Meditação XXIX - terça-feira da V semana da Quaresma
Reze o Salmo 118/119,57-64
Leia Gl 5,13- 26
1. Todo este bloco explicita de modo admirável o que significa, concretamente, na vida do cristão, a liberdade para a qual Cristo nos libertou. Vamos destrinchá-lo pouco a pouco, nesta e nas próximas meditações, porque ele é muito importante.
2. Releia o v. 13. Hoje, é moda apregoar um cristianismo domesticado, desfigurado pelo relativismo doutrinal e moral, com o pretexto de amor e misericórdia! Nada mais maquiado e falso! Primeiro que tudo, Cristo nos libertou a todos do peso da lei: os gentios, da lei do pecado; os judeus da Lei de Moisés com os preceitos rabínicos. Então, os cristãos não teriam lei alguma? Será que Cristo deixou que cada discípulo Seu seja sua própria lei, fazendo o que bem quer e entende, bastando apelar para a sua liberdade e a sua consciência? De modo algum! É disto que o Apóstolo trata agora! Ele deseja precaver os gálatas e os cristãos de todos os tempos contra o relativismo moral e a libertinagem, dele derivada.
3. Sim, o cristão é chamado à liberdade, mas à liberdade em Cristo, doador do Espírito. Leia novamente Rm 8,1-13; Gl 4,6s; 5,5. Crendo no Senhor Jesus Cristo e Nele sendo batizado, o cristão recebe o Seu Espírito Santo (cf. Rm 5,5). Esse Espírito é Espírito de Amor que se imola. Foi neste Espírito Santo e Bendito, Deus verdadeiro com o Pai e o Filho, que o Cristo Jesus Se ofereceu na Cruz ao Pai (cf. Hb 9,14). Este mesmo Espírito que nos liberta da lei prende-nos à uma outra Lei: à Lei do Amor! E como é Espírito de Cristo, dá-nos o amor de Cristo. Por isso, o Senhor nos dá a nova Lei: “Amai como Eu vos amei!” (cf. Jo 13,1-17). Nos capítulos 13 – 16 do Evangelho segundo São João, o Cristo liga todo o tempo o amor ao cumprimento dos Seus mandamentos. Não se trata mais aqui de prescrições legais minuciosas, mas de uma vida vivida em união amorosa com o Senhor e de imitação profunda da Sua atitude de amar o Pai e os irmãos por amor ao Pai! É o Espírito de amor quem produz tal amor em nós (cf. Rm 5,5). Por isso os mandamentos do Cristo não são pesados, como o fardo dos preceitos da Lei de Moisés, porque quem crê no Senhor e Nele é batizado, recebe o Seu Espírito, nascendo de Deus, tornando-se filho no Filho e, assim, o Espírito impele o fiel de Cristo a partir de dentro, do seu interior, jogando-o na dinâmica do amor por amor do Cristo. Leia com atenção 1Jo 5,1-4.
4. Assim sendo, a liberdade do cristão nada tem a ver com o fechar-se na carne, isto é, numa vida egoísta, entregue às próprias satisfações, aos próprios instintos, às próprias medidas da razão humana com suas razões muitas vezes degeneradas pelo pecado! Por isso, o Apóstolo adverte que a liberdade não deve servir de pretexto para a carne (cf. Gl 5,13). Infelizmente, isto está tão presente entre tantos cristãos, em todos os níveis! A verdadeira liberdade nasce do amor de Cristo, colocando-nos a serviço uns dos outros no amor como o Senhor por causa do Senhor. Leia 2Cor 5,14-21. Neste texto profundo e comovente aparece claro de que amor, de que liberdade o Apóstolo fala! Nada a ver com o mundo e sua liberdade falsa, que não passa de sujeição ao pecado! “A liberdade não sirva de pretexto para a carne!” (Gl 5,13b). Como vemos isto hoje, proclamado com orgulho! E por cristãos, inclusive por ministros sagrados que, por arte e engano perverso do Pai da Mentira, tornam-se ministros do pecado! E tudo com aparência de sabedoria, que não passa de loucura e vazio da humana soberba! Leia Rm 1,16-32. Medite, Reze. Tema a Deus com amor! Adira ardentemente à Sua santa Palavra, pois nela – e só nela – encontra-se o caminho para a Vida! Que nada nem ninguém a pretexto algum nos separe do amor de Cristo. Leia e reze Rm 8,35-39.
5. Interessante que, aqui, São Paulo se refira à Lei: “Toda a Lei está contida numa só palavra: Amarás a teu próximo como a ti mesmo” (v. 14). Façamos algumas observações:
a) O Apóstolo não se refere ao amor a Deus, mas somente ao amor ao próximo. É que, como o Senhor Jesus Cristo no diálogo com o homem rico que desejava entrar na vida, ele toma o amor ao próximo como medida da verdade e efetividade do amor a Deus (cf. Mc 10,19; 1Jo 4,7-8).
b) O Apóstolo deseja explicar aos gálatas que a Lei de Moisés se cumpre verdadeiramente não em preceitos dos rabinos, mas no amor efetivo. Aliás, amor que os judaizantes não demonstraram ao chegar na Galácia semeando discórdia e desconfiança em relação ao Apóstolo. De nada vale o apego aos preceitos sem que se cumpra o único preceito que realmente conta: o amor! Leia 1Cor 13!
c) Quanto à Lei de Moisés, ela obrigava ao amor ao próximo, referindo-se aos membros do Povo de Israel. Leia Lv 19,17-18: aí, o próximo é o compatriota israelita; agora, o próximo é toda a humanidade, mas sobretudo os irmãos na fé, isto é, os membros do Novo Israel, que é a Igreja (cf. Gl 6,9s).
d) É mais fácil falar em amar a humanidade toda do que, na prática, suportar com amor aquele que está ao nosso lado, sobretudo na vida concreta da Igreja, da minha comunidade concreta. Por isso, a advertência do Apóstolo no v. 15. Leia-a e reflita seriamente sobre o seu comportamento concreto, sobre as suas atitudes com os irmãos na fé em casa, no seu grupo ou comunidade, na sua paróquia...
6. Reze os Salmos 132/133 e 133/134. Leia, rezando, Jo 15,1-17.
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