Hoje, no Evangelho, escutamos umas frases de Jesus que
nos são velhas conhecidas, tão velhas, que correm o risco de não significarem
muita coisa: “Vós sois o sal da terra;
vós sois a luz do mundo” – diz-nos o Senhor! Pois bem, com unção e
humildade, como se escutássemos pela primeira vez, ouçamos, procuremos
compreender e acolhamos essas afirmações, para encontrarmos nelas a Vida e
vivermos de verdade!
“Vós sois o
sal da terra!” O sal, na Escritura,
aparece como o elemento que dá sabor, purifica e conserva, tornando perenes e
duradouros os alimentos... Daí a expressão “aliança de sal”, isto é, “uma aliança perene aos olhos do Senhor” (Nm
18,19). Por causa dessa pureza e perenidade, é que Israel deveria ajuntar o
sal a toda oferta que fizesse ao Senhor Deus: “Salgarás toda a oblação que ofereceres, e não deixarás de pôr na tua
oblação sal da aliança de teu Deus; a toda a oferenda juntarás uma oferenda de
sal a teu Deus” (Lv 2,13). Pois bem, irmãos caríssimos, vós sois o sal que
dá sabor, pureza e conservação ao mundo diante de Deus! Sois a pitadinha de sal
que torna o mundo uma oferenda agradável e aceitável ao Senhor! Sois tão
pequenos, tão poucos, tão frágeis, tão impotentes, tão tolos; sois e sereis
sempre “pequeno rebanho” (Lc 12,32)!
Lembrai-vos da palavra da Escritura santa: “Entre
vós não há muitos sábios de sabedoria humana nem muitos poderosos nem muitos
nobres... Deus escolheu o que o mundo considera como estúpido, para assim
confundir o que é forte; Deus escolheu o que o mundo considera sem importância
e desprezado, o que não tem nenhuma serventia, para, assim, mostrar a
inutilidade do que é considerado importante... É graças a Ele que vós sois em
Cristo..” (1Cor 1,26-31). Sim, sois essa pitadinha de nada, esse tico
desprezível de sal. E, no entanto, sois o sabor, a purificação, a conservação
da aliança entre Deus e o mundo! Sois, em Cristo Jesus, o povo sacerdotal! E o
sois por graça, graça de Deus: “É graças
a Ele que vós sois em Cristo!” Graças a Ele que em Cristo vos chamou, sois
cristãos! Nunca esqueçais: ninguém nasce cristão, ninguém nasce na plenitude da
adoção filial! É por graça de Deus, por pura graça que sois de Cristo, sois em
Cristo, Nele incorporados pelo Batismo e a Eucaristia – sois cristãos! Não
merecíeis, não fizestes nada para ter mérito nesta graça imensa: ser cristão!
Por isso, a nós, o Senhor ordena: “Tende
sal em vós mesmos” (Mc 9,50); em outras palavras: uni-vos a Mim, ao Meu
sacerdócio, à Minha vida entregue ao Pai como amor que se entrega para a vida
do mundo! Lembremo-nos do conselho de São Paulo: “Exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que
ofereçais vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: esse é
o vosso culto espiritual. E não vos conformeis com este mundo, mas
transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a
vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito” (Rm 12,1-2). Era este o
significado daquela pitadinha de sal que o sacerdote colocou nos nossos lábios
no momento do nosso Batismo, quando nos tornamos membros do Povo da aliança,
povo sacerdotal, que é a Igreja. Colocando-nos o sal, ele recordou as palavras
de Jesus: “Vós sois o sal da terra!”
No entanto, não nos iludamos: somente seremos sal, se permanecermos unidos a
Cristo! Sem Ele, seremos insípidos, seremos como o mundo, sem sabor e para nada
serviremos, “senão para sermos jogados
fora e pisados pelos homens”.
“Vós sois a
luz do mundo!” – Que afirmação
impressionante! Um só é a luz: Aquele que disse de Si próprio: “Eu sou a luz do mundo!” (Jo 8,12). Como
pode, então, dizer agora que nós somos luz? Escutemos: “Eu sou a luz do mundo; quem Me segue não andará nas trevas, mas terá a
luz da vida!” (Jo 8,12). Eis: se em Cristo – e somente Nele – somos sal da
aliança selada na cruz, também somente na Sua luz, seguindo Seus passos,
tornamo-nos luz. É isso que nos afirma o Apóstolo: “Outrora éreis treva! Agora, sois luz no Senhor! Andai como filhos da
luz!” (Ef 5,8). Por nós mesmos não somos sal, mas insípidos; por nós mesmos
não somos luz, mas trevas tenebrosas! Mas, em Cristo, damos sabor ao mundo e
somos reflexos da luz do Senhor! Não somos luz, mas iluminados pela luz de
Cristo, refletiremos a luz sobre o mundo tenebroso, como a lua que, sem ter luz
própria, mas iluminada pela luz do sol, ilumina de modo belíssimo a noite escura;
e isto vale para cada um de nós, isto vale para a Igreja inteira!
Portanto, meus caros, tenhamos cuidado: somente
seremos sal se nos deixarmos salgar pelo Senhor no cadinho da provação e da
participação na Sua cruz; somente seremos luz se nos deixarmos iluminar pela
luz fulgurante que brota da Sua cruz! Que o cristão não busque outro sal ou
outra luz, a não ser o Cristo e Cristo na Sua humildade, na Sua pobreza, no Seu
serviço, na Sua disponibilidade total em relação ao Pai: “Não julguei saber coisa alguma entre vós, a não ser Jesus Cristo, e
Este, crucificado!” Aquilo que passa da cruz do Senhor, que foge da cruz do
Senhor, que procura outro caminho e outra lógica, que não a da cruz que conduz
à ressurreição, não salga e não ilumina! Então, que brilhe a luz de Cristo em
nossa vida e em nossas obras! Que o nosso modo de viver dê novo sabor a este
mundo tão insosso pelo pecado – vede no mundo atual, com seu modo de pensar, de
agir, de viver: quanta treva, quanta insipidez, quanto velho gosto da velha podridão
do velho pecado! Se no nosso modo de viver formos sal e luz, cumprir-se-á em
nós a palavra do Profeta: “Então,
brilhará tua luz como a aurora e a glória do Senhor te seguirá!”
Eis a nossa missão, eis a nossa vocação, eis a ordem
que o Senhor nos dá! Agora, compete a nós! Como nos perguntava Paul Claudel,
poeta francês, convertido a Cristo na metade do século XX: “Ó vós, cristãos,
que tendes a luz, que fazeis com essa luz?” Ó irmãos, ó irmãs! “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para
que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus!” Que
o Senhor no-lo conceda por Sua graça. Amém!
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