Depois de apresentar alguns tópicos mais gerais sobre o Sacramento da Eucaristia, vejamos agora alguns aspectos específicos deste Mistério tão rico e central para a nossa fé. Vou fazê-lo tendo consciência de que por mais que escreva aqui, muito mais resta por dizer! Minha intenção é tão somente ajudar os Irmãos de fé a saborear e viver sempre melhor este inestimável dom que o Senhor concedeu à Sua Igreja para que não vivamos para nós, mas o Cristo que por nós e para nós Se entregou e perpetua entre nós a Sua eterna entrega no Sacramento eucarístico!
Assim diz o Catecismo da Igreja: “Quando a Igreja celebra a Eucaristia, rememora a Páscoa de Cristo, e esta se torna presente: o sacrifício que Cristo ofereceu uma vez por todas na Cruz torna-se sempre atual: Todas as vezes que se celebra no Altar o sacrifício da Cruz, pelo qual Cristo nossa Páscoa foi imolado, efetua-se a obra da nossa redenção. Por ser memorial da Páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O caráter sacrifical a Eucaristia é manifestado nas próprias palavras da instituição: ‘Isto é o Meu Corpo que será entregue por vós’, e ‘Este cálice é a nova Aliança em Meu Sangue, que vai ser derramado por vós’ (Lc 22,19s). Na Eucaristia, Cristo dá este mesmo Corpo que entregou por nós na Cruz, o próprio Sangue que ‘derramou por muitos para remissão dos pecados’ (Mt 26,28)” (Catecismo, 1365). A Celebração Eucarística é, portanto, memorial, isto é, o tornar-se presente, no aqui e no agora da vida da Igreja e da vida de cada um de nós, daquele único e irrepetível Sacrifício que Jesus, nosso Salvador, ofereceu na Cruz e que, para sempre, encontra-se no Santuário eterno dos Céus, no seio da Trindade Santa, onde Ele, Sacerdote eterno, oferece-Se como Vítima eterna num eterno Sacrifício, como Cordeiro gloriosamente imolado (cf. Hb 7,20 – 8,5; Ap 5,6). “O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único Sacrifício: ‘É uma só e mesma Vítima, é o mesmo que oferece agora pelo ministério dos sacerdotes, que Se ofereceu a Si mesmo então na Cruz. Apenas a maneira de oferecer difere” (Catecismo, 1367).
Assim, a Eucaristia torna presente, “presentifica”, o único e irrepetível sacrifício do Cristo salvador; sacrifício que o Senhor Jesus deu à Sua Igreja para que ela o ofereça até que Ele venha em Sua Glória. Por isso mesmo, é chamado de Sacrifício de louvor, Sacrifício espiritual (porque oferecido na força do Espírito Santo), sacrifício puro e santo (porque sacrifício do próprio Cristo Jesus). Este santo sacrifício da Missa leva à plenitude todos os sacrifícios de todas as religiões e, particularmente, aqueles do Antigo Testamento. Podemos até recordar as palavras da profecia de Malaquias, na qual Deus prometia a Israel um sacrifício perfeito ao Seu Nome: “Sim, do levantar do sol ao seu poente o Meu Nome será grande entre as nações, e em todo lugar será oferecido ao Meu Nome um sacrifício de incenso e uma oferenda pura” (1,11). Cristo, com Seu Sacrifício único e irrepetível, que entregou à sua Igreja para celebrá-lo até que Ele venha, ofereceu este Sacrifício, cumprindo a profecia.
Quando a Igreja fala em sacrifício de Cristo, ela não pensa simplesmente no que aconteceu no Calvário. Toda a existência humana de Jesus, nosso Salvador, teve um caráter sacrifical. O Autor da Carta aos Hebreus, falando do Cristo o momento de Sua Encarnação, afirma: “Ao entrar no mundo, Ele afirmou: ‘Tu não quiseste sacrifício e oferenda. Tu, porém, formaste-Me um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não foram do Teu agrado. Por isso Eu digo: Eis-Me aqui, - no rolo do livro está escrito a Meu respeito – Eu vim, ó Deus, para fazer a Tua vontade” (Hb 10,5). O Senhor Jesus viveu a toda Sua vida entre nós, desde o primeiro momento, no amor, no abandono, na obediência, como uma oferta sacrifical ao Pai para nossa salvação. Toda esta existência sacrifical e sacerdotal chegou ao máximo no sacrifício da Cruz. Ali, naquele acontecimento tremendo, verificou-se a palavra da Escritura: “Tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo” (Jo 13,1). Assim sendo, quando celebramos a Eucaristia, é toda esta vida sacrifical, esta vida doada aos irmãos por amor ao Pai, que se torna presente sobre o Altar para a nossa salvação. Mais ainda: como esta entrega, consumou-se com a resposta do Pai ao Seu Filho, ressuscitando-O dentre os mortos, a Eucaristia é o próprio Mistério pascal: no Altar, torna-se misteriosamente presente a existência humana do Cristo Jesus inteira: Seus dias entre nós, Sua Paixão, Morte, Sepultura, Sua Ressurreição e Ascensão e até mesmo a certeza da Sua Vinda gloriosa: “Celebrando, agora, ó Pai, a memória da nossa redenção, anunciamos a Morte de Cristo e Sua Descida entre os mortos, proclamamos a Sua Ressurreição e Ascensão à Vossa Direita, e, esperando a Sua Vinda gloriosa, nós Vos oferecemos o Seu Corpo e Sangue, Sacrifício do Vosso agrado e salvação do mundo inteiro” (Oração eucarística IV).
Porque é o Sacrifício do próprio Cristo, Filho de Deus feito homem, numa total obediência amorosa ao Pai por nós, a Eucaristia é aquele Sacrifício perfeito de que falava a profecia de Malaquias 1,11. É o que afirma a própria liturgia : “Por Jesus Cristo, Vosso Filho e Senhor nosso, e pela força do Espírito Santo, dais Vida e santidade a todas as coisas e não cessais de reunir o Vosso Povo, para que Vos ofereça em toda parte, do nascer ao pôr-do-sol, um sacrifício perfeito” (Oração Eucarística III). A Igreja oferece, pois, este santíssimo Sacrifício, de eficácia e valor infinitos, pelos vivos e pelos mortos, por crentes e descrentes e até mesmo por toda a criação: “E agora, ó Pai, lembrai-Vos de todos pelos quais Vos oferecemos este Sacrifício: o vosso servo, o Papa, o nosso Bispo, os Bispos do mundo inteiro, os presbíteros e todos os ministros, os fieis que, em torno deste Altar, Vos oferecem este Sacrifício, o Povo que Vos pertence e todos aqueles que Vos procuram de coração sincero” (Oração Eucarística IV). Neste Sacrifício perfeito e infinito, a Igreja, repleta do Santo Espírito do Messias glorioso, como Povo sacerdotal em Cristo, louva, agradece, suplica, pede perdão, adora e intercede por si e pelo mundo inteiro, tudo isto unida ao próprio Cristo, Seu Cabeça e Esposo. Por isso, nenhuma outra celebração se iguala ao Sacrifício eucarístico em força, santidade e eficácia.
Celebrar este Sacrifício santo nos compromete profundamente, seja pessoalmente seja como Igreja: “O cálice de bênção que abençoamos, não é comunhão com o Sangue de Cristo? O pão que partimos, não é comunhão com o Corpo de Cristo?” (1Cor 10,16).Segundo estas palavras de São Paulo, participar da Eucaristia é participar da vida sacrifical de Jesus, nosso Senhor, é estar dispostos a fazer de nossa vida uma participação no Seu Sacrifício, completando em nossa existência o mistério da Cruz do Senhor (cf. Cl 1,24). Em cada Eucaristia, com Jesus, o Messias Sacerdote eterno, oferecemos ao Pai a nossa própria vida. Eis como nossa participação no Sacrifício eucarístico nos compromete profundamente. Não poderia participar desse Altar quem não estivesse disposto a se oferecer cada dia com Cristo e como Cristo: “Exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus; este é o vosso culto racional (isto é, consciente, livre, coerente e consequente). E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito” (Rm 12,1-2).
Continuaremos ainda nos próximos textos.
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