quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

V Domingo Comum: 1Cor 15 (Parte II)

O Evangelho de Paulo é o Evangelho da Igreja. O Evangelho não é propriedade de ninguém, particularmente: nem de Pedro, nem de Paulo, nem dos Doze, nem do Papa, nem dos Bispos, nem de grupo algum!
O Evangelho de Cristo foi confiado à Igreja inteira na potência do Santo Espírito. E, na Igreja, cada um, de acordo com seu carisma e ministério, tem sua responsabilidade própria de manter a integridade da fé católica e apostólica, que nos dá esse Evangelho da graça, que é fonte de salvação.

Por isso, o Apóstolo afirma: “Transmiti-vos aquilo que eu mesmo recebi”. Eis: não é invenção dele, não pode ser adulterado! O tesouro do Evangelho da salvação deve ser acolhido, guardado no coração e na vida da Igreja e anunciado ao mundo para que este se converta e, convertendo-se, seja salvo!

Mas, qual é o Evangelho da salvação? São Paulo no-lo apresenta no seu núcleo essencial, que contém todo o mais:
“Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”. Eis o núcleo: o Filho eterno do Pai, por nós feito homem, morreu por nós, para a nossa salvação!
Sem acolher que Cristo morreu por nós, para a remissão dos nossos pecados, não há salvação! Absolutamente, é necessário crer em Jesus, Cristo do Pai, e acolher o anúncio de que Ele morreu para que tenhamos Nele o perdão dos nossos pecados! O homem precisa do perdão do Senhor; e ele nos vem pela morte de Cristo.

Mas não basta dizer que Cristo morreu na Cruz! É preciso proclamar que Ele realmente entrou na morte: esteve na situação de morte, de cadáver, experimentou as dores do Sheol: foi sepultado, foi engolido pela morte! Desceu ao vale da morte, aquela morte que todos nós experimentamos, morte de pecado! Ele, que não tem pecado, morreu e entrou na morte feia, morte ameaçadora, morte de pecado! É este o mistério, a tremenda realidade que a Igreja celebra liturgicamente no Sábado Santo.

E venceu a morte: Ressuscitou, segundo as Escrituras! Cristo entrou na morte, mergulhou na morte e atravessou o mar da morte: Ele entrou no Pai, na Vida do Pai, na Glória do Pai; Ele ressuscitou!
Esta é a nossa esperança, este é o alicerce da fé cristã, este é o motivo pelo qual colocamos em Cristo toda a nossa certeza!

O credo da Igreja, o seu Evangelho, também afirma com toda a convicção que tudo isto ocorreu para que se cumprissem as Escrituras de Israel. Sim: Cristo morreu, foi sepultado e ressuscitou como realização da fidelidade invencível do Deus de Israel às Suas promessas, ao Seu desígnio de salvar toda a humanidade! É muito importante compreender que este “segundo as Escrituras” mais que se referir a um determinado texto isolado, refere-se a todas as Escrituras.
Vejamos: todas as Escrituras são caminho para Cristo, dão testemunho de Cristo, preparam para Cristo. E o que elas dizem o tempo todo, em cada palavra, em cada narrativa, em cada oração?
Que Deus nos ama, que o Senhor salvaria o Seu Povo e toda a humanidade, que enviaria o Seu Messias.
Todo o tempo as Escrituras dão testemunho do justos que sofrem confiando no Senhor, as Escrituras apresentam o sofrimento do justo como instrumento de redenção;
continuamente as Escrituras mostram Deus libertando os Seus da morte, do Sheol, das garras da escuridão da morte…
Tudo isto se cumpre em Cristo, em Cristo alcança seu ponto culminante, paradoxal, dramático, definitivo! Em Cristo, o Maligno mostrou toda a sua escura perversão, em Cristo, as trevas mostraram sua força tremendamente assustadora, em Cristo, o Maligno foi enfrentado e derrotado, em Cristo, a Vida, a graça, a Glória, a fidelidade invencível e potente de Deus revelou toda a sua força de salvação! Em Cristo, todas as Escrituras foram cumpridas para sempre! Deus, no Seu Filho morto e ressuscitado, disse-nos o Seu sim definitivo!

A Páscoa de Paixão, Morte e Ressurreição do Cristo Jesus é o centro da nossa fé! Jesus, feito Senhor e Cristo na Sua Ressurreição, por iniciativa gratuita e potente do Pai na força operante do Espírito Santo, é a razão de toda a nossa esperança!
Por isso mesmo, jamais o mistério pascal pode ser deixado de lado ou tirado do olhar da Igreja! Isto é tão forte, que o Apóstolo invoca testemunhas: apareceu a Cefas, a Pedra. Pedro, não simplesmente Simão! Pedro, a Pedra, deverá sempre testemunhar na Igreja a força pascal da Ressurreição do Senhor, o Cristo, o Filho do Deus vivo! Se não fizer isto, será infiel à sua missão! Toda vez que Pedro acolher a lógica pascal da Cruz e Ressurreição, colocando Cristo no centro, ele será “pedra da Igreja”; mas, toda vez que pensar segundo o mundo, será, na Igreja e para sofrimento e escândalo na Igreja, “pedra de tropeço” (cf. Mt 16,17s.23)
Mas, não é nunca Pedro sozinho, isolado! Pedro como membro e cabeça do grupo dos Doze. O Senhor também apareceu aos Doze! Eis as primeiras testemunhas autorizadas, isto é, com autoridade. Esses, primeiramente, têm o dever sagrado de testemunhar a fé no Cordeiro imolado e ressuscitado.

Mas, não só estes: apareceu também a mais de quinhentos irmãos de uma vez! Os fieis todos têm o dever e o direito de propagar e defender a fé católica e apostólica no Cristo Senhor! Se o Papa é sucessor de Pedro, se os Bispos são sucessores dos Apóstolos, os fieis leigos de hoje, de cada geração, são sucessores da Igreja apostólica, dos leigos daquele tempo inicial, dos que viram o Senhor ressuscitado!

O fato de São Paulo chamar atenção para as testemunhas do Ressuscitado, que foram encontrados por Ele e viram-No, recorda-nos de modo gritante que nossa fé não se funda em ideias, em carta de princípios ou intenções, em verdades abstratas, em opções ideológicas, mas num fato, num evento: Cristo Jesus, feito homem, morto e ressuscitado! É no amor a Cristo, na escuta fiel e crente das Sua Palavra, na união com Ele nos sacramentos, na vida de amor fraterno na comunidade dos cristãos, que é a Igreja, é aí que nossa fé se concretiza, é fecunda, verdadeira, viva e pode ser guardada e testemunhada.


Um comentário:

  1. Gratidao por essa homilia.. muito rica .. é preciso que cada vez mais peçamos a Deus pela conversão de todos, pois nos dias de hoje , as pessoas infelizmente se afastando... Peço ao Senhor Deus que me capacite para levar a Palavra atraves de minhas ações. Obrigada de novo .. Deus o abençoe sempre.

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