domingo, 31 de agosto de 2014

XXII Domingo Comum: Segui-Lo: perder para ganhar a Vida!

Jr 20,7-9
Sl 62
Rm 12,1-2
Mt 16,21-27

O Evangelho deste Domingo reflete um momento crítico da vida do Senhor Jesus. Ele sabe que será massacrado por Seus inimigos, sabe que a vinda do Reino de Deus passaria pelo desastre da cruz. A Carta aos Hebreus nos dá conta do trama que tal consciência provocou em Jesus: “É Ele que, nos dias de Sua vida terrestre, apresentou pedidos e súplicas com veemente clamor e lágrimas, Àquele que O podia salvar da morte...” (5,7). Jesus tinha uma natureza humana real, como a nossa; Sua humana psicologia era realmente humana: amava a vida e não queria morrer; sentia o pavor da morte! E, no entanto, agora, anuncia isso aos apóstolos: iria sofrer e morrer para ressuscitar! Quanto Lhe custara aceitar isto! Certamente, quanto de esforço comunicar isto aos Doze!

Pedro não compreende como isso possa ser possível, não aceita tal caminho para o Mestre: “Deus não permita tal coisa, Senhor!” Eis que drama, caríssimos: a atitude de Pedro é a de muitos de nós: não compreendemos o caminho do Senhor, Seu sofrimento e Sua cruz.
Esse caminho do Senhor está presente na nossa vida; e nós não somos capazes de acolhê-lo, de perceber aí o misterioso desígnio de Deus.
Nossa lógica, infelizmente, é tão mundana, tão terra-terra, tão presa à humana racionalidade. A dura reprimenda do Senhor a Pedro vale também para nós: “Tu és para mim pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens”.

Não nos iludamos: trata-se de duas lógicas sem acordo: não se pode abraçar a sede louca do mundo de se dar bem a qualquer custo, de possuir tudo, de viver sempre no sucesso e no acordo com todos e, ao mesmo tempo, ser fiel ao Evangelho, tão radical, tão contra a corrente.
Vale para nós – valerá sempre – o desafio de Jesus: “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida?”

Caros, olhem o Cristo, pensem no Seu caminho e escutem a palavra do Senhor a nós, Seus discípulos: “Se alguém quer Me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e Me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de Mim, vai encontrá-la!” Renunciar-se, tomar a cruz por causa de Jesus... por causa Dele! Não há, não pode haver outro caminho para um cristão! Qualquer outra possibilidade é ilusão humana!

Caros meus, estejamos atentos, que o Deus de Jesus – e o próprio Jesus é Deus! – nos coloca em crise.
Nosso Deus não é um Deus fácil, manipulável, domesticável: Ele seduz, atrai, e Sua sedução nos coloca em crise porque nos faz pensas as coisas de Deus, não as dos homens e isso nos faz nadar contra a corrente.
Por mais que quiséssemos, já não seria possível esquecê-Lo, fazer de conta que não O encontramos um dia!
É o drama do profeta Jeremias na primeira leitura deste hoje: “Tu me seduziste, Senhor!” É o que afirma o coração do Salmista: Sois Vós, ó Senhor, o meu Deus: a minha alma tem sede de Vós, como terra sedenta e sem água! Vosso amor vale mais do que a vida!”

Que fazer, meus caros? Por um lado, experimentamos a sede de Deus, a vontade louca de seguir de todo o coração o nosso Senhor Jesus, por outro lado, os apelos de um mundo soberbo e satisfeito consigo mesmo, atanazam o nosso coração... Que fazer? Como abraçar sinceramente a lógica do Evangelho?
Há só um modo de seguir adiante, de ser cristão de verdade: o caminho da conversão! Não é um caminho fácil: é difícil, doloroso, mas libertador. São Paulo, na segunda leitura de hoje, exorta-nos a tal caminho: “Eu vos exorto, irmãos, a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto racional”
Compreendem, irmãos? Compreendem, irmãs?
Seguir o Cristo é entrar no Seu caminho, é, em união com Ele, fazer-se sacrifício agradável a Deus, deixando-se guiar e queimar pelo Espírito do Cristo crucificado e ressuscitado. E o Apóstolo nos previne claramente: “Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que Lhe agrada, o que é perfeito”.
Não tomar a forma do mundo, não viver como o mundo, com sua maneira de pensar e de avaliar as coisas. Só assim poderemos compreender a vontade de Deus – e ela passa pela cruz e ressurreição do Senhor!

Caríssimos, pensemos bem! Os cristãos não são mais perseguidos por soldados, já não são crucificados, jogados às feras ou queimados vivos.
Hoje, o mundo nos combate invadindo nossa casa e nosso coração com tanta superficialidade e tanto paganismo, acirrando nossos instintos e explorando nossas fraquezas; hoje o mundo nos ataca nos ridicularizando, fazendo crer que o cristianismo é algo do passado, opressor e castrador... Quantos cristãos – até padres, freiras e teólogos – enganam-se e enganam pensando que se pode dialogar com o mundo sem pensar na necessidade da conversão ao Senhor... O mundo crucificou Jesus; o mundo crucifica o Evangelho; o mundo nos crucificará se formos fiéis ao Senhor. Estamos dispostos a pagar o preço? “O que poderá alguém dar em troca de sua vida?”
A única atitude realmente evangélica diante do mundo é o anúncio inteiro do Cristo, com todas as suas exigências - sem disfarçar, sem esconder, sem se envergonhar... E isso com paciência, com amor, com todo respeito.

Levantemo-nos, meus caros! Sigamos o Senhor até a cruz, para estar com Ele na ressurreição. Amém.

domingo, 24 de agosto de 2014

XXI Domingo Comum: que sou Eu para vós?

Is 22,19-23
Sl 137
Rm 11,33-36
Mt 16,13-20

Caríssimos em Cristo, podemos meditar a Palavra que o Senhor nos dirige neste hoje tomando três personagens que aparecem no evangelho a pouco proclamado.
Comecemos com Jesus, nosso Senhor. Ele faz duas perguntas inquietantes, desafiadoras. Primeiro indaga: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?”, ou seja: Quais as opiniões do mundo a Meu respeito? O que dizem as revistas, os programas de televisão, os documentários científicos, os sites da internet? As respostas, ontem como hoje, são sempre imprecisas, incompletas ou, pior ainda, errôneas. Estai bem atentos, irmãos amados no Senhor: ninguém, somente com sua inteligência e com sua ciência, poderá saber realmente quem é Jesus; ninguém poderá chegar ao âmago do Seu mistério! Quanto de impreciso e de aberrante já foi dito sobre o nosso Salvador por ilustres sábios da sabedoria do mundo! E todos esses sábios não passaram e não passam de estultos, cegos guiando cegos e tolos ilustrando a tolos... A verdade é que a carne e o sangue não podem, por si, penetrar no mistério do Filho que o Pai nos enviou!

Mas, então, o Senhor nosso faz um outra pergunta, tremenda, comprometedora: “E vós, quem dizeis que Eu sou?” E Simão filho de Jonas responde; responde não por si, não com as forças da sua inteligência ou da sua teologia, mas segundo a inspiração do Pai do Céu e, por isso, responde a resposta exata, diz a frase completa, precisa, correta: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!” Eis, meus irmãos, qual a nossa fé! Eis a rocha do cristianismo, a certeza dada por Deus, revelada por Deus, garantida por Deus: Jesus de Nazaré é o Ungido, o Messias prometido a Israel e anunciado pelos profetas. Mais ainda: Jesus é o Filho único do Pai, Aquele único que pode revelar o Pai e nos pode levar ao Pai, porque vem do Pai, conhece o Pai e é um com o Pai! “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!” Há dois mil anos, caríssimos, a Igreja vive desta certeza recebida de Deus: “Não foi um ser humano que te revelou isso, mas o Meu Pai que está no Céu!” É esta a nossa fé e qualquer um que pense diferente, ainda que se diga cristão, não o é; e ainda que se diga teólogo, mente; ainda que se proclame católico, engana, com o engano daquele que é Enganador desde o princípio, o Pai da Mentira, o Anticristo! Só Jesus é o Senhor, só Jesus é o Santo, só Jesus é o Altíssimo, só Jesus pode nos salvar, só Jesus pode nos dar a vida em abundância. Fora Dele não há salvador e sem passar por Ele - que é o Caminho - não há meio de se chegar ao Pai! Esta é a nossa certeza, nossa identidade, a pedra da nossa vida - e que ninguém nos engane, pois o que passa disso vem do Maligno!

Agora, depois de termos tomado Jesus, tomemos um segundo personagem: nós mesmos, cristãos. De modo direto e inquietante o Senhor nos pergunta: “Vós, quem dizeis que Eu sou?” É uma pergunta feita a cada batizado de cada geração, enquanto o mundo for mundo... Esta questão, caríssimos em Cristo, não é teórica, não pode ser respondida com meras palavras; pode ser respondida somente com a vida: Quem é Jesus para mim? Que lugar Ele ocupa na minha existência, nas minhas escolhas, nas minhas decisões, no meu modo de viver? É ele a minha Verdade? É ele o meu Critério? É ele a minha Certeza? Peçamos ao Senhor a graça de responder com a vida: “Senhor, Tu és o Cristo de Deus, Tu és tudo para mim: meu chão, minha certeza, meu caminho, meu único Mestre e Senhor, mesmo quando Tua Palavra é dura e Teu caminho é difícil! Tu és o Filho único de Deus! Tu és o meu Salvador!

E agora, finalmente, o último personagem: Simão, o filho de Jonas. Inspirado pelo Pai, ele revelou quem é Jesus. E agora Jesus revela quem ele é: “Tu és Pedra da Igreja!” Que mistério, que “profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus”! Toma um homem simples, rude, de temperamento generoso, mas inconstante e dele faz Pedra da Igreja: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus!” Como Eliaquim, na primeira leitura, foi feito administrador da Casa de Davi, agora Jesus, o descendente de Davi por excelência, faz do pobre Simão administrador da Sua casa, que é a Igreja! Eis, meus irmãos, a missão de Pedro na Comunidade cristã! Não interessa que seja Simão filho de Jonas, Pio XII, João XXIII, João Paulo II, Bento XVI ou Francisco... Seu verdadeiro nome será sempre “Pedra-Pedro”: pedra pela graça de Cristo, pedra pela fidelidade de Cristo, pedra pela ação do Espírito de Cristo! E se isto nos parece impossível, o Senhor declara e promete: “O poder do inferno nunca poderá vencê-la”, nunca triunfará contra a Igreja – aquela única de Cristo, aquela que se reúne ao redor de Pedro, aquela a que chamamos com amor filial de una, santa, católica e apostólica! Sim! Ainda que muitos, cheios de uma sabedoria meramente humana, queriam sufocar a verdade em nome de uma harmonia que não vem de Deus, nós sabemos, como nossos antepassados sempre souberam, qual o sinal da verdadeira e única Igreja de Cristo; sabemos onde ela está. O sinal é claro, a identidade é luminosa: a Igreja de Cristo subsiste unicamente na Igreja católica, aquela fundada por Cristo sobre Pedro e a ele entregue para que a apascente e a conduza em nome do Senhor!

Certamente, que é enorme a autoridade de Pedro na Igreja de Cristo: ele tem a missão de ligar (punir, excluir da comunidade eclesial) e desligar (absolver, reintroduzir na comunidade), tem o dever de confirmar os irmãos e apascentar o rebanho de Cristo como seu pastor supremo neste mundo (cf. Lc 22,31-32; Jo 21,15-17; At 5,1-11; Gl 1,18). Mas, tudo isto Pedro somente poderá fazer sustentado pela graça de Cristo! Por isso mesmo, todos os discípulos do Senhor e membros do Seu rebanho devem respeito e obediência leal e sincera a Pedro e a seus legítimos sucessores. Apartar-se da comunhão com Pedro é apartar-se da plena comunhão visível com a única Igreja do Cristo! A autoridade de Pedro, irmãos amados, é um serviço e é com este espírito que os sucessores de Pedro devem desempenhá-la. E ainda que pessoalmente algum papa possa dar um mau exemplo, isso não nos dispensa de respeitá-lo e obedecer-lhe naquilo que ele ensina como doutrina e governo da Igreja! Eis: não é por causa de Pedro que amamos a Pedro; não é por causa do Papa que obedecemos e reverenciamos o Papa... Há papas que podem não ser amáveis pelo que fazem, mas devem ser sempre respeitados pelo que são! É unicamente por causa de Cristo, que a Pedro e seus sucessores entregou a Sua Igreja; é unicamente confiados na infalível e eterna promessa do nosso Salvador que não engana nem Se engana: “O poder do Inferno nunca poderá vencê-la!” Crer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus com poder, exige crer que Ele sustenta, vivifica e guia s Sua Igreja com a força do Santo Espírito e o ministério dos seus legítimos pastores, a começar pelo Papa, Sucessor de Pedro. E nesta fé queremos viver e morrer. Amém!

sábado, 9 de agosto de 2014

XIX Domingo Comum: Tão misterioso, tão próximo, tão Salvador...

1Rs 19,9.11-13
Sl 85
Rm 9,1-5
Mt 14,22-23

A Escritura deste Domingo fala-nos de um Deus que é grande demais, misterioso demais, inesperado e surpreendente demais para que possamos enquadrá-Lo na nossa lógica e no nosso modo de pensar.
Eis, caríssimos! Uma grande tentação para o homem é achar que pode compreender o Senhor, enquadrar Seu modo de agir e dirigir o mundo com a nossa pobre e limitada lógica... Mas, o Deus verdadeiro, o Deus que Se revelou a Israel e mostrou plenamente o Seu Rosto em Jesus Cristo, não é assim! Ele é Misterioso, é Santo, é livre como o vento do deserto!

Pensemos nesta misteriosa e encantadora primeira leitura, do Livro dos Reis.
Elias, em crise, fugindo de Jezabel, caminha para o Horeb; ele quer encontrar suas origens, as fontes da fé de Israel, aquele mesmo Israel que já não sabia direito distinguir o Senhor, Deus verdadeiro, de um Baal qualquer (cf. 1Rs 18,21). Recordem que o Horeb é o mesmo monte Sinai, a Montanha de Deus.
Elias tem razão: nos momentos de dúvida, de crise, de escuridão, é indispensável voltar às origens, às raízes de nossa fé; é indispensável recordar o momento e a ocasião do nosso primeiro encontro com o Senhor e Nele reencontrar as forças, a inspiração e a coragem para continuar.

Pois bem, Elias volta ao Horeb, o Monte sagrado no qual o Senhor Deus veio ao encontro do Seu povo e com ele fez aliança; o Profeta aí volta procurando Deus. Lembrem que no caminho ele chegou a desanimar e pedir a morte: "Agora basta, Senhor! Retira-me a vida, pois não sou melhor que meus pais!" (1Rs 19,4). No entanto, o Senhor o forçou a continuar o caminho: "Levanta-te e come, pois tens ainda um longo caminho" (1Rs 19,7). Pois bem, Elias caminhou, teimou em procurar o seu Deus, mesmo com o coração cansado e em trevas; assim, chegou ao Monte de Deus!

Mas, também aí, no Seu Monte, Deus surpreende Elias – Deus sempre nos surpreende! O Profeta espera o Senhor e o Senhor Se revela, vai passar... Mas, não como Elias o esperava: não no vento impetuoso que força tudo e destrói tudo quanto encontra pela frente, não no terremoto que coloca tudo abaixo, não no fogo que tudo devora... Eis: três fenômenos que significam força, que causam temor, que fazem o homem abater-se... E o Senhor não estava aí. Muito tempo antes, quando foi entregar a Moisés as tábuas da Lei, Deus Se manifestara no fogo, no vento e no terremoto: "Houve trovões, relâmpagos e uma espessa nuvem sobre a montanha... E o povo estava com medo e pô-se a tremer... Toda a montanha do Sinai fumegava, porque o Senhor desceu sobre ela no fogo... e toda a montanha tremia violentamente" (Ex 19,16.18). Mas, agora, o Senhor não está no vento impetuoso nem no terremoto nem no fogo... Elias teve de reconhecê-Lo, de descobrir Sua misteriosa Presença no murmúrio da brisa suave, tão suave quanto a vida miúda do dia a dia...

– Ah, Senhor! Como Teus caminhos são imprevisíveis!
Quem pode Te reconhecer senão quem a Ti se converte?
Quem pode continuar Contigo se pensar em dobrar-Te à própria lógica e à própria medida?
Tu és livre demais, grande demais, surpreendente demais! Não há Deus além de Ti; Tu, que convertes e educas o nosso coração!
Elias Te reconheceu e cobriu o rosto com o manto, saiu ao Teu encontro e Te viu pelas costas... Pobres dos homens deste século XXI, que tão cheios de si mesmos, querem Te enquadrar à própria medida e, por isso, não Te veem, não Te reconhecem, não experimentam a alegria e a doçura da Tua Presença!

E, no entanto, meus irmãos, as surpresas de Deus não param por aí! O mais surpreendente ainda estava por vir. Não havia chegado ainda a plenitude do tempo! Pois bem! Na plenitude do tempo, veio a plenitude da graça: Deus, o Eterno, o Misterioso, o Santo, enviou o Seu Filho ao mundo; Ele veio pessoalmente! Não mais no vento, não mais no fogo, não mais no terremoto, não mais pelos profetas! Ele veio pessoalmente, Ele, em Jesus: "Quem Me vê, vê o Pai. Eu e o Pai somos uma coisa só" (Jo 14,9; 12,45). Por isso mesmo, São Paulo afirma hoje claramente que "Cristo, o qual está acima de todos, é Deus bendito para sempre!" É por essa fé que somos cristãos, meus irmãos! Jesus é Deus, o Deus Santo, o Deus Forte, o Deus Imortal, o Deus de nossos Pais! Nele o Pai criou todas as coisas, por Ele o Pai tirou Abraão de Ur dos Caldeus, por Ele o Pai abriu o Mar Vermelho, por Ele, deu o Maná ao Seu povo, sobre Ele fez os profetas falarem e, na plenitude dos tempos no-Lo enviou a nós! Surpreendente, o nosso Deus; surpreendente como vem a nós!

Lá vamos nós, lá vai a Igreja, barca dos Apóstolos, no meio da noite deste mundo, navegando com dificuldade porque a barca da vida é agitada pelos ventos... E Jesus vem ao nosso encontro, caminhando sobre as águas!
Em Jesus, Deus vem vindo ao nosso encontro, em Jesus, vem em nosso socorro... E, infelizmente, confundimo-Lo com um fantasma, etéreo, irreal. E Ele no diz mais uma vez: “Coragem! Sou eu! Não tenhais medo!” Atenção para esta frase do Senhor: “Coragem, EU SOU! Não tenhais medo!” EU SOU! É o nome do próprio Deus como Se revelou no deserto! Deus de Moisés, de Elias, Deus feito pessoalmente presente para nós em Jesus Cristo!

Então, caríssimos, digamos como Pedro: “Senhor, manda-me ir ao Teu encontro, caminhando sobre á água!” Ir ao encontro de Jesus, caminhando sobre as águas do mar da vida! Todos temos de pedir isso, de fazer isso!
Peçamos sim, como Pedro, mas não façamos como Pedro que, desviando o olhar de Jesus, colocando a atenção mais na profundeza do mar e na força do vento, no escuro da noite, que no poder amoroso e fiel do Senhor, começou a afundar! Assim acontecerá conosco, acontecerá com a Igreja, se medrosos, olharmos mais para o mar e a noite que para o Senhor que vem a nós com amor onipotente!

E Deus é tão bom que, ainda que às vezes, façamos a tolice de Pedro, podemos assim mesmo, como Pedro, gritar de todo o coração: “Senhor, salva-me!”

- Salva-nos, Senhor, porque somos de pouca fé!
Salva a Tua Igreja, salva cada um de nós das imensas águas do mar da vida, do sombrio e escuro mar encrespado na noite opaca de nossa existência!
Tu, que durante a noite oravas e vias o barco navegando com dificuldade, do Teu Céu, do Trono de Glória em que Te assentas, olha para nós e vem ao nosso encontro! E tu vens!
Sabemos que vens na graça da Palavra, no dom da Eucaristia e de tantos outros modos discretos...
Cristo-Deus, Amigo dos homens, benfeitor da humanidade, salvador do mundo, ajuda-nos a reconhecer-Te, a caminhar ao Teu encontro, vencendo as águas do mar da vida! Amém.

sábado, 2 de agosto de 2014

Ainda o "templo": um esclarecimento...

Só mais uma coisa sobre esse "Templo de Salomão":

Quando escrevi sobre isto não é porque esteja minimamente preocupado com sua existência ou inauguração! É simplesmente para esclarecer sua total falta de sentido, seu grosseiro erro bíblico e teológico, coisa de quem não compreende absolutamente nada de cristianismo e de Sagrada Escritura.

Seria um erro triste que os católicos se preocupassem com coisas assim ou, pior ainda, sintam alguma "dor de cotovelo" por esse edifício ser maior que a Basílica de Aparecida! Isto seria ridículo! Não se mede a verdade da fé pelas dimensões de edificações! O Reino dos Céus manifesta-se nas coisas pequenas: como um grão de mostarda, como uma semente semeada na terra, como um tiquinho de fermento levedando a massa, como o trigo plantado no campo do mundo, como um tesouro escondido, como um pérola de grande valor um dia encontrada, como uma rede lançada ao mar e pacientemente puxada até a praia do Dia de Cristo...

Nisto se manifesta o Reino: no que é pequeno, no que aos olhos do mundo é fraco e sem importância, no que parece não contar! Por favor, católicos: deixem de lado para sempre o complexo de cristandade, a ilusão de que um dia todo o mundo será cristão, o gosto pelas coisas grandes, a auto-afirmação baseada em outra realidade que não a cruz de nosso Senhor Jesus Cristo!

Como eu gostaria que nunca perdêssemos de vista o essencial: Cristo, nosso Deus, imolado e ressuscitado, anunciado nas Escrituras Sagradas, celebrado nos sacramentos, oferecido em sacrifício e dado em comunhão para a vida nossa e do mundo inteiro.


Por favor: não confundam a glória do Senhor com a nossa glória nem a grandeza do Senhor com nossas manias de grandeza e saudades de um sistema de cristandade que nunca mais voltará e que em nada é essencial ao cristianismo!

Templo de Salomão e Cristo-Templo

Só para esclarecer aos católicos, a respeito desse "templo de Salomão" inaugurado em São Paulo, mais uma farsa religiosa do nosso tempo e mais uma punhalada no cristianismo, já tão deturpado pelas seitas...

1. Não existe nem poderá existir "Templo de Salomão" algum desde 587 aC, quando o Templo do Senhor, construído pelo Rei Salomão, foi incendiado pelos babilônios. Este era o chamado Primeiro Templo dos judeus.

2. Nem mesmo no tempo de Jesus havia um "Templo de Salomão". Havia sim, o Segundo Templo, construído pelos judeus que voltaram do Exílio de Babilônia entre 537-515 aC. Foi nesse Templo, reformado, ampliado e embelezado por Herodes Magno, que Jesus nosso Senhor pregou. Foi sobre esse Templo que Ele afirmou tratar-se de uma imagem Dele próprio, morto e ressuscitado: "Destruí este Templo e em três dias Eu o edificarei!".

3. O Templo de Salomão em si não tem significado algum para o cristianismo. Também não pode ser reconstruído, pois já não seria o Templo "de Salomão", mas de outra qualquer pessoa! O que se construiu em São Paulo foi um "Edifício do Edir Macedo", nem mais nem menos...

4. Quanto ao Templo dos judeus, somente pode ser construído sobre o Monte do Templo, chamado Monte Moriá, em Jerusalém. Os judeus nunca reconstruíram o seu Templo por isso: porque ali já estão erguidas duas mesquitas muçulmanas...

5. Os cristãos jamais poderão ou deverão reconstruir Templo judaico algum! Isto é negar Nosso Senhor Jesus Cristo, é voltar ao Antigo Testamento! O Segundo Templo era imagem do Corpo do Senhor. Ele mesmo o declarou. Aqui coloco de modo explicado o que Jesus quis dizer: "Vós estais destruindo este Templo! Podeis destruí-lo; ele já cumpriu sua função de figura, de lugar de encontro de Deus com os homens! O verdadeiro Templo é Meu corpo imolado e ressuscitado! Vós destruireis o Meu corpo como estais destruindo este Templo! Mas, dentro de três dias Eu o ressuscitarei, edificando o verdadeiro Templo, lugar de encontro entre Deus e o homem: o Meu corpo, que é a Igreja!"

6. Arca, sacrifícios antigos, utensílios do antigo Templo, já não têm sentido algum no cristianismo. Mais ainda: não passam de pura e vazia falsificação que ofendem a resta consciência cristã e desrespeitam os judeus, imitando de modo grosseiro e falseando de modo superficial o real significado dos seus símbolos religiosos.


Conclusão: É uma pena ver como o charlatanismo, a ignorância, o grotesco prosperam em certas expressões heterodoxas de cristianismo... E tudo por conta do tripudio sobre a ignorância e falta de bom senso de toda uma população insensata. Só isto.