quarta-feira, 19 de junho de 2019

Homilia para a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo - ano c

Gn 14,18-20
Sl 109
1Cor 11,23-26
Lc 9,11b-17

A Solenidade de hoje é celebração agradecida de uma Presença. A Igreja crê que na celebração litúrgica da Ceia eucarística, torna-se presente o verdadeiro, único e irrepetível sacrifício de Cristo, Sua entrega amorosa por nós ao Pai num Espírito eterno (cf. Hb 9,14). Cada Celebração da Missa é a ceia e ao mesmo tempo o sacrifício do Senhor Jesus, perpetuado no coração da Igreja e do mundo.

Mas, na festa de hoje, a Mãe católica quer chamar a atenção de seus filhos para a real presença de Cristo Jesus nas espécies, isto é, nas aparências eucarísticas do pão e do vinho consagrados. Sim, nelas o Cristo morto e ressuscitado encontra-Se tão verdadeiramente presente, que ali já não há mais pão, não há mais vinho, mas o Senhor Jesus, Cordeiro glorioso e imolado, no Seu estado de eterna imolação por nós.

Vejamos alguns aspectos desta realidade maravilhosa, deste mistério tão profundo.

(1) Como acontece esta misteriosa transformação, esta metamorfose das espécies eucarísticas no Corpo e Sangue do Senhor? Acontece na potência do Espírito Santo. Pela oração do sacerdote que, em nome de toda a Igreja suplica ao Pai que derrame sobre as santas espécies o Espírito do Filho morto e ressuscitado, o Espírito do Cristo pascal de tal modo apodera-Se das santas ofertas, que as transforma, as transubstanciam no Corpo e Sangue do Cristo Jesus. Cumpre-se, mais que nunca neste mundo, a afirmação do São Paulo: “O Senhor (Jesus) é Espírito” (2Cor 3,18). Estejamos atentos: como as espécies eucarísticas, pela invocação do Espírito sobre elas, são tornadas Corpo do Senhor, também nós, reunidos para a Eucaristia, somos tornados pelo Espírito que “nos une num só corpo”, corpo do Senhor Jesus, que é a Igreja. Na Eucaristia, está o corpo do Senhor de um modo real, sacramental em intensidade máxima neste mundo; na Igreja, de um modo não substancial, mas certamente real. Comungamos o Corpo de Cristo e somos tornados sempre mais corpo de Cristo!

(2) Quando dizemos que o pão e o vinho consagrados são o próprio Cristo, devemos ter o cuidado de recordar que o Senhor aí está não somente de modo estático, parado, congelado. É o Cristo presente com Sua história, Seu amor, Seu modo de viver como pobre, como Aquele que Se entregou totalmente ao Pai por amor de nós. O Cristo eucarístico é Aquele que “tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Comungar Seu Corpo e Seu Sangue é entrar neste caminho de Jesus, é ter em nós Seus sentimentos (cf. Fl 2,5), é fazer nossas as Suas opções, fazendo da existência uma pró-existência, uma vida doada ao Pai e aos irmãos. Quem comunga as espécies eucarísticas sem esse compromisso, peca gravemente contra o Corpo e Sangue do Senhor. Afinal, “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o Sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o Corpo de Cristo?” (1Cor 10,16).

(3) Mas, além de nos unir a Cristo, a comunhão no Seu Corpo e Sangue une-nos também aos irmãos, faz-nos um só corpo Nele e com Ele: “Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que participamos deste único pão” (1Cor 10,17). Por isso, é impossível comer deste pão e beber deste cálice permanecendo isolado, fechado em si mesmo, fugindo da comunidade e desprezando os irmãos. A Eucaristia faz a Igreja, “é a comunhão que nos une a Cristo e aos irmãos, e nos convida abrir as mãos para partir e repartir o pão”.

(4) Já dissemos que este pão bendito e este vinho sagrado são o próprio Cristo. Mas que Cristo? Jesus simplesmente na Sua vida humana? Não. Jesus simplesmente ressuscitado? Tampouco. Recebemo-Lo como está nos Céus, no seio da Trindade Santa: vitorioso, ressuscitado, mas, ao mesmo tempo, num estado de perpétua imolação gloriosa. Ele é e será sempre o “Cordeiro de pé como que imolado”de que fala o Apocalipse (cf. 5,4). Ele é Aquele que “entrou no santuário do céu com o Seu próprio sangue para interceder por nós”, de Quem fala a Epístola aos Hebreus (cf. Hb 4,14-16), Ele é Aquele que Estêvão viu de pé à direita do Pai (cf. At 7,55-56), é Aquele “Jesus Cristo, o justo, nosso Advogado junto do Pai”, de Quem fala São João na sua Primeira Carta (cf. 2,1). É este Jesus, plenamente presente nos Céus e, na potência do Espírito, que enche o universo, plenamente presente nas espécies eucarísticas, que recebemos em comunhão. Assim, recebemos em nós o próprio Céu, pois recebemos Aquele que é o bem-querer do Pai e Aquele que é a felicidade da humanidade e do mundo inteiro. No Cristo eucarístico, o Céu e a terra se encontram.

(5) Há ainda um aspecto maravilhoso na Eucaristia. O que eram estas espécies santíssimas? Eram pão e vinho com um pouco d’água, elementos deste mundo perecível. E agora, pela invocação do Espírito do Ressuscitado, o que são? São Corpo e Sangue do Cristo, são elementos que já antecipam maravilhosamente o mundo que há e vir, quando, em certo sentido, tudo será transfigurado e unido a Cristo, que será Cabeça de toda a criação, para que Deus, o Pai, seja tudo em todos (cf. 1Cor 15,28).

Tudo isto e muito mais está contido na Eucaristia, que é Cristo, tesouro da Igreja. Adoremos este Santíssimo Sacramento, sinal de unidade, vínculo de caridade, sacramento de piedade. Graças e louvores se deem a todo o momento ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento.


Um comentário:

  1. É graça por parte de Deus ser alimentado com vosso ensinamento. Para mim suas palavras são tesouros que revigora à alma.

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