1Sm 7,1-5.8b-12.14a.16
Sl 88
Rm 16,25-27
Lc 1,26-38
Eis! Estamos no último dos quatro
Domingos do santo Advento! Estamos já em plena Semana Santa do Natal, iniciada
no dia 17 de dezembro passado.
A Igreja, agora, é toda atenção,
toda contemplação do mistério da Encarnação, preparando-se para celebrar o
Natal do Senhor.
Sua vinda é a nossa salvação,
Sua chegada é o anúncio da
esperança a todos os povos, a toda a humanidade,
a anual celebração do Seu Natal
recorda-nos que nosso Deus não é de longe, mas de perto, de pertinho da humanidade
toda e de cada um de nós.
O Filho eterno de Pai fez-Se
homem para encher de Vida divina a nossa existência humana. É esta o Mistério
de que fala São Paulo na segunda leitura da Missa deste Domingo: “Mistério mantido em sigilo desde sempre.
Agora, este Mistério foi manifestado e conforme determinação do Deus eterno,
foi levado ao conhecimento de todas as nações, para trazê-las à obediência da
fé!”
Antes, parecia que Deus era Deus
somente de Israel, esquecendo os outros povos, a grande massa da humanidade.
Agora, não! Com a aproximação do Santo Natal, contemplamos a benevolência de
Deus para toda a humanidade: no segredo do Seu coração havia um amoroso e
misterioso projeto: salvar toda a humanidade pelo Fruto que haveria de vir da
raça de Israel, da tribo de Judá, da Casa de Davi.
Mas, atenção: aqui não há nada de
um sonho adocicado, de uma boa nova sem exigência de uma resposta generosa de
nossa parte: as nações e cada um de nós devemos abrir-nos à “obediência da fé”, isto é, à conversão
de toda a nossa vida ao Cristo-Deus que o Pai nos enviou! Em outras palavras:
Natal sem conversão não é Natal! Louvação ao Messias que vem sem o esforço da
conversão a Ele, é falsa louvação, que honra com os lábios e não com o coração!
O que nos deve encantar neste
Domingo, caríssimos, não é somente a grandiosidade desse Mistério, dessa
surpresa de um Deus que, desde sempre, preocupou-Se com todos, com toda a humanidade
e não só com Israel...
O que nos deve encantar é também o
modo como o Senhor realiza o Seu desígnio: Ele age no escondido da história
humana, no pequenininho de nossas vidas, nas humildes decisões de nossa
existência. Ah! Deus do dia a dia, é o nosso Deus; Deus das coisas pequenas,
das humildes sementes, dos acontecimentos corriqueiros!
Pensemos bem! Primeiro, o rei
Davi, humilde pastor de Belém, mais novo dos muitos filhos do velho Jessé. E
Deus o escolheu: para rei e para dele fazer uma dinastia da qual nasceria o
Santo Messias. Davi, que desejava humildemente construir uma Casa, um Templo
para o Senhor, fica sabendo que é Deus quem lhe construirá uma Casa, isto é,
uma Dinastia, uma descendência, da qual nascerá Aquele bendito Descendente que
enche de alegria o nosso coração: “O
Senhor te anuncia que te fará uma casa. Quando chegar o fim dos teus dias e
repousares com teus pais, então, suscitarei, depois de ti, um filho teu, e
confirmarei a sua realiza. Eu serei para ele um pai e ele será para Mim um
filho. Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de Mim, e teu
trono será firme para sempre!”
Eis a bondade do Senhor, que de
um simples pastorzinho fará nascer o Salvador, o Eterno Rei-Pastor, que reina
para sempre.
Depois, podemos pensar em José,
naquele que tinha recebido como prometida em casamento uma Virgem mocinha
chamada Maria... José, homem simples, moço de Deus. Membro pobre da família
real de Davi, simples artesão. Moço de Deus, que vivia na justiça do Senhor,
praticando a Lei do Deus de Israel. E o Senhor, misteriosamente o escolhe para
ser o esposo daquela na qual se cumprirá a palavra do Senhor.
Recordemo-nos do Evangelho
segundo São Mateus: “José, filho de Davi,
não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito
Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois Ele
salvará o Seu povo de seus pecados” (Mt 1,20-21). Pobre José! Bendito José!
Jamais esperaria tal coisa, tal gesto imprevisto do Santo de Israel! Ele, um
simples carpinteiro, cuidador, tutor, guardador, de um filho que não seria seu
filho! Ele escutaria, doravante, o Filho eterno do eterno Pai, chamá-lo de “pai”!
Finalmente, pensemos em Maria!
Aqui a surpresa de Deus chega ao
máximo! Uma jovenzinha pobre, uma virgem sem nome importante, perdida nas
montanhas do norte da Terra Santa, em Nazaré da Galiléia... E o Senhor Deus lhe
dirige a palavra, faz-lhe a mais estonteante proposta que um pobre filho de Eva
jamais escutara:
ser, virginalmente, a Mãe do
Messias, a Mãe do Filho de Deus, a Terra bendita e santa da qual brotaria a
Raiz de Jessé, o Rebento prometido;
ser a doce Aurora do Dia sem fim,
ser a Estrela d’Alva que prenuncia o Sol eterno!
“Alegra-te, Cheia de Graça! O Senhor é contigo, Virgem Maria! Não
tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus!”
São Bernardo de Claraval, no
século XII, imaginando este encontro inaudito, entre a Virgem e o Anjo, diz a
Nossa Senhora: “Ouviste, ó Virgem, que
vais conceber e dar à luz um filho, não por obra de homem, mas do Espírito
Santo. O Anjo espera tua resposta. Também nós, Senhora, miseravelmente
esmagados por uma sentença de condenação, esperamos tua palavra de
misericórdia. Eis que te é oferecido o preço de nossa salvação; se consentes,
seremos livres; com uma breve resposta tua seremos chamados à vida! Ó Virgem
cheia de bondade, o pobre Adão, expulso do paraíso com a sua mísera
descendência, implora a tua resposta; Abraão a implora, Davi a implora. Os
outros patriarcas, teus antepassados, que também habitam a região da sombra da
morte, suplicam esta resposta. O mundo inteiro a espera, prostrado a teus pés.
E não é sem razão, pois de tua palavra depende o alívio dos infelizes, a
redenção dos cativos, a liberdade dos condenados, enfim, a salvação de todos os
filhos de Adão, de toda a tua raça. Apressa-te, ó virgem, em dar a tua
resposta! Por que demoras? Por que hesitas? Crê, consente, recebe! Abre, Virgem
santa, teu coração à fé, teus lábios ao consentimento, teu seio ao Criador.
Levanta-te pela fé, corre pela entrega a Deus, abre pelo consentimento. ‘Eis
aqui a serva do Senhor, diz a Virgem; faça-se e mim segundo a tua palavra’!”
Eis, caríssimos, irmãos! Tão
grande plano de Deus, tão grande salvação, deu-se na simplicidade de vidas
humanas que foram dizendo sim ao Senhor, que foram se abrindo para Ele nas
pequenas e escondidas ocasiões da vida:
Maria, a Virgem, santa prometida
ao Carpinteiro,
José, o pobre descendente de
Davi,
Davi, o pastor que se tornou
rei...
E agora – ainda agora – o Senhor
vem e nos convida a nós – a mim e a você – a que abramos nossa vida, nosso
pequeno cotidiano, para a Sua presença.
Através de cada um de nós Ele
deseja continuar a obra de Sua salvação, a marca da Sua presença neste mundo
enfermo e cansado.
Virgem Maria, Mãe de Deus, São
José, esposo da Virgem, São Davi, rei e profeta, intercedei por nós, para que
sejamos dóceis e úteis instrumentos da salvação que Deus hoje quer revelar e
atuar no coração dos homens e do mundo. Que através de nossa pobre vida, vivida
com disponibilidade, o Senhor Jesus seja visto no nosso mundo tão confuso, tão
disperso, tão superficial e ameaçado por tantas trevas. Amém.
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