Caros Irmãos, na disciplina litúrgica da Igreja, o
Domingo, memória solene da Ressurreição do Senhor nosso Jesus Cristo, tem
precedência sobreas festas dos santos. Mas, quando uma festa do Senhor ocorre
no Domingo, ela é celebrada. É o caso deste hoje: 2 de fevereiro é Festa da
Apresentação do Senhor no Templo. Exatos quarenta dias após o santo Natal, a
Igreja, nova Jerusalém, faz memória solene da vinda do Salvador ao seu
encontro. A liturgia de hoje prevê uma procissão com velas, recordando a Igreja
que, como virgem prudente, recebe o seu Esposo, Luz para iluminar as nações.
Como diz a própria Liturgia, “hoje chegou o dia em que Jesus foi apresentado ao
Templo por Maria e José. Conformava-Se à Lei do Antigo Testamento, mas na
realidade, vinha ao encontro do Seu povo fiel”. É este povo, a Igreja santa,
que hoje, com lâmpadas, acolhe o seu Senhor, que é Luz, e chega nos braços da
Senhora da Luz, Senhora das Candeias, Senhora da Candelária, Senhora da
Purificação... São os títulos que a devoção popular dá, com razão, à Virgem
Santíssima pelo mistério da Festa de hoje.
Notai, caríssimos em Cristo, que se trata de uma
celebração ainda ligada ao Natal – na verdade é a última das festas ligadas ao
ciclo do Tempo do Natal, ainda que ocorra no início do Tempo Comum. Mas, o que
celebramos, precisamente?
Primeiramente, o Encontro – Festa do Encontro, a de
hoje! – do Messias Filho de Davi com a Sua Cidade Santa e o Seu Templo. Quantas
vezes os profetas haviam anunciado que Jerusalém haveria de alegrar-se pela
vinda do Enviado Salvador: “Dança de
alegria, filha de Sião, dá vivas, filha de Jerusalém, pois agora o teu rei está
chegando, justo e vitorioso” (Zc 9,9); “Grita de alegria, filha de Sião! Canta,
Israel! Filha de Jerusalém fica contente, de todo o coração, dá gritos de
alegria! O Senhor aboliu a sentença contra ti, afastou teus inimigos. O rei de
Israel é o Senhor, que está em teu meio; não precisarás mais ter medo de alguma
desgraça. Naquele dia, Deus dirá a Jerusalém: ‘Não tenhas medo, Sião! Não te
acovardes!’” (Sf 3,14-16).
Pois bem, ei-Lo agora, realizando a promessa do Senhor
Deus e a esperança de Israel. Jesus-Messias vem à Cidade Santa e ao Templo,
cumprindo quanto Israel tanto sonhou: “Assim
diz o Senhor: ‘Logo chegará ao Seu templo o Dominador, que tentais encontrar, e
o Anjo da Aliança, que desejais. Ei-Lo que vem, diz o Senhor dos exércitos; e
quem poderá fazer-Lhe frente, no dia de Sua chegada? E quem poderá
resistir-Lhe, quando Ele aparecer? Ele é como o fogo da forja e como a barrela
dos lavadeiros; e estará a postos, como para fazer derreter e purificar a
prata: assim Ele purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como
prata, e eles poderão assim fazer oferendas justas ao Senhor. Será então
aceitável ao Senhor a oblação de Judá e de Jerusalém, como nos primeiros tempos
e nos anos antigos’” (Ml 3,1-4). Por isso as palavras emocionadas,
exultantes, agradecidas do Velho Simeão, que representa hoje todo o Antigo
Israel: “Agora, Senhor, conforme a Tua
promessa, podes deixar Teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a Tua
salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações
e glória do Teu povo Israel” (Lc 2,29-32).
Um segundo sentido, Irmãos, nascido das próprias
palavras de Simeão, que profetizou pensando no Servo Sofredor do Livro de
Isaías: esse Menino é glória para o Antigo Israel e Luz para iluminar todas as
nações da terra! Sim, Ele é o Servo Sofredor, humilde e pobre, anunciado por
Isaías Profeta: “Ele disse: ‘É bem pouco
seres o Meu servo só para restaurar as tribos de Jacó, só para trazer de volta
os israelitas que escaparam, quero fazer de Ti uma luz para as nações, para que
a Minha salvação chegue até os confins do mundo’” (Is 49,6). Eis por que
nós, Novo Israel, Igreja de Cristo, Jerusalém do Alto, Cidade dos cristãos,
devemos fazer nossas as esperanças e as alegrias do Antigo Israel e exultar
hoje com a vinda do santo Messias! Que Ele encontre sempre Sua Igreja e o
coração de cada um de nós abertos para reconhecê-Lo e acolhê-Lo! Conforme as
palavras de Simeão, Ele é Luz para iluminar as nações. Por isso, a Missa começa
com uma procissão com velas: eis o Menino-Luz que veio iluminar o mundo
inteiro!
Há ainda um terceiro aspecto nesta Festa de hoje: As
velas acesas que trazemos nas mãos na procissão que introduz a Missa têm ainda
um ulterior significado: a Igreja, Jerusalém da Nova Aliança, recebe como
Virgem fiel o seu Esposo-Luz, que é Jesus. Como as virgens prudentes da
parábola, a Igreja mantém a luz da sua fé, do seu amor e da sua esperança em
meio às trevas deste mundo, das tantas lutas, combates e incertezas! “Eis o
Noivo que chega! Saiamos ao encontro de Cristo!” Ele vem vindo sempre e nós
devemos saber reconhecê-Lo e acolhê-Lo! Para isso, é essencial vigiar nas
noites da vida!
Devemos ainda estar atentos a um último mistério desta
Festa: a Virgem Maria. Ela traz nos seus braços seus filho único, seu Menino
que é Luz. Vem para ofertá-lo ao Senhor. Como a pobre viúva, ela dá tudo a Deus
– esse tudo, que é seu único e amado filhinho! Ela é a Virgem oferente, mais
que nosso pai Abraão, que ofereceu Isaac. Por que se pode afirmar isto? Porque
Deus poupou o filho de Abraão, o Isaac que seria oferecido em sacrifício; mas
não poupou o filho de Maria! Simeão a previne: “A oferta foi aceita! Uma
espada, Virgem Maria, traspassará teu coração! Chegará a hora da cruz e tu
estarás lá, consumando a oferenda do teu único filho, Daquele que é tudo para
ti! Maria aqui, torna-se modelo de total entrega ao Senhor Deus, de total
pobreza e desapego! Mais ainda: observe que Simeão anuncia dor da Virgem como participação na obra da
nossa salvação! Para que fôssemos salvos, para que o universo chegasse à
plenitude, para que fôssemos salvos da morte eterna, o filho da Virgem teve que
Se tornar sinal de contradição, até à cruz... E isto envolveu uma espada
duramente traspassada no coração materno da Toda Santa! O ensinamento da
Escritura é claro: não se pode pensar a salvação sem contemplar o papel
singularíssimo que a Virgem nela ocupa!
Irmãos, vamos nós também, com a lâmpada da fé, do amor
e da esperança, ao encontro do Esposo que vem! Vamos ao encontro do Santo Messias
nascido todo para nós com o mesmo ânimo de José e Maria, que apresentando seu
filhinho ao Senhor Deus de Israel, deu-Lhe o que tinham de mais valioso! Que
o Senhor aceite a nossa oferta, unida ao
pão e ao vinho eucarísticos, que são o próprio Jesus oferecido em sacrifício e
recebido em comunhão!
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