Na Antiguidade, quando nasceu o cristianismo, vivíamos
num mundo hostil:
Por um lado, os judeus, que nos tinham como hereges,
perseguiam-nos e, nas suas dezoito bênçãos, nos amaldiçoavam: "Que não
haja esperança para os apóstatas e que o reino do orgulho seja prontamente
erradicado em nossos dias; os Nazarenos e os hereges morram subitamente, e
sejam cancelados do livro dos vivos e não sejam contados no número dos justos.
Bendito sejas Tu, ó Senhor, que abaixas os orgulhosos!"
Por outro lado, os pagãos, que nos acusavam de ateus,
inimigos do Estado e da sociedade, depravados e molestadores de crianças...
Éramos minoria e tínhamos forte convicção de sermos
estrangeiros e peregrinos neste mundo.
Não nos lamentávamos por isso, pois tínhamos firme a
esperança e o desejo da Parusia do Senhor, da Sua Manifestação gloriosa que
traria o Juízo e plenitude da salvação para os eleitos de Deus em Cristo.
Seria, pois, a plenitude da obra salvífica iniciada com a Sua piedosa Vinda em
nossa carne mortal...
Era comum, na Liturgia, ouvir-se a exclamação: Maran
atha! Vem, Senhor! Ou Maranatha! O Senhor vem!
O tempo passou...
Constantino deu liberdade de culto aos cristãos....
Teodósio fez do cristianismo a religião oficial do
Império Romano e ser cristão tornou- se moda...
Clóvis, Rei dos francos, recebeu o Batismo, abrindo as
portas para a conversão em massa dos bárbaros ocidentais...
Carlos Magno tornou seu Império cristão: o Sacro
Império Romano Germânico...
Nascia a cristandade: ser europeu, ser ocidental e ser
cristão foram-se tornando sinônimos, algo natural, dado por descontado...
Os cristãos foram se sentindo sempre mais à vontade
neste mundo, foram perdendo a expectativa, a ânsia pela Vinda gloriosa do
Senhor... Fomos nos tornando protagonistas, sedentos sempre de dar a palavra
final sobre os grandes temas... Sentíamo-nos - e nos sentimos ainda em grande
parte - responsáveis pelos destinos do Ocidente! no fundo no fundo, como os
romanos chamavam o Mar Mediterrâneo de "Mare Nostrum" (Nosso Mar), um
pouquinho nós pensávamos - e muitos ainda pensam - no "Nosso
Ocidente" e até o confundimos com o "Nosso Mundo"...
Numa situação assim, em que todos parecem cristãos,
mas sem real conversão pesssoal, é tão perigoso achar que o pensamento e todos,
canonizado pela sociedade, ou mesmo da maioria, é o pensamento do cristão... E
não é!
Entre nós e Cristo haverá sempre o mistério da pobreza
da Sua Encarnação, o doloroso escândalo da Sua Cruz, o Seu incômodo e
antipático e exigente convite à conversão!
Somente aí, neste ponto de crise do nosso coração
teimoso que encontra o Coração de Cristo, começa o verdadeiro cristianismo.
Somente aí a Igreja pode se colocar e viver... É preciso recordar que, enquanto
a história fluir como um rio, rumo ao mar da Eternidade, a Igreja será sempre
neste mundo, mas nunca poderá ser deste mundo!
Hoje, o Senhor da História, o Alfa e Ômega da nossa
vida e da vida do mundo, dá-nos novamente a graça de sermos minoria - e minoria
perseguida ou, ao menos, ignorada ou antipatizada...
Hoje, mais uma vez, ser cristão exige conversão
contínua, exige romper com o mundo, exige uma adesão clara ao Senhor! Não dá
mais para se dizer cristão, para se pensar realmente católico pensando,
falando, vivendo e agindo segundo os cânones imperantes na sociedade atual!
Ainda há muitos de nós que vivem a ilusão de um mundo
todo cristão ou que o mundo nos vê com simpatia....
Esquecem-se esses da exigência da conversão, fazem de
conta de que no meio do caminho não há a pobreza de Belém e o escândalo da
Cruz, que o homem não é quebrado pelo pecado...
Na verdade, têm uma saudade louca de uma cristandade
que nunca mais voltará, graças a Deus! Seremos sempre mais minoria: pobre, sem
poder político, sem grandes influências no mundo... Mas com profunda identidade
radicalmente firmada em Cristo Jesus e com serena e doce capacidade de diálogo,
mas sem em nada ceder na Verdade de Cristo e no Seu amor exigente...
Eis o nosso futuro: seremos a Igreja das pequenas
comunidades espalhadas por toda a terra "estrangeiros da Diáspora"
(cf. 1Pd 1,1); mas Igreja convicta, serena e profundamente ciosa da sua
identidade radicada em Cristo: Igreja dos diferentes na diferença de Cristo,
que nos separou do mundo. Por outro lado, deveremos sempre ser a Igreja do
diálogo com todo aquele que conosco desejar dialogar: sem impor a ninguém que
não seja dos nossos, mas com a coragem de serenamente, com um tranquilo e
convicto sorriso, propor, sem descontos, ocultamentos ou falsificações a
inteira verdade de Cristo e Suas exigências, que prometem o Céu, a Vida Eterna!
Seremos cada vez mais uma Igreja com a consciência de
peregrinos, de estrangeiros... Uma Igreja que novamente não terá vergonha de
sentir saudade do Céu e de exclamar, sendenta, ansiosa, amorosa, pressurosa:
Vem, vem com Tua luz, ó Senhor Jesus! Maran atua!
Amigo, que este tempo santo do Advento nos faça
recordar estas coisas e desperte em nós esta saudade!
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