Mais um dia rumo à Páscoa... Continuemos seguindo o Servo Sofredor, ainda no segunda cântico de Isaías Profeta:
“Mas, Eu disse: ‘Foi em vão que Me fatiguei,
Debalde, inutilmente, gastei as Minhas forças’.
E, no entanto, Meu direito está com o Senhor,
Meu salário está com o Meu Deus!” (Is 49,4).
Palavras impressionantes! O Servo entra em crise! Sua missão é árdua e Ele Se sente fracassado: tudo parece inútil, tudo parece perdido.
E, no entanto, contra toda esperança, Ele espera no Senhor Deus; contra toda lógica, Ele coloca no Senhor a Sua recompensa.
Assim, vai aparecendo que o Servo não cumprirá Sua missão sem passar pelo sofrimento e a aparente derrota!
“Mas agora disse o Senhor,
Aquele que Me modelou desde o ventre materno para ser Seu Servo,
Para reconduzir Jacó a Ele,
Para que a Ele se reúna Israel;
Assim serei glorificado aos olhos do Senhor,
Meu Deus será a Minha força!
Sim, Ele Me disse: ‘Pouca coisa é que sejas o Meu Servo
Para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os sobreviventes de Israel.
Também Te estabeleci como luz da nações,
A fim de que a Minha salvação chegue até as extremidades da terra’” (Is 49,5-6).
Note como o Servo vai narrando o diálogo que o Senhor Deus tem com Ele. Depois que o Servo apresentou ao Deus Santo Sua queixa, Seu cansaço, Sua terrível sensação de trabalhar por nada, de gastar a vida a toa, num vazio desolador, o Senhor O confirma na missão e lhe revela um horizonte largo, tão largo quanto o mundo!
Releia o texto e responda:
Quem é o Servo: todo o povo de Israel ou um personagem individual?
Observe que o Servo é Israel todo e também um personagem misterioso que o personifica, o concentra, dá-lhe sentido último. Já falei sobre isto numa das últimas meditações do nosso retiro.
Recoloco aqui o que apresentei antes: o próprio Cristo é a personificação de todo o povo de Israel, de modo que Israel se realiza, se cumpre, chega à sua plenitude em Cristo Jesus. Dou-lhe quatro exemplos dessa misteriosa realidade:
1. O filho chamado do Egito – referindo-se a Israel, quando era escravo no Egito e foi trazido pelo Senhor Deus para a Terra Santa, o profeta Oséias diz, em nome do Senhor: “Quando Israel era menino, Eu o amei e do Egito chamei Meu filho” (Os 11,1).
Ora, o Evangelho Segundo Mateus, narrando a volta de Jesus Menino do Egito, afirma que isto aconteceu “para que se cumprisse o que dissera o Senhor por meio do profeta: ‘Do Egito chamei o Meu Filho’” (Mt 2,15).
Em outras palavras: Jesus é o verdadeiro Israel, Israel se cumpre, se realiza, encontra o seu sentido último em Jesus, o Salvador de todos os povos! Tudo quanto aconteceu com Israel era já mistério de Cristo!
2. A vinha amada – Em várias passagens do Antigo Testamento Israel é comparado a uma vinha amada por Deus: “A vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são Sua plantação preciosa” (cf. Is 5,1-7; Ez 15,1-8; Sl 80,9-19). Pois bem, no Evangelho Jesus afirma de modo surpreendente: “Eu sou a verdadeira videira!” (Jo 15,1).
Em outras palavras: não que Israel seja uma videira falsa, mas Israel é uma videira provisória. É Jesus a videira definitiva! A primeira era apenas imagem da segunda! Tudo quanto aconteceu a primeira preparava a segunda!
3. O servo sofredor – Na profecia de Isaías aparece a misteriosa e impressionante figura do Servo sofredor, que ora é o povo todo, ora é alguém que morrerá pelo povo (cf. Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-11; 52,13 – 53,12).
Este Servo que personifica todo o povo de Israel e o redime é Jesus nosso Senhor, que dá a vida por toda a humanidade e vem a ser luz da nações para que a salvação chegue até os confins da terra (cf. Mt 12,18-21; 11,1-9; Mt 3,16-17; Lc 2,32; Mt 8,17; 1Pd 2,24-25; At 8,32-33; Mt 27,38; Mc 15,28, etc).
4. O ressuscitado ao terceiro dia – Depois das provações do Exílio, que serão como uma morte, Deus promete ressuscitar o Seu povo: “Ele nos despedaçou, Ele nos curará; Ele feriu, Ele nos ligará a ferida. Depois de dois dias nos fará reviver, no terceiro dia nos levantará” (Os 6,1-2). Essa morte e ressurreição de Israel cumpriu-se na própria morte e ressurreição do Senhor, ressuscitado ao terceiro dia “conforme as Escrituras”.
Vamos adiante. “Assim serei glorificado aos olhos do Senhor!” Não tem jeito: mesmo com todo o sofrimento, com toda a dificuldade, com toda a tentação de desânimo, a glória do Servo está em ser fiel até o fim, em realizar a vontade do Senhor Deus... Como diz o Autor da Carta aos Hebreus, Ele terá de aprender a obedecer pelo sofrimento e somente assim tornar-se-á perfeito na glorificação que o Pai lhe dará (cf. Hb 5,8-9). Mas, esse Servo bendito não precisa ter medo: o Senhor Deus, que é fidelíssimo, estará com Ele, será a Sua força e o Seu amparo. O Servo deverá aprender a confiar no Eterno, a colocar Seu arrimo no Deus Santo de Israel!
Finalmente, o Santo revela ao Seu Servo toda a grandeza da Sua missão: Ele será o Salvador de Israel, mas isto ainda é pouco! Agora cumprir-se-á, naquele Servo humilhado e frágil, a promessa feita a Abraão: “Todas as nações da terra serão abençoadas em ti!” Sim: é pouco que o Servo resgate Israel do seu pecado! Ele será feito pelo Deus de Israel luz das nações, de modo que a salvação do Senhor chegue até os confins da terra. O Deus de Israel será conhecido por todos os povos, graças ao sofrimento do Seu Servo! Profecia impressionante, repetida pelo Velho Simeão: “Meus olhos viram a Tua salvação, Senhor: luz para iluminar as nações e glória do Teu povo, Israel!” (Lc 2,32). Eis, que mistério: a glória de Israel não está em fechar-se em si mesmo, mas em acolher o Messias-Servo e fazê-Lo conhecido de todos os povos! Israel não foi chamado por Deus para si mesmo, mas para ser ministro da salvação de todos os povos! Foi isto que o antigo povo não compreendeu...
Reze o Sl 34/35
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