Gn 3,9-15
Sl 129
2Cor 4,13-18 – 5,1
Mc 3,20-35
Caríssimos, iniciemos a nossa meditação da Palavra que
o Senhor nos dirige neste X Domingo Comum partindo da tremenda pergunta que o
Senhor Deus fez aos nossos primeiros pais e nos faz a nós, filhos de Adão de
todos os tempos: “Onde estás?” Onde
te encontras, ó homem, com tua ânsia de ser como Deus, de ser dono da tua vida,
de viver fechado em ti mesmo, no teu comodismo, na tua frieza, na tua
autossuficiência, como se te bastasses? Onde estás, ó homem, bicho tirado do pó
da terra, no qual soprei, com Meu Espírito, o desejo do Infinito?
E quão triste a situação do homem, a nossa situação:
ei-lo envergonhado, ei-lo escondido! Envergonhado porque nu, escondido porque
não se aceita na sua condição de pobre criatura e dela sente vergonha!
Somente quem é inocente como as crianças não sentiria
vergonha da própria nudez!
Mas, o homem - eu você - esse bicho que deseja ser
autônomo e se pensa Deus, como não se sentir envergonhado?
Então se esconde de Deus, atrás das tantas moitas que
a vida lhe oferece: diversões, dispersão, poder, posses, dominação, prestígio, satisfação
desmesurada dos instintos descontrolados! Quantas moitas para se esconder de
Deus, para esconder, disfarçando a própria nudez!
E lá vai o homem, quebrado, jogando a culpa nos
outros, no mundo, em Deus, no Diabo, contanto que se justifique e se desculpe a
si próprio, sempre fugindo de si e da sua triste realidade, sempre se
protegendo ilusoriamente com frágeis folhinhas de parreira!
Ao invés de fugir, desse esconder, Irmãos, seria mais
útil, maduro e coerente abrir o coração ao Senhor, como o Salmista: “Das profundezas eu clamo a Vós, Senhor!
Escutai a minha voz! Se levardes em conta as nossas faltas, quem poderá
subsistir? Mas, em Vós se encontra o perdão: eu Vos temo e em Vós espero!” Eis
aqui a atitude correta diante do Senhor, atitude que nós devemos cultivar,
caros Irmãos, mas que, infelizmente, não é a nossa tendência! Naturalmente,
diante do Senhor, nossa tendência ainda é aquela dos primeiros pais: a
autonomia blasfema de nos fazer deuses de nós mesmos!
E isto aparece também no Evangelho de hoje: primeiro,
nos adversários de Jesus, os escribas de Jerusalém que, afirmam logo, para
desmoralizá-Lo, que Ele age pelos demônios! É um modo fácil, covarde de não
escutar o Senhor, de não se dar ao trabalho de se deixar converter! Não temos
nós a tendência de fazer o mesmo com aqueles que nos convidam à conversão,
aqueles que com sua palavra ou seu modo de viver nos incomodam, sendo um sinal
de Deus? Vemos tantas vezes isto, mesmo na Igreja: a tendência de fazer pouco
caso e até criticar e combater verdadeiros sinais que o Senhor nos envia
através da vida de pessoas santas, capazes de loucuras e radicalidades pelo
Senhor! A sentença do Senhor é dura: isto é pecado contra aquilo que o Espírito
de Deus suscita! Que coisa: sufocar o Espírito, contristá-Lo porque não cabe na
nossa lógica tacanha, na nossa medida mesquinha! Cuidado, Irmãos! Cuidado para
não pecarmos contra o Espírito! Não aconteça combatermos contra Deus!
Mas, há também aquele outro perigo: o dos parentes do
Senhor: não reconhecê-Lo como presença de Deus, ficando num nível meramente
humano! Quantas vezes nós, cristãos, somos incapazes de perceber a presença do
Senhor nas pessoas, nos acontecimentos e até na Sua própria Palavra? Quantas
vezes nossa fé é tão morna e somos tão cegos para enxergar! Ainda que não
sejamos adversários como os escribas, somos realmente desconfiados como os
parentes do Senhor, que chegam a levar a própria Virgem Santíssima com eles
para trazerem Jesus para casa, querendo aprisiona-Lo numa simples relação
humana, deste mundo! Irmãos no Senhor, tenhamos fé! Irmãos no Senhor,
aprendamos a ver com o olhar de Deus, a medir com a medida do Coração de Deus!
Não é possível que sejamos cristãos sendo tão terrenos e até mundanos no nosso
modo de sentir e de ver!
Mas, estejamos certos, caríssimos: Jesus é o mais
forte que derrota o forte, Jesus é o Vencedor da Morte que, vencendo o Príncipe
deste mundo e o amarrando, nos dá a possibilidade de vencer o pecado em nós e
no mundo. Por isso mesmo, por esta certeza, o ânimo contagioso de São Paulo, na
segunda leitura de hoje: “Sustentado pelo
mesmo espírito de fé, nós também cremos e, por isso, falamos, certos de que Aquele Deus que ressuscitou o
Senhor Jesus nos ressuscitará também com Jesus!”
Ainda cremos realmente nisto, caríssimos: que nossa
vida neste mundo caminha para a plenitude eterna, participando da Ressurreição
de Jesus, nosso Senhor na glória do Céu?
Cremos que “mesmo
que o nosso homem exterior – nossa humanidade nesta situação mortal – se vai
arruinando, o nosso homem interior – com a Vida de Cristo, recebida no Batismo
– vai se renovando, dia a dia”?
Levamos a sério que nos espera “uma Glória eterna e incomensurável?”
Temos realmente como certo que, em Cristo, o Vencedor
do Pecado e da Morte, quando “a tenda em
que moramos neste mundo for destruída, Deus nos dará uma outra morada no Céu,
que não é obra de mãos humanas, mas que é eterna”, isto é, morada viva da
Vida do Eterno?
Irmãos, não será que nossa frieza, o pouco vigor de
muitos para ser generoso com o que é do Senhor não decorreria da falta de fé verdadeira na Vida eterna, na recompensa
que o Senhor nos prepara? – Falamos tanto da terra e tão pouco do Céu!
Não será que estamos numa situação de marasmo, com uma
visão meramente humana das coisas de Deus, como os parentes de Jesus?
Será que, às vezes, pior ainda, não estamos sendo
adversários do Espírito de Deus, que Se manifesta em tantos que são
entusiasmado radicalmente pelas coisas do Senhor, são, para nós e para o mundo,
sinais do Céu, e nós os criticamos?
Caríssimos, reconheçamo-nos pequenos, reconheçamo-nos
deficientes diante do Senhor! Abramo-nos ao Seu Espírito: acreditemos,
confiemos, deixemo-nos ser instrumentos generosos do Senhor na obra da salvação
do mundo, vivendo o Cristo, testemunhando o Cristo, pregando o Cristo, para,
vencido o Pecado e a Morte, participarmos “da
Glória eterna e incomensurável que o Senhor nos prepara”. Amém.
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