domingo, 8 de março de 2020

Retiro Quaresmal 2020/15 - "Felizes aqueles que se abrigam no Senhor!" (Sl 2,12)

Sexta-feira da II semana da Quaresma
Meditação XIV: A coragem de pedir conselhos

Reze o Salmo 119/118,105-112
Como lectio divina, releia ainda esta vez o capítulo 4 de Tobias.

1. No v. 18, o velho Tobit recomenda ao seu filho que saiba pedir conselho às pessoas sensatas. Este é um tema muito presente nas Escrituras. O livro dos Eclesiástico ensina: “Não faças nada sem conselho: não te arrependerás dos teus atos” (32,19/24); e ensina também: “O quanto puderes, frequenta o teu próximo e aconselha-te com os sábios. A tua conversa seja com homens sensatos e todo o teu assunto seja a Lei do Altíssimo” (9,14/21). Sobre esta recomendação de pedir conselhos a uma pessoa sábia, podemos observar alguns aspectos interessantes.

2. Nenhum de nós é uma bolha, uma mônada fechada em si mesmo, autossuficiente, completo de tudo e competente em todos os aspectos da vida. Fomos criados essencialmente abertos para Deus, o Infinito. Somos limitados, a caminho para a plenitude da Verdade e do Amor que são o próprio Senhor nosso Deus. Ora, isto significa que estamos em construção, que não temos todos os dons, todas as qualidades, todas as virtudes; somos criaturalmente limitados! Assim, necessitamos uns dos outros, inclusive dos conselhos dos demais. Primeiramente é importante procurar o próprio conselho do Senhor na oração, confrontando-nos com a Sua santa Palavra. Depois, nas questões mais sérias da nossa vida, procurar ouvir a opinião de pessoas sábias e experientes, que temam a Deus. Não hesite, portanto, em se aconselhar com pessoas que realmente possam ajudá-lo nas várias questões práticas ou espirituais da vida! Só o tolo não pede conselho, não escuta opinião, julgando-se o melhor em tudo! Pense um pouco: como é sua atitude nesta questão? Recorde alguns exemplos concretos que mostrem o seu procedimento a este respeito.

3. Além de conselhos ocasionais que peçamos, é muito importante para os que desejam verdadeiramente caminhar e progredir na vida com Deus um outro tipo de conselho, mais frequente, regular, sistemático: a direção espiritual. Aqui, se trata de procurar alguém que, no dizer de São Bento, “saiba curar as próprias feridas e a dos outros e não as revele aos demais” (Regra 46,6) para, em tempos determinados, com regularidade e perseverança, abrir o coração, procurando discernir a vontade de Deus para a própria vida. 
Atenção, que a direção espiritual não é o mesmo que o sacramento da Confissão! No sacramento, eu confesso meu ato de pecado, escuto alguma exortação do sacerdote e recebo a penitência e a absolvição. Aqui, na direção espiritual, as coisas são bem diferentes. Primeiramente, o diretor espiritual não é necessariamente um sacerdote. Pode ser qualquer cristão que tenha o carisma de “discernir os espíritos” (cf. 1Cor 12,10; 1Jo 4,1), isto é, a capacidade de, ouvindo com piedade e temor de Deus aquele que lhe abre o coração, possa ajudá-lo a descobrir qual a vontade de Deus a seu respeito, que demônios, isto é, que más tendências ou vícios, deve enfrentar e que virtudes deve cultivar para colocar-se efetivamente à disposição do Espírito do Senhor que trabalha no nosso coração, dando-nos os sentimentos do Cristo Jesus (cf. Fl 2,5)! Sendo assim, na direção espiritual, não se trata de confessar os pecados, mas de abrir o coração, partilhando com o diretor espiritual nossas tendências, nossos movimentos interiores, nossos pensamentos e desejos recorrentes, nossas fraquezas, nossas lutas e dificuldades, para que ele nos ajude a colocar em ordem o nosso interior, fazendo-nos ver o que o Senhor Deus espera de nós! Nunca se esqueça de que, na vida espiritual, é muito fácil cair em armadilhas, ver e avaliar de modo errado os nossos problemas e desafios... A Escritura nos previne que “tal caminho parece reto para alguém, mas afinal é o caminho da morte” (Pr 14,12). Um pai ou mãe espiritual pode nos ajudar muito a fazer um reto discernimento.

4. Nunca esqueça: saber pedir e ouvir conselho de quem realmente é sábio diante de Deus é sinal de maturidade e liberdade interior. O insensato, o tolo, julga-se autossuficiente e não escuta ninguém, pensando que si basta a si próprio. Esse tem tudo para errar em muitas coisas e muitas vezes! Pense um pouco, ainda uma vez: qual a sua atitude neste ponto da existência? Você sabe escolher seus conselheiros? Sabe ouvir de verdade ou apenas finge escutar?

5. Contudo, há ainda um aspecto importante a ser observado. A busca por conselhos e a direção espiritual não nos dispensam da responsabilidade de refletir e decidir por nós mesmos o rumo que daremos à nossa vida. Neste sentido, a Escritura dá algumas instruções muito ponderadas. Leia Eclo 37,7/8-15/19. Primeiro, observe como o Autor sagrado recomenda cuidado na escolha do conselheiro. Imagine a insensatez de procurar conselho com um tolo! O grande critério para um conselheiro é ser alguém que tema a Deus: “Dirige-te sempre a homem piedoso, que tu conheces por observar os mandamentos” (v. 12/15). Depois, uma outra recomendação importante: “que tem a alma conforme à tua e que, se tropeçares, sofrerá contigo” (v. 12/16). O que significa isto? Duas coisas: o diretor espiritual deve ser alguém que creia no mesmo ideal de vida, de santidade que você, caso contrário vai desencaminhá-lo! Além do mais, ele deve ser alguém que procure realmente conhecê-lo e compartilhar de coração o seu caminho. Um bom conselheiro nunca tratará você de modo impessoal, com respostas já prontas, frias e distantes, pois cada pessoa é única; é um pensamento de Deus que não se repete jamais!
Depois, uma exortação importantíssima: “Atende, ainda, ao conselho do teu coração, porque nada te pode ser mais fiel do que ele” (v. 13/17). Em outras palavras, a decisão última é sua! É a sua consciência, que a Escritura chama de “coração”, sede da sua personalidade, dos seus planos e decisões, que deve, com retidão e humildade diante de Deus, decidir, por último, que caminho tomar e que rumo seguir! E, para que todo este processo seja bem sucedido e o faça crescer no reto caminho, segundo a vontade do Senhor, “além de tudo, pede ao Altíssimo para dirigir os teus passos na verdade” (v. 15/19), isto é, segundo a santa vontade divina!

6. Veja, nas Santas Escrituras, exemplos do valor de pedir conselho. Leia Ex 18,13-27; 1Rs 3,4-15; At 5,34-42. Agora reze a oração de Sb 9,1-18


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