Tríduo Pascal: Sexta-feira da Paixão – XXXIX Dia de
Penitência
Mt 26,57-68
57Os que
prenderam Jesus levaram-No à casa do sumo sacerdote Caifás, onde estavam
reunidos os escribas e os anciãos. 58Pedro seguia Jesus de longe, até o pátio
do sumo sacerdote. Entrou e sentou-se com os guardas para ver como terminaria
tudo aquilo.
59Ora, os
sumos sacerdotes e o Sinédrio inteiro procuravam um falso testemunho contra
Jesus, a fim de condená-Lo à morte. 60E nada encontraram, embora se
apresentassem muitas falsas testemunhas. Por fim, vieram duas testemunhas,
61que afirmavam: “Este homem declarou: ‘Posso destruir o Santuário de Deus e
construí-lo de novo em três dias’”. 62Então o sumo sacerdote levantou-se e
perguntou a Jesus: “Nada tens a responder ao que estes testemunham contra Ti?”
63Jesus, porém, continuava calado. E o sumo sacerdote disse-Lhe: “Eu te
conjuro, pelo Deus vivo, dize-nos se Tu és o Cristo, o Filho de Deus”. 64Jesus
respondeu: “Tu o disseste. Além disso, Eu vos digo que de agora em diante
vereis o Filho do Homem sentado à Direita do Todo-Poderoso, vindo nas nuvens do
céu”. 65Então o sumo sacerdote rasgou suas vestes e disse: “Blasfemou! Que
necessidade temos ainda de testemunhas? Pois agora ouvistes a blasfêmia. 66Que
vos parece?” Responderam: “É réu de morte!” 67Então cuspiram no rosto de Jesus
e bateram Nele. Outros O golpearam, 68dizendo: “Profetiza para nós, Cristo!
Quem é que Te bateu?”
Comentando:
Inicia-se o processo de julgamento de Jesus. Na verdade
não se pode considerar este como um julgamento propriamente dito, pois
contrariava as normas que o Sinédrio deveria seguir, como, por exemplo, a
proibição de realizar um julgamento à noite. Aqui foi mais realizada uma
investigação informal, certamente com o intuito de encontrar em Jesus elementos
que pudessem alicerçar uma acusação diante do Governador romano visando uma
condenação à morte. Na raiz do julgamento de Jesus há, já, um pré-julgamento: Ele
deve morrer porque é um perigo seja para a religião judaica seja para a ordem
estabelecida que, uma vez tumultuada, poderia levar os romanos a uma reação
violenta contra o povo judeu e contra os seus líderes, sobretudo os sacerdotes,
que eram saduceus, e os anciãos do povo, a elite judaica, em geral também
ligada ao partido dos saduceus.
Jesus é levado a José Caifás, sumo sacerdote e genro
do cacique político-religioso de Jerusalém, Anás. Observe, meu Leitor, como
Pedro segue Jesus: de longe, como o discípulo covarde, que não tem a coragem de
realmente envolver-se com Senhor, deixando que a própria vida seja unida à vida
do Salvador.
É esta uma questão séria para todos nós: como seguimos
Jesus? De perto, deixando que Ele realmente entre e transforme a nossa
existência ou, ao invés, de longe, como um cristão frio, que não muda quase
nada no seu modo de viver, de maneira que o Evangelho pouco ou nada incide
sobre nossa vida? É interessante como São Mateus usa palavras que mostram o
papel do discípulo descomprometido: Pedro “entrou,
e sentou-se... para ver como terminaria tudo aquilo”. Um discípulo que
parece mais um espectador que alguém realmente comprometido com Jesus...
Quantas vezes é esta a nossa atitude naquilo que diz respeito a Cristo e à Sua
Igreja... Pedro, nesta noite, sou eu, é você, muitas vezes...
No Sinédrio, discute-se, procurando uma acusação que
fosse sólida o bastante para levar Jesus à morte. Aparece uma, meio confusa:
Jesus ameaçara destruir o Templo. Certamente é uma deturpação e uma
extrapolação do fato de Jesus ter expulsado os vendedores do Templo e do fato
de Ele afirmar que chegaria o tempo de um novo culto, que já não mais teria
como centro o Templo de Jerusalém. É a velha e medonha tática: deturpar as
palavras e intenções de alguém para poder acusá-lo!
O silêncio de Jesus, tantas vezes sublinhado pelos
evangelistas, revela a atitude do Servo Sofredor, que não abriu a boca: “Oprimido, Ele Se rebaixou, nem abriu a
boca! Como cordeiro levado ao matadouro ou ovelha diante do tosquiador, Ele
ficou calado, sem abrir a boca” (Is 53,7). Este silêncio revela Sua total
entrega ao Pai, Sua confiante obediência, sabendo que o Pai é o Seu defensor e
que aquilo que agora estava acontecendo fazia parte do misterioso desígnio do
Pai. Depois da oração angustiada no Horto, Jesus sabe, agora, qual a vontade do
Pai, e está disposto a cumpri-la até o fim!
É assim: quando rezamos, quando colocamos de verdade
nas mãos de Deus tudo quanto nos diz respeito, vamos percebendo a presença do
Senhor Deus na nossa vida e, com serena liberdade interior, vamos enfrentando
as situações da vida. Jesus havia pedido ao Pai que afastasse o cálice.
Entregou ao Pai a decisão final... Agora sabe qual a resposta do Pai: Ele
deverá beber Seu cálice até o fim. E o fará em amorosa obediência!
Finalmente, o Sumo Sacerdote O interroga de modo
solene, oficial: “Eu Te conjuro pelo Deus
vivo: dize-nos se Tu és o Cristo, o Filho de Deus!” É preciso ter
consciência da solenidade deste momento: a máxima autoridade religiosa e
política judaica, o Sumo Sacerdote, em nome do Sinédrio e de todo o Israel, intima
Jesus de Nazaré a dizer se Ele é o Messias prometido por Deus, anunciado pelos
profetas e esperado por Israel. Jesus responde de modo surpreendente: Ele é o
Cristo, o Messias, como Caifás acabara de afirmar! Mas, Jesus vai além e faz
uma afirmação surpreendente, que revolta o Sinédrio: “Além disso, Eu vos digo que de agora em diante vereis o Filho do Homem
sentado à Direita do Todo-Poderoso, vindo nas nuvens do céu!”
É impressionante: Ele não só é o Messias esperado, mas
é também o Filho do Homem que aparece na profecia de Daniel (cf. Dn 7,13), um
ser que vem de junto de Deus com todo o poder. Note bem, meu Leitor: Jesus
nunca dissera antes que era o Messias.
Chamava-Se sempre a si de “filho do homem”. Era um
apelativo misterioso, pois poderia ter o significado presente em Ezequiel,
indicando simplesmente que Ele era homem, frágil filho de Adão ou, por outro
lado, poderia ter o significado de Daniel: aquele ser que vem de Deus, com
poder e pertence ao mundo divino (= sobre as nuvens).
Agora, de modo oficial, diante do Sumo Sacerdote,
Jesus Se declara Messias e Filho do Homem, Messias-Filho do Homem glorioso,
como Daniel profetizou, mas também pobre e frágil filho de Adão, amarrado e
vilipendiado, como Ezequiel utilizou o título. Ele é também o Servo Sofredor
prenunciado por Isaías. É realmente impressionante: Nele, as Escrituras se
cumprem e como vários afluentes, encontram-se todos no mesmo leito fecundo do
rio de água viva que é Jesus de Nazaré, Messias, Filho do Homem glorioso e
humilhado, Servo Sofredor!
A resposta de Jesus é tão espetacular, tão
surpreendente, tão inesperada, tão clara, que o Sumo Sacerdote, indignado e
furioso, rasga as vestes. Fazia-se isso diante de uma tristeza grande ou de uma
blasfêmia. É um modo de demonstrar dor, luto, indignação... Jesus apresentou-Se
oficialmente; oficialmente Israel o rejeitou: “Blasfemou! É réu de morte!” A blasfêmia não foi ter dito que era o
Messias – isto seria somente impostura de falso profeta. A blasfêmia é Se ter
apresentado como Filho do Homem que viria sobre as nuvens! Para o Sinédrio,
Jesus não passava de mais um falso messias com ilusões político-messiânicas,
apenas mais um agitador político com ideias religiosas exaltadas; um verdadeiro
perigo para a ordem religiosa e política estabelecida.
Assim, para os judeus, representados pelo Sumo
Sacerdote e todo o Sinédrio, Jesus era réu de morte. Só havia um problema: os
judeus não podiam executar uma sentença de morte. Roma lhes tinha tirado este poder.
Então, era preciso levá-Lo ao Governador romano, Pôncio Pilatos. Mas, atenção:
que não se fosse a ele com argumentos religiosos! Pilatos era pagão, romano, e
não tinha simpatia alguma pela religião dos judeus. Era necessário, então,
apresentar um crime que convencesse Pilatos...
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