sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Homilia para o I Domingo do Advento - ano a

Is 2,1-5
Sl 121
Rm 13,11-14
Mt 24,37-44

Com esta santa Eucaristia, estamos iniciando um novo ano litúrgico.
É este o primeiro Domingo do Advento, o tempo de quatro semanas que nos prepara para a Vinda do Senhor, no Dia final da Sua santa Manifestação gloriosa, e para a celebração solene do Dia do Seu Natal segundo a carne, no tempo da nossa história, há dois mil anos.
Tudo, na Liturgia, nos ajudará nessa santa preparação, na santa espera, cheia de esperança:
o roxo significa a vigilância de quem aguarda com desejo, com santa ansiedade,
a moderação das flores ajuda-nos a concentrar nossa atenção Naquele que vem para salvar e tudo levar à Plenitude,
o “Glória” não cantado prepara-nos para cantá-lo como novidade na Noite Santa do Natal.
Os sentimentos do nosso coração devem ser a vigilância, a disponibilidade para acolher o Salvador que Se aproxima, a piedade humilde de Maria Virgem, de José, dos pastores, de Simeão, Zacarias e Isabel, o espírito de conversão anunciado por João Batista, o sonho de um mundo “cheio da sabedoria do Senhor como as águas enchem o mar” (Is 11,9), como Isaías profetizou... Aproveitemos essas quatro semanas tão doces, que recordam no memorial litúrgico a espera de Israel e da humanidade pelo Messias e que nos fazem celebrar já, no mistério litúrgico, a Vinda gloriosa do nosso Salvador como Juiz e Senhor de todas as coisas! Como canta a Liturgia: “Ao simples ecoar, do Vosso Nome eterno,/ joelhos vão dobrando/ o Céu, a terra, o inferno./ Um Dia voltareis,/ Juiz e Rei de tudo./ Oh! Dai-nos hoje a graça,/ na tentação escudo!”

Nos textos bíblicos que a Igreja hoje nos propõe, o Senhor sonda as angústias e saudades do coração humano e nos fala precisamente da esperança: Ele é o Deus que vem ao encontro dos nossos anseios mais profundos... Mas também nos exorta a vigiar, a que nos preparemos para acolher o Dom esperado. Aliás, é esta a miséria do mundo atual: busca a paz, procura a vida, mas não as busca Naquele que é a saciedade do nosso coração e a salvação da nossa existência. O homem tem sede e Deus, misericordiosamente envia-lhe a água, que é o Messias; e o nosso mundo não O reconhece; antes, renega-O!
Vejamos se não é assim; recordemos a palavra do Profeta: “Acontecerá nos últimos tempos que o Monte da Casa do Senhor estará firmemente estabelecido no ponto mais alto das montanhas. A ele acorrerão todas as nações, para lá irão povos numerosos.. porque de Sião provém a Lei e de Jerusalém, a Palavra do Senhor”. Compreendamos bem: de Israel, Deus prepara uma salvação, uma luz, uma direção para toda a humanidade. O homem sozinho não encontra o caminho, por mais que teime em se julgar grande e autossuficiente. À nossa pobreza, o Senhor vem com uma promessa tão grande. E, se o coração da humanidade acolher a salvação que vem, a luz que brilha, então, encontrará a paz: “Ele há de julgar as nações e arguir numerosos povos; estes transformarão suas espadas em arados e suas lanças em foices: não pegarão em armas uns contra os outros em não mais travarão combate”. Eis a promessa de Deus: dar-nos a salvação; eis o sonho do Senhor: encontrar uma humanidade que acolha o Salvador, dele bebendo a paz!

No nosso mundo, ferido, cansado, incerto, mundo que já não mais crê de verdade em nada, a promessa do Senhor é como um alento. Acreditemos, irmãos! Quão triste o mundo se os cristãos viverem sem esperança, sem certeza, sem ânimo, como os pagãos... Já nos tempos apostólicos, São Paulo exortava os cristãos a que não ficassem tristes “como os outros, que não têm esperança” (1Ts 4,13). Irmãos meus, em Cristo, temos esperança, em Cristo, sabemos para onde vamos, em Cristo, esperamos com serena e profunda certeza que o Senhor vem e nos salva!
Este Tempo do sagrado Advento quer levantar nosso ânimo: o Senhor, cujo Natal celebraremos dentro de quatro semanas, é o mesmo que virá um Dia, na Sua Manifestação gloriosa! Nossa vida tem rumo e sentido! Vigiemos: “Vós sabeis em que tempo estamos! Já é hora de despertar. Agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé. A noite deste mundo já vai adiantada, o Dia vem chegando” – o Dia é Cristo, Salvação que Deus nos prometeu e nos preparou! Então: “Despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz. Procedamos honestamente, como em pleno dia” – como quem vive já agora, durante a noite deste mundo, no Dia, que é Cristo-Deus: “nada de glutonerias e bebedeiras, nem de orgias sexuais e imoralidades, nem de brigas e rivalidades. Pelo contrário: revesti-vos do Senhor Jesus”. Eis o modo de vigiar na noite deste mundo, eis o modo de testemunhar que esperamos, na vigilância, o Salvador que nos foi prometido e virá como nosso Juiz para levar à plenitude a Salvação iniciada com a Sua piedosa Vinda na nossa carne. É oportuno recordar que este texto da Carta aos Romanos foi o que provocou a conversão de Santo Agostinho, lá no distante século V. A Palavra de Deus é sempre um apelo gritante e forte para nós! Que ela nos converta também agora, neste tempo que se chama hoje!!

A grande tentação para os discípulos de Cristo, atualmente, é conformar-se com o marasmo do pecado do mundo, é viver burguesamente, uma vida cômoda e sem uma fé verdadeira e operante, sem aquela atitude de alegre expectativa por aquilo que o Senhor nos prometeu. Vamos nos ocupando e distraindo com uma vida fútil, dispersa em mil bobagens, esquecendo daquilo que realmente importa; vamos tomando como parâmetro o mundo e seus critérios, medidas e valores; vamos confundindo a Lei de Cristo com o politicamente correto, desatentos às Escrituras Santas! 
Vale para nós a advertência seríssima do Senhor Jesus: “A Vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé”: Naquele então, todos vivam tranquilamente: “comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até que Noé entrou na arca e eles nada perceberam...” Como agora: vive-se na farra do paganismo, do consumismo, do relaxamento moral, de tantos absurdos contrários ao Evangelho, ao gosto do mundo, e não percebemos que haverá um Juízo decisivo de Deus para nós e para o mundo, um Juízo no qual o bem e o mal, o santo e o pecador, serão separados: “um será levado e o outro será deixado”... Triste de quem for deixado, triste de quem perder a companhia do Senhor, nossa paz! Pois bem: logo neste iniciozinho de Advento, a advertência do Senhor é dramática: “Ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor! Na hora em que menos pensais, o Filho do homem virá!”

Então, enquanto o mundo dorme no seu pecado, na sua autossatisfação e autojustificativas, elevemos, humildemente nosso olhar e nosso coração para Aquele que vem: “A vós, meu Deus, elevo a minha alma. Confio em vós, que eu não seja envergonhado! Não se riam de mim meus inimigos, pois não será desiludido quem em Vós espera!” – “‘Sim, Eu venho em breve!’ Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22,20)


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