte, separada misteriosamente do corpo, sem participar da plena comunhão com Deus, que é o nosso desejo e plenitude últimas.
O Sábado Santo deve ser feito de silêncio, de séria meditação.
Como pode a Vida morrer? Como pode o Senhor ser tragado pela morte?
Ele morreu realmente, como nós: morte que amedronta, que maltrata, que tem sempre gosto amargo...
Na morte, Ele foi nada, fez-Se solidário com nossa derrota, com nossa situação de exilados da Face de Deus! O Filho hoje desceu ao exílio do Sheol por solidariedade para conosco, exilados...
Por isso mesmo, o cristão sabe que não morre sozinho: morre com Cristo, morre da morte que Cristo morreu!
Mas, atenção: a morte de que estou falando não é simples morte física: é morte como distanciamento do Deus vivo e, por isso mesmo, ameaça do Nada, do Vazio, do Absurdo, do Inferno!
O Filho do Deus vivo experimentou isto por amor de nós!
O Sábado Santo nos aponta para o mistério da capacidade do homem de "matar Deus"!
Não é esta a tremenda realidade da nossa cultura atual? O homem está sistematicamente eliminando Deus do seu horizonte: dos seus amores, dos seus negócios, das suas instituições, das suas escolhas, da sua vida...
Como as tremendas e blasfemas palavras de Nietzsche: "Deus morreu; nós O matamos!" São tão reais nestes tempos sem Deus! Mas, quando o homem mata Deus, ele próprio morre, atolado numa existência besta, vazio, sem lá grande sentido!
Sábado Santo, de silêncio, pudor diante da Morte...
Sábado Santo da ameaça do escândalo! Como pode Deus, o Vivente, o Fiel, o Poderoso, deixar que o Seu Filho e Servo caísse assim nas garras da Morte? Por que não O socorreu? Por que não O defendeu? Por que calou-Se, de braços cruzados? Por acaso Ele é o Inexistente, o Impotente? Será Ele - o Santo, o que É - como os ídolos, que têm boca, mas não falam, têm olhos, mas não vêm, têm braços, mas não agem para salvar?
Por que Se cala quando mais Dele precisamos?
Por que não salva quando Lhe gritamos?
Por que permite que o mal triunfe,
que os tiranos e ímpios levem a melhor?
Silêncio! Nada de resposta!
Deus, o que Se cala quase sempre!
Calou-Se hoje: no Sábado, no túmulo, na Morte!
Sábado Santo, de esperança de Domingo, de certeza de que não permanecerá na Morte Quem Se confiou ao Deus Vivente!
Fica, neste Sábado, a promessa, o sussurro, a ameaça, a garantia: "Ó Morte, Eu serei a Tua morte! Ó Inferno, Eu serei o teu aguilhão!" (Liturgia do Sábado Santo, citando Os 13,14 na tradução da Vulgata)
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