Hoje, celebramos o glorioso martírio dos santos Apóstolos Pedro e Paulo, aqueles “santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus”.
Pedro, aquele a quem o Senhor constituiu como fundamento da unidade visível da Sua Igreja e a quem, misteriosamente, concedeu as chaves do Reino! Pensai: conceder as chaves do Reino! Palavras misteriosas...
Paulo, chamado para ser Apóstolo de um modo único e especial, por pura iniciativa surpreendente do Senhor Ressuscitado, que é único dono da Sua Igreja, e chama quem quer e como quer... Este Apóstolo tornou-se o Doutor das nações pagãs, levando o Evangelho aos povos que viviam nas trevas.
Um pela cruz e o outro pela espada, deram o testemunho perfeito de Cristo, derramando seu sangue e entregando a vida em Roma, Pedro, por volta do ano 64; Paulo, pelo ano 67 da nossa era.
Caríssimos, esta Solenidade hodierna dá-nos a oportunidade para algumas ponderações importantes.
Primeiro: A Igreja é apostólica. Esta é uma sua propriedade essencial. João, no Apocalipse, vê a Jerusalém celeste fundada sobre doze alicerces com os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro (cf. 21,14).
Eis: a Igreja não pode ser fundada por ninguém, a não ser pelo próprio Senhor, que a estabeleceu sobre o testemunho daqueles Doze primeiros que Ele mesmo escolheu. Seu alicerce, portanto, sua origem, seu fundamento são o ministério e a pregação apostólicas que, na força do Espírito Santo, deverão perdurar até o fim dos tempos graças à sucessão apostólica dos Bispos católicos, transmitida na Ordenação episcopal sob a potente atividade do Santo Espírito do Cristo ressuscitado, Senhor único da Igreja.
Dizer que nossa fé é apostólica significa crer firmemente que a fé não pode ser inventada, não pode ser mutilada nem adulterada, nem tampouco deixada ao bel-prazer das modas de cada época; crer que a Igreja tem como fundamento os Apóstolos significa afirmar que não somos nós, mas o Cristo no Espírito Santo, Quem pastoreia e santifica a Igreja pelo ministério dos legítimos sucessores dos Apóstolos.
O critério daquilo que cremos, a regra da nossa adesão ao Senhor Jesus, a norma da nossa fé e até mesmo a certeza sobre a relação dos autênticos livros da Bíblia, é aquilo que recebemos dos santos Apóstolos uma vez para sempre (cf. Jd 3). Só a eles e aos seus legítimos sucessores o Senhor confiou a Sua Igreja, concedendo-lhes a autoridade com a unção do Espírito para desempenharem o ofício de guiar o Seu rebanho pelos séculos afora.
Olhemos, irmãos amados, para Pedro e Paulo e renovemos nosso firme propósito de nos manter alicerçados na fé católica e apostólica que eles plantaram juntamente com os demais discípulos do Senhor. Hoje, quando surgem tantas comunidades cristãs que se auto-intitulam “igrejas” e se auto-denominam “apostólicas”, estejamos atentos para não perder a comunhão com a verdadeira fé, transmitida de modo ininterrupto e fiel na única Igreja de Cristo, santa, católica e apostólica.
Um segundo aspecto importante, caríssimos, é o significado de ser apóstolo: ele não é somente aquele que prega Jesus, mas, sobretudo, alguém que, escolhido pelo Senhor, com Ele conviveu, Nele viveu e, por Ele, entregou sua vida. Os apóstolos testemunharam Jesus não somente com a palavra, mas também com o modo de viver e com a própria morte. Por isso mesmo, a celebração anual do seu martírio é uma festa para a Igreja, pois é o selo de tudo quanto anunciaram. O próprio São Paulo reconhecia: “Não pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor. Trazemos, porém, este tesouro em vasos de argila para que esse incomparável poder seja de Deus e não nosso. Incessantemente trazemos em nosso corpo a agonia de Jesus, a fim de que a vida de Jesus seja também manifestada em nosso corpo. Assim, a morte trabalha em nós; a vida, porém, em vós” (2Cor 4,5.7.10.12).
Eis o sinal do verdadeiro Apóstolo: dar a vida pelo rebanho, com Jesus e como Jesus, gastando-se, morrendo, para que os irmãos vivam no Senhor! Por isso, caríssimos meus, a alegria da Igreja na Festa de hoje: Pedro e Paulo não só falaram, não só viveram, mas também morreram pelo seu Senhor; e já sabemos pelo próprio Cristo-Deus que não há maior prova de amor que dá a vida por quem amamos! Bem-aventurado é Pedro, bendito é Paulo, que amaram tanto o Senhor a ponto de darem a vida por Ele! Nisto, são um exemplo, um modelo, uma norma de vida para todos nós. Aprendamos com eles!
Um terceiro aspecto que hoje podemos considerar é a ação fecunda da graça de Cristo na vida dos Seus servos. O exemplo de Pedro, o exemplo de Paulo servem muito bem para nós. Vede: o Senhor chama quem Ele quer, de modo misterioso e soberano!
Quem era Simão, chamado Pedro? Um pescador sincero, mas rude, impulsivo e de temperamento movediço. No entanto, foi fiel à graça, e tornou-se Pedra sólida da Igreja, tão apegado ao seu Senhor, a ponto de exclamar, cheio de tímida humildade: “Senhor Tu sabes tudo; Tu sabes que Te amo” (Jo 21,17).
Quem era Saulo de Tarso, chamado Paulo? Um douto, mas teimoso e radical fariseu, inimigo de Cristo. Tendo sido fiel à graça, tornou-se o grande Apóstolo de Jesus Cristo, tão apaixonado pelo seu Senhor, a ponto de nos desafiar: “Sede meus imitadores como eu sou de Cristo!” (1Cor 11,1).
Eis, caros meus, abramo-nos também nós à graça que o Senhor nos concede para a edificação da Sua obra, para a construção do Seu Reino, e digamos como São Paulo: “Pela graça de Deus sou o que sou, e Sua graça em mim não foi em vão” (1Cor 15,10).
Ainda um derradeiro aspecto, amados no Senhor. Nesta hodierna Solenidade somos chamados a refletir sobre o ministério de Pedro na Igreja.
Simão por natureza, foi feito Pedro pela graça. Pedro quer dizer pedra. Eis, portanto, Simão Pedra: “Tu és Pedro e sobre esta Pedra Eu edificarei a minha Igreja. Eu te darei as chaves do Reino” (Mt 16,16ss).
Caríssimos, o ministério petrino é mais que a pessoa de Pedro ou deste outro aquele papa. Seu serviço será sempre o de confirmar os irmãos na fé da Igreja católica, que é a fé em Cristo, Filho do Deus vivo, mantendo, assim, a Igreja unida na verdadeira fé apostólica e na unidade católica. É este o ministério que até o fim dos tempos, por vontade do Senhor, estará presente na Igreja na pessoa do Sucessor de Pedro, o Bispo de Roma, a quem chamamos carinhosamente de Papa, pai.
compreendamos bem: o Papa não é dono da Igreja, não está acima da Igreja, não é um monarca e muito menos um monarca absoluto! Ele não pode fazer na Igreja aquilo que bem queira e entenda! Ele é o Pastor supremo da Igreja de Cristo porque somente a ele o Senhor entregou de modo supremo o Seu rebanho. Mas, atenção: o que o Senhor entregou de modo especial a Pedro (cf. Mt 16,18-20), entregou também aos demais Apóstolos (cf. Mt 18,18)! É totalmente errado pensar Pedro sem os demais apóstolos, pensar o Papa sem o Colégio dos Bispos! Pedro no meio dos Apóstolos e princípio da comunhão entre eles; o Papa no meio dos Bispos e princípio da comunhão entre eles, sempre a serviço da fé católica e apostólica; nunca acima dela!
No entanto, repitamos: aquilo que Cristo nosso Senhor entregou aos Doze e a seus sucessores, os Bispos, entregou de modo especial a Pedro e a seus sucessores, o Papa, Bispo de Roma, que é a Igreja diocesana de Pedro: “Tu Me amas mais que estes? Apascenta as Minhas ovelhas!” (Jo 21,15).
Estejamos atentos, caríssimos: nossa obediência, nossa adesão, nosso respeito, nossa veneração pelo Santo Padre não é por motivos humanos: porque o achamos simpático, sábio, ou de pensamento igual ao nosso; não é porque ele nunca erra ou se engana…
Nosso respeito ao Sucessor de Pedro é na fé, porque se trata daquele a quem o Senhor confiou a missão de confirmar os irmãos. O Papa deve ser o primeiro guardião da fé católica, o primeiro a fazer o possível para conservar os fieis de Cristo unidos na fé e nos vínculos da caridade! Antes de ser pastor da Igreja, é filho da Igreja, membro da Igreja! Nossa certeza de que ele nos guia em nome de Cristo vem da promessa do próprio Senhor: “Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; Eu, porém, orei por ti, a fim de que a tua fé não desfaleça. Quando, porém, te converteres, confirma teus irmãos” (Lc 22,31-32). Somente deixando-se guiar pela oração de Cristo, sua fé não desfalecerá! Porque temos certeza da eficácia da oração de Jesus nosso Senhor por Pedro e seus sucessores, é que confiamos que, mesmo nas difiuldades e incertezas dos dias que correm, o Senhor não abandonará a Sua Igreja!
Assim, rezemos hoje pelo Papa, Sucessor de Pedro. E acompanhemos nossa oração com um gesto concreto: a esmola, o óbolo de São Pedro, aquela contribuição que no dia de hoje os católicos do mundo inteiro devem dar para as obras de caridade do Papa por todo o mundo. Assim, com as mãos e com o coração rezemos pelo Santo Padre: Que o Senhor nosso Deus que o escolheu para o Episcopado na Igreja de Roma, o ilumine à frente da Sua Igreja, governando o Povo de Deus, de modo que o povo cristão a ele confiado possa sempre mais crescer na fé e nos vínculos da comunhão na caridade de Cristo. Amém.