"Eu espero no Senhor! Sim, espero!
A minha alma espera no Senhor! Mais que o vigia espera pela aurora,
Israel espera no Senhor!" (Sl 121/120)
Olhando bem, auscultando nossos coração e desejos, não há como fazer de conta que não percebemos: o homem é um ser aberto, fundamentalmente desejoso, necessitado, à procura de algo mais, algo além, algo mais adiante...
A existência humana é eterna, visceral, estrutural insatisfação, desejo, espera - espera que, fundamentalmente, significa esperança, porque espera grávida de anseio de realização... Não se trata somente de esperar, mas de esperar com esperança, com desejo constante, com firme anelo de que o esperado se realize, trazendo um banho de satisfação e plenitude para o coração.
Mas, por que esperamos? O que esperamos mesmo? Alguém nos prometeu alguma coisa, para esperarmos assim?
Ora, precisamente nesta esperança teimosa e inevitável, aparece a estrutura mais profunda do nosso ser humano, a essência do que somos: efetivamente, somos todos uma espera, um desejo, uma sensação de incompletude, um grito, um anelo pela saciedade, pelo descanso do coração, pela plenitude da vida... Somos prisioneiros da esperança, peregrinos do mais adiante!
Nós esperamos porque está na origem mesma da nossa criação, no âmago da nossa estrutura, na nossa raiz fundamental: Quem fez o homem? Terá sido Alguém? Terão sido simples e autômatos dinamismos que os astrofísicos descobrem aqui e acolá? Terá sido só isto: uma natureza cega, que não pensa, não ama, não espera nada? Insisto: Quem fez o homem, fê-lo como visceral abertura, promessa, como saudade, como constante espera que teima em ser esperança!
Assim, no mais nuclear da sua estrutura, o homem é "esperante", é um esperançoso, um mendigo de Algo que o complete, que o leve a si mesmo de modo pleno e, finalmente, faça descansar o seu coração!
Bicho homem! Animal estranho, que somente se sente ele mesmo de modo total se se superar a si próprio em direção ao Infinito! Homem, homem, olha que teu nome é saudade, teu sobrenome é esperança, tua herança é uma contínua espera; espera ativa, que deseja e, ansioso, vai ao encontro!
Olha bem, que não podes arrancar de ti esta espera - ela faz parte da estrutura da tua natureza! Não esperar é não mais ter horizonte, ter razão de viver e caminhar na vida. Não é esperar é a radical renúncia de existir humanamente!
Não foste tu que decidiste esperar, que te fizeste assim! Tu esperas e pronto! Esperas porque és humano e, sem espera, sem esperança, sem saudade e procura do mais adiante, do mais além, deixarias de ser humano!
Esperança, espera! Não podemos suprimi-la de nós - quando o fazemos, adoecemos, fenecemos, morremos, ainda que biologicamente vivos!
Olha, que podemos acolher a vida como espera - e, então, abrir-nos para o que nos foi prometido: a Plenitude-Que-Vem, que nos será dada, da qual já pregustamos algo neste mundo e nesta vida. Podemos também contrariar a esperança, odiá-la e, enganosamente, covardemente, entreter a vida em miudezas, em bugigangas insignificantes, dizendo para nós mesmos: "Ah, isto é importante, isto é minha vida, isto me faz feliz!" - E o coração, e a vida, e a espera danada, teimosa, dizendo baixinho, incomodando-nos: "Mentiroso! Mentiroso! Tu não és feliz, tu não és pleno! Tu foges, alienado de ti e da verdadeira natureza tua! Criado para voar como águia, rastejas como um réptil visguento!"
Pronto! Não há como correr, como fugir: ou assumo que minha vida é uma espera por um Definitivo que sacie toda minha esperança ou meus dias serão vividos como esforço covarde para fugir da natureza mais profunda do meu coração, negando-me, contentando-me com migalhas!
Assumo, pois; admito, pois: "Eu espero no Senhor!/ Sim, espero!/ A minha alma espera no Senhor!/ Mais que o vigia espera pela aurora,/ Israel espera no Senhor!" (Sl 121/120)
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