quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Homilia para a Quarta-feira de Cinzas

Jl 2,12-18
Sl 50
2Cor 5,20 – 6,2
Mt 6,1-6.16-18

Caríssimos Irmãos no Senhor, chegou, para nós, mais uma vez, o grave tempo da Quaresma, o período sagrado que nos prepara para a maior e mais solene de todas as festas dos cristãos: a santa Páscoa da Paixão, Morte e Ressurreição do nosso Deus e Salvador, Jesus Cristo!
Não nos esqueçamos: este período de quarenta dias de penitência e combate espiritual não tem um fim em si mesmo: ele corre para a Páscoa como um rio corre para o mar: vivemos o tempo quaresmal com os olhos, o coração e do desejo firmes na Páscoa!
Devemos entrar nesta Quarentena santa conscientes de que somos guiados por Deus, como os israelitas nos quarenta anos a caminho da Terra Prometida, com a perseverança de Moisés, nos seus quarenta dias de jejum e oração sobre o Monte Sinai, com a confiança no Senhor Deus de Elias, ao caminhar para o Horeb, alimentado pelo pão do Céu, e, sobretudo, com o ânimo do nosso Senhor Jesus no Seu combate com o Diabo, logo no início do Seu ministério.

Escutemos com toda piedade, com temor e tremor, o Senhor que nos exorta: “Agora, diz o Senhor: Voltai para Mim!” Que significa voltar para o Senhor? Significa converter-se, sair de si mesmo, do próprio modo de pensar, falar, viver, dos seus vícios e pecados, significa ultrapassar nossa lógica estreita e até mesmo mundana, para ir ao encalço do Deus vivo, vivendo a Sua Vida, sendo verdadeiramente Seus amigos!
Irmãos, por desgraça, temos a mísera tendência de viver centrados em nós mesmos, presos na nossa lógica, estreitados na nossa mesquinha medida! Acolhamos o apelo do Senhor: “Rasgai o coração, deixai-vos reconciliar com Deus!” O Deus vivo e santo nos ama, caríssimos; o Senhor importa-Se conosco, Irmãos; o Senhor nos quer com Ele, deseja-nos salvos Nele! De tal modo nos ama que nos deu o Seu Filho; entregou-O por nós! Como não nos comover, admirados, ante a afirmação do Apóstolo, na segunda leitura de hoje? “Aquele que não cometeu pecado, Deus O fez pecado – isto é, vítima pelo pecado – por nós!” É muito amor pela Sua criatura, é muito compromisso conosco, com a nossa salvação, é muito desejo de levar-nos à plenitude para a qual fomos criados, apesar dos nossos pecados! Como ser indiferentes ao Senhor? Como duvidar do Seu amor? Como pensar que Ele não insista em nos procurar, nos converter, nos salvar? Ele entregou por nós o Seu Filho único, santo e bendito como vítima pelos nossos pecados! Como seríamos miseráveis se recebêssemos em vão tamanha prova de amor! Pois bem, “como colaboradores de Cristo, nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus!” 

Recebê-la-emos com proveito se procurarmos verdadeiramente corrigir nossos vícios e pecados, neste Tempo favorável que o Altíssimo nos concede.
A Mãe católica nos prepara para tanto com a justiça da Quaresma, isto é, a observância quaresmal, ou seja, as práticas características deste período sagrado: a penitência, a oração e a esmola. Delas, o Senhor Jesus nos falou no Evangelho que escutamos nesta Eucaristia sagrada:

A oração, que deve ser sincera, brotando de um coração sedento de encontrar o Senhor, um coração humilde, dócil, obediente, cheio de amor pelo nosso Deus. A verdadeira oração é persistente e paciente, perseverante e cheia de confiança de que o Senhor Deus deseja e realiza sempre o melhor para nós, mesmo quando não compreendemos. A oração é uma luta, um combate, um esforço, uma disciplina, uma teimosia santa! Nesta Quaresma, procuremos rezar mais, sobretudo com os textos das Santas Escrituras e, de modo especial, os salmos, fazendo nossos os sentimentos do Cristo Jesus, que estão presentes neles.

O jejum e a penitência, sobretudo a mortificação no comer. Assim, com a graça do Senhor, aprenderemos a disciplinar nosso corpo, nossos desejos, instintos e afetos, deixando-nos guiar pelo mesmo Espírito que guiou o Cristo Jesus e nos transfigurará à imagem bendita do nosso Salvador. Atenção, Irmãos, que sem mortificação, sobretudo na comida, sem disciplina interior, sem renúncia, não há a menor possibilidade de uma verdadeira vida com Deus!

Por fim, a esmola e a caridade fraterna, de modo geral. De nada nos serviria a oração sem a mortificação que nos disciplina; de nada nos valeriam oração e penitência sem um coração aberto aos irmãos, sobretudo àqueles que mais necessitam de nós! Seja a nossa Quaresma um tempo de abrir o coração aos irmãos: um conselho, um afeto, um gesto de amor, um perdão, uma ajuda aos mais necessitados, um cuidado com os menos favorecidos nesta vida, um acolhimento a quem se encontra sozinho e abatido. Eis o que faz fecunda a nossa oração e coroa a nossa penitência! Eis a justiça que o Senhor espera de nós, Seus filhos e servos!

Neste tempo sagrado, cuidemos também de lutar contra os nossos pecados e vícios, aquelas más tendências que nos prendem e impedem de subir livremente ao Senhor. Sim, Irmãos, é tempo de lutar contra o pecado. E isto vale para cada um de nós, individualmente, e para toda a Igreja. Digamos com o coração, exclamemos com os lábios, insistamos com o procedimento, dizendo: “Perdoa, Senhor, o Teu Povo, e não deixes que esta Tua herança sofra infâmia!” Que infâmia maior que sermos infiéis ao Senhor? Que desgraça maior que O trairmos com uma vida mundana, frouxa, desregrada, imoral? Que infidelidade mais infiel que buscar aplausos e elogios do mundo às custas de trair, deturpar e até mesmo esconder o santo Evangelho?

Vamos, meus caros! Procuremos viver santamente este tempo que hoje se inicia com um santo jejum e abstinência de carne! Não recebamos em vão a graça que o Senhor Deus nos oferece pelo Seu Filho Jesus, nosso Senhor! Que cada um prepare sua observância quaresmal decidindo no seu coração, com piedoso cuidado, o que fará neste Tempo favorável no tocante à oração, à penitência na comida, à esmola, ao combate aos vícios, às leituras santas das Escrituras sagradas. Assim, com toda a certeza, estaremos prontos para celebrar na liberdade interior e na alegria espiritual os santos mistérios pascais! Que no-lo conceda o Cristo nosso Deus, bendito com o Pai e o Santo Espírito, pelos séculos dos séculos. Amém.


Um comentário:

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