Jr
20,7-9
Sl
62
Rm
12,1-2
Mt
16,21-27
O
Evangelho deste Domingo reflete um momento crítico da vida do Senhor Jesus. Ele
sabe que será massacrado por Seus inimigos, sabe que a vinda do Reino de Deus passaria
pelo desastre da cruz. A Carta aos Hebreus nos dá conta do trama que tal
consciência provocou em Jesus: “É Ele
que, nos dias de Sua vida terrestre, apresentou pedidos e súplicas com veemente
clamor e lágrimas, Àquele que O podia salvar da morte...” (5,7). Jesus
tinha uma natureza humana real, como a nossa; Sua humana psicologia era
realmente humana: amava a vida e não queria morrer; sentia o pavor da morte! E,
no entanto, agora, anuncia isso aos apóstolos: iria sofrer e morrer para
ressuscitar! Quanto Lhe custara aceitar isto! Certamente, quanto de esforço
comunicar isto aos Doze!
Pedro
não compreende como isso possa ser possível, não aceita tal caminho para o
Mestre: “Deus não permita tal coisa,
Senhor!” Eis que drama, caríssimos: a atitude de Pedro é a de muitos de
nós: não compreendemos o caminho do Senhor, Seu sofrimento e Sua cruz.
Esse
caminho do Senhor está presente na nossa vida; e nós não somos capazes de
acolhê-lo, de perceber aí o misterioso desígnio de Deus.
Nossa
lógica, infelizmente, é tão mundana, tão terra-terra, tão presa à humana
racionalidade. A dura reprimenda do Senhor a Pedro vale também para nós: “Tu és para mim pedra de tropeço, porque não
pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens”.
Não
nos iludamos: trata-se de duas lógicas sem acordo: não se pode abraçar a sede
louca do mundo de se dar bem a qualquer custo, de possuir tudo, de viver sempre
no sucesso e no acordo com todos e, ao mesmo tempo, ser fiel ao Evangelho, tão
radical, tão contra a corrente.
Vale
para nós – valerá sempre – o desafio de Jesus: “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O
que poderá alguém dar em troca de sua vida?”
Caros,
olhem o Cristo, pensem no Seu caminho e escutem a palavra do Senhor a nós, Seus
discípulos: “Se alguém quer Me seguir,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e Me siga. Pois quem quiser salvar a sua
vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de Mim, vai encontrá-la!”
Renunciar-se, tomar a cruz por causa de Jesus... por causa Dele! Não há, não
pode haver outro caminho para um cristão! Qualquer outra possibilidade é ilusão
humana!
Caros
meus, estejamos atentos, que o Deus de Jesus – e o próprio Jesus é Deus! – nos
coloca em crise.
Nosso
Deus não é um Deus fácil, manipulável, domesticável: Ele seduz, atrai, e Sua
sedução nos coloca em crise porque nos faz pensas as coisas de Deus, não as dos
homens e isso nos faz nadar contra a corrente.
Por
mais que quiséssemos, já não seria possível esquecê-Lo, fazer de conta que não
O encontramos um dia!
É
o drama do profeta Jeremias na primeira leitura deste hoje: “Tu me seduziste, Senhor!” É o que
afirma o coração do Salmista: Sois Vós, ó
Senhor, o meu Deus: a minha alma tem sede de Vós, como terra sedenta e sem
água! Vosso amor vale mais do que a vida!”
Que
fazer, meus caros? Por um lado, experimentamos a sede de Deus, a vontade louca
de seguir de todo o coração o nosso Senhor Jesus, por outro lado, os apelos de
um mundo soberbo e satisfeito consigo mesmo, atanazam o nosso coração... Que
fazer? Como abraçar sinceramente a lógica do Evangelho?
Há
só um modo de seguir adiante, de ser cristão de verdade: o caminho da
conversão! Não é um caminho fácil: é difícil, doloroso, mas libertador. São
Paulo, na segunda leitura de hoje, exorta-nos a tal caminho: “Eu vos exorto, irmãos, a vos oferecerdes em
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto racional”
Compreendem,
irmãos? Compreendem, irmãs?
Seguir
o Cristo é entrar no Seu caminho, é, em união com Ele, fazer-se sacrifício
agradável a Deus, deixando-se guiar e queimar pelo Espírito do Cristo
crucificado e ressuscitado. E o Apóstolo nos previne claramente: “Não vos conformeis com o mundo, mas
transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que
possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que Lhe
agrada, o que é perfeito”.
Não
tomar a forma do mundo, não viver como o mundo, com sua maneira de pensar e de
avaliar as coisas. Só assim poderemos compreender a vontade de Deus – e ela
passa pela cruz e ressurreição do Senhor!
Caríssimos,
pensemos bem! Os cristãos não são mais perseguidos por soldados, já não são
crucificados, jogados às feras ou queimados vivos.
Hoje,
o mundo nos combate invadindo nossa casa e nosso coração com tanta
superficialidade e tanto paganismo, acirrando nossos instintos e explorando
nossas fraquezas; hoje o mundo nos ataca nos ridicularizando, fazendo crer que
o cristianismo é algo do passado, opressor e castrador... Quantos cristãos –
até padres, freiras e teólogos – enganam-se e enganam pensando que se pode
dialogar com o mundo sem pensar na necessidade da conversão ao Senhor... O
mundo crucificou Jesus; o mundo crucifica o Evangelho; o mundo nos crucificará
se formos fiéis ao Senhor. Estamos dispostos a pagar o preço? “O que poderá alguém dar em troca de sua
vida?”
A
única atitude realmente evangélica diante do mundo é o anúncio inteiro do
Cristo, com todas as suas exigências - sem disfarçar, sem esconder, sem se
envergonhar... E isso com paciência, com amor, com todo respeito.
Levantemo-nos,
meus caros! Sigamos o Senhor até a cruz, para estar com Ele na ressurreição.
Amém.