“Com grande alegria rejubilo-me no
Senhor, e minha alma exultará no meu Deus, pois me revestiu de justiça, como a
noiva ornada de suas joias” (Is 61,10).
–
Estas palavras do Profeta Isaías, com toda razão a Igreja as coloca hoje na
boca da Virgem Maria.
De
fato, estas elas exprimem bem o mistério da Festa de hoje, a Imaculada
Conceição da Toda Santa Mãe de Deus!
Hoje,
caríssimos, no ventre da velha Ana foi concebida a Virgem Maria. Que há de
maravilhoso nisso?
Dizem
as antigas fontes cristãs que Ana era já idosa e estéril como Sara, a esposa de
nosso pai Abraão, como Isabel, a esposa do velho Zacarias. Pois bem, idosa e
estéril, também Ana gerou no seu ventre uma filha!
É
obra de Deus: onde não há vida Ele faz a vida brotar; onde já não há mais
futuro, Ele faz o futuro acontecer! Bendito seja o Nome do Senhor, Deus criador
perene da vida, Senhor que nos abre a porta da esperança!
Mas,
o mistério da Festa de hoje, a alegria da Igreja neste dia, é por um
acontecimento ainda maior, um mistério ainda mais admirável! Eis a surpresa,
eis a obra estupenda do nosso Deus, escondida por trás da concepção da velha
Ana: essa filhinha concebida hoje no ventre da anciã estéril, desde o primeiro
momento de sua conceição, foi preservada por Deus de todo vínculo do pecado que
pesa sobre a nossa raça!
O
salmista diz: “Minha mãe já concebeu-me
pecador!” (Sl 50/51,7). Estas palavras não se aplicam à Virgem Maria!
Desde
o primeiro instante de nossa existência, todos somos marcados pela quebradura
provocada pelo pecado de nossos antepassados... Não assim a Virgem Maria! Ela,
desde o primeiro instante de sua existência, por pura graça de Deus, foi
preservada do pecado original!
O
mesmo Deus que “antes da fundação do
mundo no escolheu em Cristo para que fôssemos santos e irrepreensíveis sob Seu
olhar, no amor”, o mesmo Senhor Santo que “nos predestinou para sermos Seus filhos adotivos por intermédio de
Jesus Cristo, conforme a decisão de Sua vontade”, Ele mesmo, por causa do
Filho Jesus e pelos méritos do Filho Jesus, o “Cordeiro sem defeitos e sem mácula, conhecido antes da fundação do
mundo” (1Pd 1,19s), predestinou e preservou de toda mancha do pecado a
Virgem Maria, futura mãe escolhida para o Seu Filho! Assim, desde o primeiro
momento de sua existência, a Virgem Maria foi revestida da justiça de Deus, foi
justificada em Jesus Cristo, foi ornada de santidade como uma noiva ornada com
suas joias pelo Noivo divino! Por isso mesmo, a liturgia da Igreja coloca na
boca da Virgem Santíssima as palavras do salmo 29: “Eu Vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes e não deixastes rir de mim
meus inimigos!”.
Com
efeito, caríssimos, a todos nós o Senhor arrancou da lama do pecado pela graça
da Sua Páscoa. Mas, à Virgem Maria, Ele sequer deixou que a lama do pecado nela
tocasse! Por isso, o Arcanjo Gabriel a saúda como “Toda Agraciada”, por isso também, a própria Virgem exulta dizendo:
“Todas as gerações me chamarão
bem-aventurada porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor!” (Lc
1,48)
Meus
caros em Cristo, hoje nós estamos reunidos em torno do Altar sagrado para
proclamar todas essas grandes coisas que o Senhor realizou em nosso favor na
vida da Virgem Maria!
É
tão belo, tão significativo, agora que estamos cheios de santa ansiedade na
preparação para o próximo Natal do Senhor, celebrar a Conceição Imaculada da
Virgem Maria!
Ela
já aparece como a doce Aurora do Dia da Salvação. A sua Imaculada Conceição, o
dom imenso da sua vitória sobre o pecado já prenuncia Aquele que, vindo dela,
esmagará a cabeça da antiga Serpente, do inimigo da nossa raça!
É
por causa do Salvador, por causa Daquele que tira o pecado do mundo, que a
Virgem foi preservada do pecado. Deus, “a fim de preparar para o Seu Filho mãe
que fosse digna Dele, preservou Nossa Senhora da mancha original, enriquecendo-a
com a plenitude da Sua graça. Puríssima, na verdade, devia ser a Virgem que nos
daria o Salvador, o Cordeiro sem mancha que tira os nossos pecados!”
Caríssimos,
vivemos atualmente num mundo em que o pecado parece ter mais força que nunca!
Nossa civilização cada vez mais vai voltando as costas para a luz do Cristo: descrença,
humana soberba, impiedade, imoralidade, orgulho, violência, materialismo,
consumismo, relativismo moral, egoísmo, falta de solidariedade e compaixão,
desrespeito pela vida humana e pelas leis de Deus – eis as marcas da nossa
cultura, mais e mais transformada em “cultura de morte”.
E,
no entanto, não temos o direito de perder a esperança! A Festa deste hoje nos
mostra e nos faz experimentar na solene Liturgia o quanto o Cristo vence a
treva do pecado, vence os laços da antiga Serpente, vence as marcas da morte!
A
Imaculada Conceição de Maria é Aurora que nos garante que jamais as trevas
vencerão o Cristo que, saído do ventre da Virgem, brilhou como luz para o
mundo! Como afirmava Santo Efrém, o grande doutor da Igreja síria, Maria é o “santuário imaculado no qual Deus habitou.
Maria gerou Deus, que enche o mundo de bênção e trouxe a vida ao mundo!”
Por isso mesmo, diz o santo Doutor que “é
grande o mistério da Virgem puríssima e supera toda língua, pois ela acolheu no
seu seio o Rio da Vida que com as Suas águas irrigou o mundo e vivificou todos
os mortos!”
Meus
caros, o cristão não deve ser um iludido, um tolo ingênuo, um otimista bobo!
Sabemos
que os sinais de treva, de dor, de pecado com todas as suas tristes consequências
marcam ainda o nosso tempo e até mesmo o nosso coração. Mas, sabemos também que
o Deus nascido da Virgem é o mesmo que vence o pecado e a morte, o mesmo em Quem
já experimentamos a graça da salvação, o mesmo em Quem nos sabemos mais que
vencedores!
Voltemo-nos,
então, para aquela que hoje foi concebida sem pecado e, do fundo de nossa
humana miséria, clamemos, com as intensas palavras da Liturgia oriental:
“Bendita
Mãe de Deus, abre-nos a porta da tua benevolência!
Não
fique desiludida a nossa confiança, que espera em ti!
Livra-nos
das nossas adversidades!
Tu
és a salvação do gênero humano!
É
tão grande o número dos meus pecados, ó Mãe de Deus!
A
ti recorro, ó Imaculada, à procura de salvação!
Consola
a minha alma desolada e pede ao teu Filho nosso Deus, que me conceda o perdão
dos meus pecados, ó única Imaculada, única bendita!
Deposito
em ti toda a minha esperança, ó Mãe da Luz! Acolhe-me sob a tua proteção!”
Ó
Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!
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