sexta-feira, 6 de março de 2015

Retiro quaresmal - sexta-feira da II semana

Leia Gn 15,1-15. Nesta pericote a Palavra de Deus apresenta-nos uma misteriosa quadra da vida de nosso Pai Abraão. Já idoso, cerca de vinte e cinco anos após tudo deixar por Deus, na esperança de uma descendência e uma terra para essa descendência, Abrão vê-se cansado de esperar, quase que enganado por esse Deus independente demais, misterioso demais, que sempre nos desconcerta...

E ele, em plena noite, no interior da sua tenda, sente-se oprimido e mergulhado numa medonha tristeza, daquelas que apertam o coração e acabam com o ânimo, fazem vacilar a esperança e ameaçam a fé...

O Senhor o consola. E ele desabafa: “Meu Senhor Deus, que me darás? Continuo sem filhos...” Há vinte e cinco anos Abrão esperava o cumprimento da promessa o Senhor... O tempo estava passando, nosso pai tinha já quase cem anos... Como ainda esperar um filho? Como crer em algo assim? Por que Deus tardava tanto em cumprir o que prometera?

Deus, então, tira o velho e cansado Abrão de sua tenda e de si próprio e mostra-lhe a amplidão do céu qualhado de estrelas: “Assim será tua descendência!”

A promessa é tão grande, mas a realidade é tão mesquinha e opaca: Abrão tem quase 100 anos, Sara é já muito idosa e estéril e, ao fim das contas, de promessa em promessa, Deus não cumprira nada até então... “Senhor, como saberei que vou ter tudo isto?”

Deus resolve, então fazer um pacto com nosso Pai, cortar com ele uma aliança, como se dizia no Oriente Médio de 4000 anos atrás. Abrão traz alguns animais, mata-os e parte-os ao meio. Para o contrato-aliança valer é necessário que as duas partes contratantes passem pelo meio das vítimas, como que augurando que tenham a mesma sorte de morte se não cumprirem o contrato...



Abrão espera... Vêm as aves de rapina, vem a escuridão, vem o cansaço, vem o terror de tristeza... E o Senhor não vem... O Senhor demora... O Senhor tarda e parece não ver a angústia do nosso Pai na fé.

- Por que, Senhor, és sempre assim, tão fugidio?

Por que Teus modos e Teus tempos são tão diferentes dos nossos?

És um Deus difícil, Senhor!

Ajuda-me a esperar por Ti, sustenta minha pobre fé, não deixe que se apague nunca a tênue lâmpada da minha esperança!



Mas, quando Abrão já está no limite, Deus irrompe no meio da noite, como uma tocha fumegante e, sozinho, passa pelo meio das vítimas, comprometendo-Se para sempre com nosso Pai na fé.



Que mistério! Também Abrão, sem saber e por antecipação, teve que participar da cruz do Senhor Jesus! Sim! Tudo na vida do crente, seja no Novo que no Antigo Testamento, é misteriosa participação na cruz do Senhor! Nele tudo encontra seu sentido último diante de Deus!




Difícil, para Abrão, não foi tanto deixar a casa paterna, a segurança do clã, a cultura e a paisagem de origem... Difícil mesmo foi ir se deixando, amoldando-se a Deus, esvaziando-se de si e permitindo que o Senhor o educasse! “Eu sou o Senhor teu Deus que te educo para o teu bem!”



Aqui também aparece o sentido da Quaresma: um período de educação que nos faz aprender a compreender os modos de Deus e a deixarmo-nos plasmar por Ele! Se perseverarmos, se confiarmos, veremos a luz pascal, como nosso Pai que, no meio da noite, experimentou a fidelidade do Senhor, luminosa como uma tocha ardente...




Como vai sua confiança no Senhor Deus?

Você tem sabido suportar as demoras de Deus?

Pense nos momentos de noite na sua vida? Como você age nessas ocasiões?




Reze o Salmo 138/139

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