1Rs
19,9.11-13
Sl 85
Rm 9,1-5
Mt
14,22-23
A
Escritura deste Domingo fala-nos de um Deus que é grande demais,
misterioso demais, inesperado e surpreendente demais para que
possamos enquadrá-Lo na nossa lógica e no nosso modo de pensar.
Eis,
caríssimos! Uma grande tentação para o homem é achar que pode
compreender o Senhor, enquadrar Seu modo de agir e dirigir o mundo
com a nossa pobre e limitada lógica... Mas, o Deus verdadeiro, o
Deus que Se revelou a Israel e mostrou plenamente o Seu Rosto em
Jesus Cristo, não é assim! Ele é Misterioso, é Santo, é livre
como o vento do deserto!
Pensemos
nesta misteriosa e encantadora primeira leitura, do Livro dos Reis.
Elias, em
crise, fugindo de Jezabel, caminha para o Horeb; ele quer encontrar
suas origens, as fontes da fé de Israel, aquele mesmo Israel que já
não sabia direito distinguir o Senhor, Deus verdadeiro, de um Baal
qualquer (cf. 1Rs 18,21). Recordem que o Horeb é o mesmo monte
Sinai, a Montanha de Deus.
Elias tem
razão: nos momentos de dúvida, de crise, de escuridão, é
indispensável voltar às origens, às raízes de nossa fé; é
indispensável recordar o momento e a ocasião do nosso primeiro
encontro com o Senhor e Nele reencontrar as forças, a inspiração e
a coragem para continuar.
Pois bem,
Elias volta ao Horeb, o Monte sagrado no qual o Senhor Deus veio ao
encontro do Seu povo e com ele fez aliança; o Profeta aí volta
procurando Deus. Lembrem que no caminho ele chegou a desanimar e
pedir a morte: "Agora basta, Senhor! Retira-me a vida, pois
não sou melhor que meus pais!" (1Rs 19,4). No entanto, o
Senhor o forçou a continuar o caminho: "Levanta-te e come,
pois tens ainda um longo caminho" (1Rs 19,7). Pois bem,
Elias caminhou, teimou em procurar o seu Deus, mesmo com o coração
cansado e em trevas; assim, chegou ao Monte de Deus!
Mas,
também aí, no Seu Monte, Deus surpreende Elias – Deus sempre nos
surpreende! O Profeta espera o Senhor e o Senhor Se revela, vai
passar... Mas, não como Elias o esperava: não no vento impetuoso
que força tudo e destrói tudo quanto encontra pela frente, não no
terremoto que coloca tudo abaixo, não no fogo que tudo devora...
Eis: três fenômenos que significam força, que causam temor, que
fazem o homem abater-se... E o Senhor não estava aí. Muito tempo
antes, quando foi entregar a Moisés as tábuas da Lei, Deus Se
manifestara no fogo, no vento e no terremoto: "Houve trovões,
relâmpagos e uma espessa nuvem sobre a montanha... E o povo estava
com medo e pô-se a tremer... Toda a montanha do Sinai fumegava,
porque o Senhor desceu sobre ela no fogo... e toda a montanha tremia
violentamente" (Ex 19,16.18). Mas, agora, o Senhor não está
no vento impetuoso nem no terremoto nem no fogo... Elias teve de
reconhecê-Lo, de descobrir Sua misteriosa Presença no murmúrio da
brisa suave, tão suave quanto a vida miúda do dia a dia...
– Ah,
Senhor! Como Teus caminhos são imprevisíveis!
Quem pode
Te reconhecer senão quem a Ti se converte?
Quem pode
continuar Contigo se pensar em dobrar-Te à própria lógica e à
própria medida?
Tu és
livre demais, grande demais, surpreendente demais! Não há Deus além
de Ti; Tu, que convertes e educas o nosso coração!
Elias Te
reconheceu e cobriu o rosto com o manto, saiu ao Teu encontro e Te
viu pelas costas... Pobres dos homens deste século XXI, que tão
cheios de si mesmos, querem Te enquadrar à própria medida e, por
isso, não Te veem, não Te reconhecem, não experimentam a alegria e
a doçura da Tua Presença!
E, no
entanto, meus irmãos, as surpresas de Deus não param por aí! O
mais surpreendente ainda estava por vir. Não havia chegado ainda a
plenitude do tempo! Pois bem! Na plenitude do tempo, veio a plenitude
da graça: Deus, o Eterno, o Misterioso, o Santo, enviou o Seu Filho
ao mundo; Ele veio pessoalmente! Não mais no vento, não mais no
fogo, não mais no terremoto, não mais pelos profetas! Ele veio
pessoalmente, Ele, em Jesus: "Quem Me vê, vê o Pai. Eu e o
Pai somos uma coisa só" (Jo 14,9; 12,45). Por isso mesmo,
São Paulo afirma hoje claramente que "Cristo, o qual está
acima de todos, é Deus bendito para sempre!" É por
essa fé que somos cristãos, meus irmãos! Jesus é Deus, o Deus
Santo, o Deus Forte, o Deus Imortal, o Deus de nossos Pais! Nele o
Pai criou todas as coisas, por Ele o Pai tirou Abraão de Ur dos
Caldeus, por Ele o Pai abriu o Mar Vermelho, por Ele, deu o Maná ao
Seu povo, sobre Ele fez os profetas falarem e, na plenitude dos
tempos no-Lo enviou a nós! Surpreendente, o nosso Deus;
surpreendente como vem a nós!
Lá vamos
nós, lá vai a Igreja, barca dos Apóstolos, no meio da noite deste
mundo, navegando com dificuldade porque a barca da vida é agitada
pelos ventos... E Jesus vem ao nosso encontro, caminhando sobre as
águas!
Em Jesus,
Deus vem vindo ao nosso encontro, em Jesus, vem em nosso socorro...
E, infelizmente, confundimo-Lo com um fantasma, etéreo, irreal. E
Ele no diz mais uma vez: “Coragem! Sou eu! Não tenhais medo!”
Atenção para esta frase do Senhor: “Coragem, EU SOU! Não tenhais
medo!” EU SOU! É o nome do próprio Deus como Se revelou no
deserto! Deus de Moisés, de Elias, Deus feito pessoalmente presente
para nós em Jesus Cristo!
Então,
caríssimos, digamos como Pedro: “Senhor, manda-me ir ao Teu
encontro, caminhando sobre á água!” Ir ao encontro de Jesus,
caminhando sobre as águas do mar da vida! Todos temos de pedir isso,
de fazer isso!
Peçamos
sim, como Pedro, mas não façamos como Pedro que, desviando o olhar
de Jesus, colocando a atenção mais na profundeza do mar e na força
do vento, no escuro da noite, que no poder amoroso e fiel do Senhor,
começou a afundar! Assim acontecerá conosco, acontecerá com a
Igreja, se medrosos, olharmos mais para o mar e a noite que para o
Senhor que vem a nós com amor onipotente!
E Deus é
tão bom que, ainda que às vezes, façamos a tolice de Pedro,
podemos assim mesmo, como Pedro, gritar de todo o coração: “Senhor,
salva-me!”
-
Salva-nos, Senhor, porque somos de pouca fé!
Salva a
Tua Igreja, salva cada um de nós das imensas águas do mar da vida,
do sombrio e escuro mar encrespado na noite opaca de nossa
existência!
Tu, que
durante a noite oravas e vias o barco navegando com dificuldade, do
Teu Céu, do Trono de Glória em que Te assentas, olha para nós e
vem ao nosso encontro! E tu vens!
Sabemos
que vens na graça da Palavra, no dom da Eucaristia e de tantos
outros modos discretos...
Cristo-Deus,
Amigo dos homens, benfeitor da humanidade, salvador do mundo,
ajuda-nos a reconhecer-Te, a caminhar ao Teu encontro, vencendo as
águas do mar da vida! Amém.
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