sábado, 27 de abril de 2019

Homilia para o II Domingo da Páscoa - ano c

At 5,12-16
Sl 117
Ap 1,9-11a.12-13.17-19
Jo 20,19-31

Este Domingo da Oitava da Páscoa, ainda Dia mesmo da Ressurreição, é de uma riqueza ímpar! 
Recordemos, antes de tudo, que a atenção da Mãe Igreja se volta para seus filhinhos recém-nascidos na Noite Santa da Páscoa: “Como crianças recém-nascidas, desejai o puro leite espiritual para crescerdes na salvação” (1Pd 2,2). Estas são as palavras da entrada da Missa de hoje, tal como o Missal nos coloca. Mas, o cuidado não é somente com os recém-nascidos, os neófitos (recém-plantados), mas com todos os que antes já eram cristãos. Daí a exuberante oração da Missa hodierna: “Que compreendamos melhor o Batismo que nos lavou, o Espírito que nos deu nova vida e o Sangue que nos redimiu”. Tudo, aqui, recorda a Vida nova do Ressuscitado, que recebemos nos sacramentos da Iniciação Cristã: o Batismo que nos lavou do pecado, mergulhando-nos na Morte e Ressurreição do Senhor; o Sangue da Eucaristia, na qual celebramos o mistério da nossa redenção, comungando com o Senhor na Sua Morte e Ressurreição; e o Espírito do Ressuscitado, que nos é dado nestes e em todos os sacramentos! Em outras palavras: “Pai Santo, Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Deus e Pai fidelíssimo, que arrancaste o Teu Filho do mar da Morte, dá-nos a graça de mergulhar, pelos sacramentos da Tua Igreja, cada vez mais, no mistério Daquele que morreu e ressuscitou! Que o Batismo nos configure mais e mais ao Cristo morto e ressuscitado; a santa Crismação dê-nos a força de viver nossa vocação na Comunidade cristã e testemunhar o Senhor vitorioso diante do mundo; e a Eucaristia nos faça participantes, nesta vida, da Morte e Ressurreição do Cordeiro imolado, até que nos sentemos à Sua Mesa no Reino imperecível! – Eis o tom da presente liturgia!

Quanto às leituras, oito dias após a Ressurreição, “no primeiro dia depois do sábado” dos judeus, primeiro dia da nova criação, Dia do Senhor Ressuscitado, Dia dos cristãos reunidos em Igreja, Jesus entrou onde estavam os apóstolos. As portas fechadas não impedem: Ele está ressuscitado; Seu corpo é o mesmo da Cruz, é material, concreto, mas, totalmente transfigurado pelo Espírito Santo, já não obedece às leis da química, da física, da matéria como a conhecemos; é matéria “espirituada”, matéria do mundo que há de vir...
Ele entra e Se coloca no meio dos discípulos, no nosso meio! Ainda hoje, é assim que Ele faz; como está aqui agora, nesta sagrada Assembleia eucarística! E Sua primeira palavra é Shalom, Paz! Depois, mostra-lhes as mãos e o lado! Dá a Paz e mostra o preço da Paz! A Paz, aqui, é a nossa reconciliação com Deus, o Pai: já não somos mais inimigos, malditos, distantes:“O castigo que havia de nos trazer a paz caiu sobre Ele; pelas Suas feridas fomos curados” (Is 53,5). Nossa paz com Deus, conosco, com os irmãos e com toda a criação custou o sangue do Senhor nosso! Depois, Ele afirma: “Como o Pai Me enviou, Eu também vos envio”.Como o Pai enviou o Filho? No Espírito Santo: no Espírito Ele Se fez homem; no Espírito, foi ressuscitado! “Como o Pai Me enviou, Eu também vos envio. Recebei o Espírito Santo!” É assim que, doravante, a Igreja dos discípulos deverá dirigir-se ao mundo: na força e na energia do Santo Espírito, que é dado como Espírito de paz, de perdão dos pecados, de reconciliação da humanidade com o Pai pelo Cristo: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos”.
Que nunca esqueçamos: é parte essencial da missão da Igreja anunciar e realizar, em nome do Senhor Jesus, o perdão dos pecados, sobretudo no sacramento da Reconciliação! Quem nega isso, invalida o mandato de Cristo e cai em heresia! É uma nova criação que está começando com a Ressurreição do Senhor: Ele, o Homem Novo, no primeiro dia após o sábado dos judeus, nos renova no Batismo no Espírito e nos envia em missão! Como não recordar aqui as palavras de São Paulo? “Se alguém está em Cristo é uma nova criatura. Passaram-se as coisas antigas; eis que tudo se fez uma realidade nova! Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou Consigo por Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação. Pois era Deus que em Cristo reconciliava o mundo Consigo” (2Cor 5,17ss). Finalmente, o Senhor nos convida à fé, a viver nesta fé profunda, serena, constante e entusiástica: “Bem-aventurados os que creram sem terem visto!”

Mas, hoje, é necessário dizer ainda mais! Hoje é Oitava da Páscoa! Não se pode ficar calado! Quem é este Cristo ressuscitado? O Apocalipse, na segunda leitura, nos deslumbra: no Domingo, Dia do Senhor Ressuscitado, Dia de Missa, Dia de escutar a Palavra e repartir o Pão, João, nosso irmão de fé, de tribulação e de esperança, foi arrebatado num êxtase. Viu e ouviu o Ressuscitado: Sua voz era como a de trombeta; voz majestosa, divina, com todo poder no céu e na terra! Sua túnica era comprida, como a dos sacerdotes; no peito, tinha uma faixa de ouro, própria dos reis. Quem é Ele? “Eu sou o Primeiro e o Último, o Vivente. Estive morto, mas agora estou vivo para sempre. Eu tenho a chave da Morte e da região dos mortos!” – Que imagem impressionante; que palavras de nos deixarem boquiabertos!
Olhai o nosso Jesus, o nosso Senhor! Olhai em Quem pusestes a vossa esperança! Olhai a Quem saudais na Sequência de Páscoa, que cantamos antes do Evangelho: o Príncipe que estava morto e, agora, reina vivo, após um tremendo duelo com a Morte! Irmãos, Irmãs, “Não tenhais medo!” Este mesmo Senhor, tão glorioso, tão triunfante, tão potente, tão vivo, está continuamente presente na Sua Igreja, que somos nós, pequena e frágil comunidade! Hoje, a Igreja é tão humilhada, tão sacudida, interna e externamente... Hoje, nossas próprias fraquezas são colocadas aos quatro ventos, como um modo de desacreditar o Evangelho, desacreditando a Comunidade dos discípulos de Jesus... E, às vezes, nós somos culpados! Mas, não tenhais medo! O Senhor está no nosso meio: “a Pedra que os pedreiros rejeitaram tornou-Se a pedra angular” da Igreja! Cristo atua entre nós, como atuou no início, por meio dos Apóstolos! Que hoje não nos preocupemos com grandes milagres visíveis, úteis e necessários para despertar a fé nos inícios do cristianismo... Preocupemo-nos, isto sim, com os pequenos milagres, tão necessários para que o mundo creia: a nossa adesão total e absoluta a Cristo, nosso único Senhor e único Salvador de toda a humanidade, de toda a criação, a nossa coerência de cristãos, a nossa profissão integral e inegociável da santa fé católica e apostólica, a nossa união amorosa com o Cristo na oração e nos sacramentos, o nosso esforço de uma vida santa, a nossa união fraterna no Senhor! Eis os milagres úteis para os nossos dias, muito mais que os shows de curandeirismos que se veem por aí e que de cristão nada possuem, além do nome!

Irmãos, irmãs, renovemos nosso entusiasmo, nossa adesão a Cristo, nossa esperança Nele, tão fiel, tão presente entre os Seus! Ouvimos Sua Palavra; vamos, daqui a pouco, reconhecê-Lo, ao partir o Pão! Mais uma vez é Domingo e, mais, uma vez, Ele Se coloca entre nós! Não sejamos incrédulos, mas fieis! E que o nosso coração arda, mais uma vez, como o coração daqueles nossos dois irmãos nossos no caminho de Emaús!

Irmãos, o Senhor ressuscitou verdadeiramente! Ele estará conosco até a consumação dos séculos! Aleluia!


sábado, 20 de abril de 2019

Ressuscitou! Aleluia!

"Ressuscitei, ó Pai,
e sempre estou Contigo:
pousaste sobre Mim a Tua mão!
Tua sabedoria é admirável! Aleluia!" (Liturgia romana, Missa da Páscoa)






A todos os Irmãos e Amigos das redes sociais, meus sinceros votos de uma santa e abençoada Páscoa do Senhor!
Cristo ressuscitou! Aleluia!
Ressuscitou verdadeiramente! Aleluia!



Surrexit Dominus vere! Alleluia!

“As companheiras de Maria, tendo chegado antes do raiar da aurora, e encontrando removida a pedra do túmulo, ouviram um Anjo dizer-lhes:
Por que procurais, como a um homem e entre os mortos, Aquele que vive na Luz eterna?
Vede as faixas funerárias; correi e anunciai ao mundo que o Senhor ressuscitou, tendo vencido a morte, pois Ele é o Filho de Deus, que salva o gênero humano!” (Liturgia bizantina)

“Por que misturais vossas lágrimas
com a mirra, discípulos?
diziam às miróforas o anjo resplandecente
que se encontrava no túmulo.
Examinai vós mesmas o sepulcro e vede:
o Salvador ressuscitou e saiu do túmulo” (Liturgia bizantina).


“Tendo descido ao túmulo, ó Imortal, Tu destruíste o poderio dos infernos e levantaste-Te como vencedor, ó Cristo Deus,
Tu, que disseste às mulheres miróforas: ‘Rejubilai!’ E aos apóstolos, dás a paz, Tu que ressuscitas aqueles que sucumbiram” (Liturgia bizantina).

Ainda é Sábado, à espera do Terceiro Dia...

“Ó Vida, como podes morrer?
Como Te delongas no túmulo?
Mas é para destruir o poder da Morte
e ressuscitar os mortos do inferno.

Tu foste depositado no túmulo, ó Cristo, Tu a Vida!
Pela Tua Morte, destruíste o poder da Morte,
e para o mundo, Tu fizeste brotar a Vida.

Ó que alegria esta!
Ó grande êxtase pelo qual Tu 
inundaste os mortos detidos no inferno,
fazendo luzir a Luz em suas
profundezas sombrias!” (Liturgia bizantina)



“Tu desceste sobre a terra para salvar Adão
e não o encontrando, ó Mestre,
Tu o foste procurar até no Inferno!”

A multidão dos anjos ficou estupefata
vendo-Te contado dentre os mortos, ó Salvador,
enquanto Tu aniquilavas a força da Morte
e contigo Tu acordavas Adão
e libertavas todos os homens.




“Que a Criação esteja na alegria!
Que todos os habitantes da terra se alegrem
pois o inferno inimigo foi despojado.

"Que as mulheres venham com seus perfumes!
Eu liberto Adão, Eva e toda sua raça.
E no terceiro dia, eu ressuscitarei” (Liturgia bizantina).

“O grande Moisés prefigurou misticamente este dia 
quando disse: Deus abençoou o sétimo dia.
Eis o Sabbat bendito, eis o dia do repouso
no qual o Filho único de Deus
descansou de todas as Suas obras” (Liturgia bizantina).

Com a Virgem, Mãe do Senhor

"Ao Te dar à luz eu não conheci dores;
mas que dor eu experimento agora,
ó Verbo injustamente crucificado!
Ai de mim!
- exclama a Virgem, chorando amargamente -,
Eu não posso suportar, vendo-Te elevado sobre a Cruz,
Senhor, Amigo dos homens!" (Liturgia Bizantina)


Com a Virgem, Mãe do Senhor

"Ao ver o Cordeiro suspenso à Cruz.
a Virgem pura exclama em pranto:
'Meu doce Filho,
que espetáculo estranho e inédito é este?
Como Aquele que tem o universo na mão
Se deixa cravar corporalmente sobre o Madeiro?'" (Liturgia bizantina)



Com a Virgem, Mãe do Senhor

"'Ao ver-Te sem vida e despido sobre a Cruz,
ó meu filho, suprema bondade
e Senhor todo-poderoso,
uma espada transpassou meu coração;
eu fui cruelmente ferida!'
- assim dizia, gemendo, a Virgem imaculada,
que nós cantamos como a Mãe do Senhor 
e glorificamos com fé"(Liturgia Bizantina).



Leituras para este Sábado Santo

Neste dia tremendo a Igreja permanece em profundo silêncio, unida a Maria no dia mais difícil de sua vida: dia de solidão imensa, de vazio sem fim.... Mas também dia de esperança. Os mais generosos devem jejuar. Deve-se manter um respeitoso recolhimento; nada de atividades mundanas e dispersivas! Hoje, é proibida a comunhão eucarística até mesmo aos doentes. Somente os doentes moribundos, às portas da morte, podem comungar. A Igreja une-se a Cristo na Sua Descida aos infernos: Ele entrou de verdade na situação de cadáver, de defunto, de nada... Durante todo o dia, vá distribuindo os seguintes textos:


1. Todo o Livro das Lamentações
Neste livro, o Autor sagrado canta a miséria e a esperança de Jerusalém e a sua própria. É Cristo e a Igreja, quem cantam sua miséria e esperança, bem como a dor e a esperança da humanidade toda e de cada um de nós! Reze as Lamentações durante todo o dia, repartindo-as em cinco partes, de acordo com os capítulos.

2. Salmos 4, 16(15) e 139(138)
Estes três salmos devem ser rezados no Sábado à tardinha ou no início da noite, mas antes da Santa Vigília Pascal. Os três já prenunciam a Ressurreição: “Em paz Me deito e logo adormeço, porque só Tu, Senhor, Me fazes viver em segurança” (Sl 4,9), “Bendigo ao Senhor que Me aconselha, e mesmo à noite, Meus rins Me instruem. Meu coração exulta e Minha carne repousa em segurança... Ensinar-Me-ás o caminho da Vida” (Sl 16[15], 79) e “Senhor, Tu conheces quando Me deito (na morte) e Me levanto (na ressurreição)... sobre Mim Tu pões a tua mão!” (Sl 139[138],2.5).

sexta-feira, 19 de abril de 2019

O sagrado Tríduo Pascal

Estejamos atentos para bem celebrar o Tríduo Pascal. São três dias que celebram o Mistério insondável da nossa salvação. No primeiro dia, celebra-se a entrega que Cristo fez de Sua vida até a Morte; no segundo dia, celebra-se a Sua Descida ao reino dos mortos e, no terceiro dia, o principal e mais importante, celebra-se a Sua santa Ressurreição, que O colocou para sempre na Glória do Pai. Tenhamos a certeza de que, se celebrarmos piedosa e santamente estes santos mistérios, “podemos ter a firme esperança de participar do Seu triunfo sobre a morte e de Sua Vida em Deus” (Liturgia Romana, Introdução à Vigília Pascal).

Primeiro Dia (Da Ceia do Senhor à Celebração da Paixão)
Por nós, Jesus Se entregou ao Pai até a Morte e Morte de Cruz

Este primeiro dia começa na Quinta-feira Santa ao entardecer. Para os judeus, o dia começava à tardinha, de sorte que, do mesmo modo como, para a liturgia cristã, a tarde do sábado já conta como Domingo, também aqui, a Quinta-feira já nos introduz no primeiro dia do Tríduo. É o Dia da Entrega por amor: “Tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1-2). Esta entrega de toda a Sua existência, Jesus a realizou de modo ritual na Ceia derradeira e de modo cruento, doloroso, histórico, na Cruz do Calvário. É uma entrega só, a do rito e a da dura realidade da Cruz! E esta entrega é a entrega de toda uma vida vivida para o Pai e para os irmãos: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Assim, aquela Ceia eucarística, princípio e fundamento de todas as missas do mundo, é já a celebração ritual do Sacrifício de Cristo, pelo qual o mundo foi salvo.

A Igreja celebra este Mistério com duas reuniões solenes. A primeira, na Quinta-feira à tardinha ou no início da noite, com a Missa na Ceia do Senhor. Aí se recorda o Mandamento do amor (sobretudo no rito do lava-pés), a instituição do Sacramento do amor, a Eucaristia e, finalmente, a instituição do sacerdócio ministerial para celebrar a Eucaristia até que o Senhor venha e para presidir à Igreja como comunidade de amor.
É importante notar que Cristo instituiu o sacerdócio na noite em que foi entregue e lavou os pés dos discípulos. Assim devem comportar-se aqueles que, na Igreja, fazem as vezes de Cristo sacerdote!

A segunda reunião solene deste dia dá-se na Sexta-feira Santa, pelas três da tarde, com a Solene Celebração da Paixão do Senhor. Aí, numa liturgia grave, sóbria e ao mesmo tempo solene, a Igreja se reúne para contemplar e adorar o Mistério tão profundo do Pai que entrega o Seu Filho por nós no Espírito Eterno; do Filho que Se entrega ao Pai no Espírito; e do Espírito Santo que repousava no Filho e, amorosamente, deixa que este O entregue ao Pai na Cruz.
Esta liturgia conta com três partes: (1) a Liturgia da Palavra, que termina com a solene Oração Universal, (2) a Adoração da Cruz, rito pelo qual, com profunda admiração, adoramos o Mistério da Cruz do Senhor e (3) o Rito da comunhão, pelo qual comungamos no Corpo do Cristo vivo: mesmo na Sexta-feira Santa, Cristo “imolado, já não morre e, morto, vive eternamente”. Esta Sexta-feira santíssima é dia de jejum e abstinência de carne em honra da Paixão do Senhor. Assim termina o primeiro dia.
- Que o Senhor nos dê a graça de, com Ele, fazer da vida uma entrega de amor ao Pai e aos irmãos, até a entrega final, no momento de nossa morte. Amém.

Segundo Dia (Do final da Celebração da Paixão ao início da Vigília Pascal)
Por nós, Jesus desceu à Morte, consequência última do pecado do mundo

Este é o dia mais grave, mais sóbrio de todo o Tríduo: não há nenhuma reunião litúrgica solene. Não se pode comungar – não se pode distribuir a comunhão nem mesmo aos doentes; só se pode levar a comunhão em viático, a quem estiver às portas da morte. Neste dia, a Igreja celebra a descida de Jesus à Morte. Por nós, o Senhor nosso Jesus Cristo desceu ao mais baixo que o homem pode chegar: foi feito cadáver, foi feito total passividade, total derrota, entrando naquela triste situação na qual a humanidade cai com a morte: “A minha alma está prostrada na poeira; fui abandonado ao pó da morte!”

Neste dia, devemos meditar sobre o mistério da morte e encher-nos de consolo: porque o nosso Salvador entrou na morte, nem aí estaremos sozinhos: “Ainda que eu passe pelo vale da morte, não temerei: Tu estás comigo; Teu bordão e Teu cajado me dão a segurança!” (Sl 22/23)
A Igreja, unida à Virgem Maria, espera, confiante a Ressurreição do Senhor. Este Sábado é ainda dia de penitência e é sumamente recomendável jejuar – é o jejum que prepara para a Celebração pascal. O Sábado Santo é dia de recolhimento, de piedoso silêncio. Não é dia para dispersões ou diversões. Os cristãos esperam com devota reverência que passe o Sábado para, na Noite santa, reunirem-se em santa Vigília, a mais importante de todas as celebrações cristãs.

Terceiro Dia (Da Vigília Pascal até às Vésperas do Domingo de Páscoa)
Para nossa salvação, Jesus foi ressuscitado pelo Pai no Espírito

Na madrugada do Primeiro Dia após o Sábado, o Pai derramou o Espírito Santo sobre o Seu Filho morto, e o levantou da morte. Ressuscitado, Jesus vive uma Vida totalmente nova na Sua alma, agora totalmente glorificada, totalmente feliz e bem-aventurada; nova no Seu corpo, agora totalmente pleno de Vida divina totalmente livre e além das leis que regem este mundo.
Vencendo a morte, o Senhor nos abriu o caminho para a Vida. Aqueles que Nele são batizados e recebem o Seu Espírito Santo, aqueles que comem e bebem Seu Corpo e Sangue na Eucaristia, têm já em si esta Vida nova e, um Dia, no Dia de Cristo, ressuscitarão com Jesus e como Jesus.

É isto que celebramos com uma Vigília santa na noite do Sábado para o Domingo. Uma longa vigília com quatro partes: a liturgia da luz (com a bênção do fogo novo, do círio pascal e o anúncio da Páscoa de Cristo e nossa), a liturgia da Palavra (com nove leituras, que explicam o Mistério pascal), a liturgia batismal (com a bênção da água e o batismo e crisma dos que se prepararam durante a Quaresma) e a liturgia eucarística (a Missa de Páscoa, a partir do ofertório). Esta é a celebração mais importante e mais solene do ano.

Procuremos celebrar piedosa e assiduamente estes santos mistérios, para participar da Páscoa do Senhor na liturgia, na vida e, um dia, com a graça de Deus, por toda a Eternidade!


Leituras para esta Sexta-feira da Paixão do Senhor

Neste santíssimo dia de jejum e abstinência de carne, devemos manter um respeitoso recolhimento, unindo-nos piedosamente Àquele que por nós Se entregou até a Morte de Cruz. Nada de atividades inúteis, nada de músicas profanas, nada de televisão ou internet dispersiva, nada de conversas inúteis!

Antes da Celebração da Paixão

Pela manhã, preparando-se para participar à tarde da solene Ação Litúrgica da Paixão do Senhor, reze o seguinte:

1. Is 42,1-9; 49,1-7; 50,4-10; 52,13 – 53,12
São os quatro cânticos do Servo Sofredor. Eles prenunciam a Paixão do Senhor e revelam os sentimentos do Seu Coração bendito. Esses cânticos devem ser rezados com o “coração na mão”, com toda unção e devoção!

2. Salmos 21(22), 31(30) e 69(68)
Destes três salmos, dois (o 21/22 e o 30/31) foram citados por Jesus na Cruz. Os três revelam os Seus sentimentos, Ele, que tomou sobre Si todos os nossos pecados! Estes salmos devem ser rezados como que emprestando nossa voz ao próprio Cristo, reproduzindo em nós os Seus sentimentos benditos!

Após a Celebração da Paixão do Senhor:
3. Salmos 3, 5, 7, 10, 13(12), 17(16), 25(24), 27(26), 28(27), 35(34), 38(37), 42(41), 43(42), 54(53), 55(54), 56(55), 57(56), 59(58), 61(60), 63(64), 70(69), 71(70), 86(85), 88(87), 120(119), 140(139), 141(140), 142(141), 143(142)
Após a celebração da Paixão, ainda na Sexta-feira, procure rezar todos estes salmos. São muitos, mas recorde que este é um dia de penitência e oração. Estes salmos devem ser rezados em união com o Cristo, que assumindo nossos pecados, tomou toda nossa dor, todo nosso medo, toda nossa infidelidade, toda nossa fraqueza. Se você rezar todos estes salmos, terá a graça imensa de compreender por dentro os sentimentos do Cristo na Sua Paixão e Morte e irá dormir em paz, como Ele: “Em paz Me deito e logo adormeço, porque só Tu, Senhor, Me fazes viver em segurança” (Sl 4,9).

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Leituras da Escritura para esta Quinta-feira Santa


Caro Irmão, ofereço-lhe aqui um esquema de leituras da Sagrada Escritura para os dias do Santo Tríduo Pascal, para que você possa estar unido ao Cristo na celebração solene dos mistérios de Sua Paixão, Morte e Ressurreição.

Os números dos salmos entre parênteses são da Vulgata (e da Ave Maria). Os números fora dos parênteses são da Bíblia hebraica (e da Bíblia da CNBB, de Jerusalém e da TEB).


Quinta-feira Santa

Neste dia toda a atenção da Igreja se volta para o Cristo que na Ceia celebrou ritualmente a Páscoa com Seus discípulos: “Desejei ardentemente comer convosco esta Páscoa antes de sofrer...” (Lc 22,15).Aquilo que o Senhor fizera nos gestos rituais (lavar os pés aos Seus, entregar-Se no pão e no vinho) na Quinta, Ele realizou realmente na Sexta-feira. Recordemos que o Senhor fez Sua despedida no contexto da ceia pascal judaica, na qual os judeus faziam memorial da saída do Egito, libertação do Povo de Israel. Jesus, agora, sairia do mundo, passando (= fazendo a Páscoa) para o Pai, após atravessar o profundo e tenebroso mar da morte. Por tudo isso, para a Quinta-feira são recomendáveis os seguintes textos:

Para serem lidos antes da Missa na Ceia do Senhor:

1. Jo 13,1 – 14,31
É a emocionante e solene narração da Ceia segundo João. Procure unir-se aos sentimentos de Cristo; procure entrar no clima de despedida e comoção daquela Ceia derradeira.

2. Sl 113(112) – Sl 118(117)
Estes seis salmos formam o Hallel (= Louvor: Hallelu-Iah: louvai o Senhor) que os judeus cantavam ao término da Ceia pascal judaica. Jesus cantou-os neste dia, recordando tudo quanto Deus fizera pelo Seu Povo ao tirá-lo do Egito: “Depois de terem cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras” (Mc 14,26).Se não for possível rezar estes salmos antes da Missa na Ceia do Senhor, que eles sejam rezados logo após.

Para serem lidos após a Missa na Ceia do Senhor:

3. Jo 15,1 – 17,26
Estes discursos de Jesus devem ser lidos após a Missa na Ceia do Senhor e dos Salmos do Hallel. Procure lê-los com o coração, devagar, curtindo cada palavra do Senhor que Se entregou. É um discurso de despedida que termina com a Oração Sacerdotal de Jesus. Antes de ser entregue, Ele Se ofereceu por nós e por nós reza ao Pai. Foi assim, entregue, oferecido, imolado, que Ele Se deu na Eucaristia e na Cruz.

4. Salmos 6, 32(31), 38(37), 51(50), 102(101), 130(129) e 143(142)
Após a Ceia, Jesus entrou numa profunda agonia no Horto das Oliveiras. Seria ótimo terminar o dia com estes sete salmos. São os salmos penitenciais da Igreja. Reze-os por você, pela Igreja e pelo mundo inteiro, pelos quais o Cristo sofreu e Se entregou à Morte. Reze-os como se fosse o próprio Cristo rezando pela sua voz. É verdade que Ele não teve nenhum pecado, mas nunca esqueça: Ele assumiu verdadeiramente os nossos: "Aquele que não cometeu pecado, Deus O fez pecado por nós, para que Nele nos tornemos justiça de Deus" (2Cor 5,21).


Homilia para a Missa na Ceia do Senhor

Ex 12,1-8.11-14
Sl 115
1Cor 11,23-26
Jo 13,1-15


“Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a Sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”.
Esta é a tarde que faz memória da Ceia Pascal de Jesus. Aquilo que o Senhor realizou durante toda a vida e consumou na Cruz - isto é, Sua entrega de amor total ao Pai, por nós -, Ele quis nos deixar nos gestos, nas palavras e nos símbolos da Ceia que celebrou com os Seus. Naquela Mesa santa do Cenáculo, estava já presente, em símbolos e gestos, a entrega amorosa do Calvário. É isto que celebramos neste momento sagrado, momento de saudade, de aconchego e de despedida. Era em família que os judeus celebravam o Banquete pascal... Jesus celebrou com Seus discípulos, conosco, Sua família: “Tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até o fim,”até o extremo de entregar a vida, pois “não há maior prova de amor que entregar a vida pelos amigos” (Jo 15,13).

Hoje, neste final de tarde e início de noite, Ele Se fez nosso servo, Ele lavou nossos pés, porque “não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Lavando os nossos pés, Ele revelou de modo admirável Seu desejo de nos servir dando a vida por nossa salvação.

Hoje, Ele nos deu o novo mandamento: “Se Eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que Eu fiz”. Assim fazendo, assim falando, o Senhor nos ordena, por amor a Ele, a que nos sirvamos mutuamente, nos amemos mutuamente, nos aceitemos e perdoemos mutuamente, até dar a vida uns pelos outros. Eis nosso testamento, nossa riqueza e também nossa vergonha, porque tantas e tantíssimas vezes descumprimos o desejo do Senhor!
Que contemplando o gesto do Senhor, hoje nos demos o perdão. Eu vos peço em nome de Cristo: reconciliai-vos em família, por amor de Cristo; reconciliai-vos na paróquia, nos grupos e movimentos de Igreja, por amor Daquele que nos amou assim e nos deu o exemplo! Por Aquele que Se deu a nós nesta tarde bendita, perdoemo-nos, acolhamo-nos, amemo-nos! É o único modo, caríssimos, de celebrarmos a Santa Páscoa na Noite santa do sábado para Domingo próximo e de participarmos hoje desta Ceia bendita!

O Senhor - para que tenhamos a força de amar como Ele, de confiar amorosamente no Pai como Ele, de amar os irmãos como Ele -, hoje, Ele instituiu o Sacramento do amor, a Eucaristia. Hoje Ele Se deixou ficar no Pão e no Vinho transfigurados pelo Seu Espírito Santo, como sacramento do Seu Corpo e Sangue, imolado e ressuscitado para ser nossa oferta ao Pai, nosso alimento no caminho e nosso penhor de ressurreição e Vida eterna. Quanta gratidão, quanto reconhecimento, devem brotar do nosso coração! Seu Corpo por nós imolado, Seu Sangue por nós derramado, Jesus por nós entregue – sacramento de um amor eterno, de uma entrega sem fim, de uma presença perene!
Comungar hoje do Corpo e do Sangue do Senhor é não somente unir-se a Ele, mas estar disposto a ir com Ele até a Cruz e a Morte! Ah, irmãos, não façamos como Pedro, que prometeu, mas não cumpriu e negou o Senhor! “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o Sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o Corpo de Cristo?” (1Cor 10,16). Que grande mistério, esta união de vida e de morte com o nosso Senhor pela Eucaristia! Não reneguemos na vida e nas ações Aquele que hoje nos convida à Sua mesa e conosco celebra a Sua Páscoa!

Hoje, para presidir à Eucaristia e ser um sinal do Senhor, mestre e servidor, Cristo, na Ceia, instituiu o sacerdócio ministerial: aqueles que em Seu Nome e por Sua ordem, deverão presidir à Celebração eucarística e oferecer o Sacrifício pascal até que Ele volte. Nesta tarde sagrada, rezemos pelos nossos sacerdotes, para que sejam dignos de tão grande ministério e o exerçam como Cristo, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida!

Irmãos caríssimos, guardemos no mais profundo do coração os mistérios desta Missa na Ceia do Senhor. Um amor tão grande, uma entrega tão total deve mover nosso coração, deve nos fazer sentir compungidos, desejosos de abrir nossa vida para o Cristo e realmente caminhar com Ele. Tudo, nesta Celebração, respira amor, fala de amor:
recordai o cordeiro imolado da primeira leitura - é o Cristo que por nós é imolado;
pensai no pão sem fermento que partimos e no cálice da aliança que repartimos, na segunda leitura – é ainda o Cristo que Se deixa ficar entre nós e em nós, como alimento e Vida nova, plena do Espírito do Pai;
recordai o Senhor inclinado, lavando-nos os pés, dando-nos a vida e dizendo a ti e a Pedro: “Se Eu não te lavar, não terás parte Comigo”– é o Senhor na Sua pura entrega de amor por nós!

Por favor, nestes dias, celebremos estes santos mistérios pascais com piedade, espírito de adoração profunda e profunda gratidão para com Aquele que por nós quis entregar-se às mãos dos malfeitores e sofrer o suplício da Cruz. Não fiquemos indiferentes, não sejamos frios: tudo quanto celebraremos foi por nós que o Senhor instituiu e para nossa salvação que realizou! E que pela Páscoa deste ano da graça, celebrada com fé e devoção, com amor e piedade, Ele Se digne conduzir-nos à Páscoa eterna. Amém.


Homilia da Missa do Crisma

Irmãos e filhos caríssimos,

Esta solene Celebração que a Igreja realiza hoje em todas as catedrais tem um sentido profundamente sacerdotal. Poderíamos mesmo afirmar que se trata da celebração do sacerdócio de Cristo por excelência: é a Missa do Sacerdócio do Senhor Jesus, nosso Messias!
As leituras, a renovação das promessas sacerdotais, a benção dos óleos e a confecção e consagração do Santo Crisma: tudo tem um sentido profundamente sacerdotal e nos convida a contemplar e celebrar o ministério, mais ainda: o ser profundamente, essencialmente sacerdotal do nosso Salvador. Neste sentido, podem acreditar que é obra de Deus, é ação do Santo Espírito que orienta a Igreja, que esta Missa seja colocada precisamente na Quinta-feira Santa pela manhã, antes do início do Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.

É como se antes de entrarmos no Tríduo Sagrado, a Igreja nos quisesse fazer compreender, com a mente e o coração, que Aquele que por nós Se imolou na Cruz e por nós ressuscitou, dando-nos o Espírito, é sacerdote, o verdadeiro sacerdote e agiu sacerdotalmente.
Sim, caríssimos no Senhor! A Paixão, Morte e Ressurreição do nosso Cristo foi um ato eminentemente sacerdotal:
não foi um acidente, a Sua Paixão,
não foi primeiramente uma questão política, a Sua Cruz,
não foi um simples jogo de poder, a Sua Morte,
não foi uma trama simplesmente humana, a Sua Sepultura! Ele mesmo nos prevenira que se tratava aqui de uma luta muito mais ampla, muito mais profunda, que envolve toda a humanidade, cada pessoa humana e até mesmo todo o universo. Recordai-vos do que Ele disse: “É a vossa hora e o poder das trevas!” (Lc 22,53)Trata-se de um “tremendo duelo entre a Morte e a Vida”, entre o pecado e a graça invencível de Deus nosso Senhor! E Cristo sabia disto; e Cristo assumiu tal luta sacerdotalmente, fazendo desses dramáticos acontecimentos que caíram sobre Ele um ato sagrado, um sacrifício, um “fazer sagrado”, uma ação sagrada, santa, de culto ao Seu Deus e Pai. Ele mesmo afirmara, pensando na hora tremenda da Cruz: “É preciso que o mundo saiba que Eu amo o Pai e faço como o Pai Me ordenou!” (Jo 14,31)
Igreja santa aqui reunida em nome de Cristo, nunca nos esqueçamos disto: a Páscoa do Senhor – Sua Paixão, Morte e Ressurreição – é um ato de culto a Deus em favor de toda a humanidade, de toda a criação, é uma verdadeira Liturgia de amor oblativo, sacerdotal; a Páscoa do Senhor é um ato de proclamação diante do mundo de que Deus, o Pai de Jesus Cristo, é Bom, é Santo, é Fiel, é Confiável e merece todo o nosso amor e toda a nossa entrega!
No Tríduo Pascal, Cristo mesmo é a Vítima que é oferecida por nós ao Pai e Ele mesmo é também o Sacerdote que imola, que oferece o Sacrifício do agrado do Pai e salvação do mundo inteiro, porque Sacrifício de amor, Sacrifício de uma vida se derrama, que se gasta, que se entrega totalmente ao Pai! É com total amor, com total liberdade, de coração inteiro que o Senhor Jesus Cristo entregou-Se ao Pai por nós, em nosso favor: “Ninguém tira a Minha vida; Eu a dou livremente! Tenho o poder de dá-la e o poder de retomá-la. Este é o preceito que recebi do Meu Pai!” (Jo 10,10).
Que mistério admirável, adorável: o Filho eterno feito homem frágil, feito carne, feito um de nós, feito mundo, toma o universo inteiro, toma a humanidade e a história humana, colocando tudo isto nos ombros, juntamente com aquela Cruz, e oferece-os ao Pai, imola tudo no fogo abrasador do Santo Espírito como ato de salvação, de purificação, de transfiguração, para que o mundo, feito oferta agradável ao Pai, seja salvo! É grande demais! É imenso! É inimaginável: um amor tão grande que transfigura todo pecado, toda treva, todo egoísmo, toda infidelidade! Eis, portanto: sacerdotalmente, amorosamente, sagradamente o Filho faz da Sua Páscoa um ato de total entrega amorosa de Si ao Pai por nós, em nosso favor!

“Morto na carne”, este Filho sacerdote, “foi justificado no Espírito” (cf. 1Tm 3,16)!Sim, foi ressuscitado pela Glória, pelo Espírito do Pai e derramou e continua a derramar esse mesmo Santo Espírito sobre todo aquele que crê no Seu Nome e Nele for batizado “para que não pereça, mas tenha a Vida eterna” (Jo 3,16)!
Cristo, o Ungido do Pai, nos ungiu no Batismo e na Crisma e fez de nós um Povo sacerdotal, um Povo unido a Ele, inserido Nele, com a missão de continuar a Sua missão sacerdotal no mundo até que Ele apareça em Glória! Por isso mesmo, a Missa deste hoje tem como antífona de entrada os solenes dizeres do Apocalipse, repetidos na segunda leitura: “Jesus Cristo fez de nós um Reino e sacerdotes para Deus, Seu Pai” (Ap 1,6)Nunca esqueçamos: somos o Povo que deve, no mundo, continuar a missão salvadora de Cristo pelo anúncio, pela oração intercessora, pelo testemunho, pelo serviço humilde e pronto! Em Cristo, toda a Igreja tem a missão sagrada de ser sal e luz para o mundo. Nunca esqueçamos para que existe a Igreja e qual o núcleo da sua missão: dá ao mundo a salvação que Cristo nos trouxe, sendo boca e mãos do Senhor, presença sacramental Dele no mundo e na história.

Aqui, precisamente, se inserem os óleos que o Bispo abençoará e consagrará nesta Missa.
Abençoarei o óleo dos catecúmenos, que será instrumento da graça de Cristo no combate contra o Diabo e todo o mal, porque, na força do Cristo, vencedor do pecado e da morte, a Igreja como um todo e cada cristão, pessoalmente, deve participar da luta contra o Mistério da Iniquidade que permeia o coração e a história dos homens: “O nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os Espíritos do Mal” (Ef 6,12);
abençoarei o óleo dos enfermos, que, utilizado no Sacramento da Unção, confere aos membros sofredores da Igreja a graça inestimável de poder completar na própria carne o que faltou dos padecimentos do Cristo Jesus (cf. Cl 1,24).
Por fim, confeccionarei e consagrarei com a potência do Santo Espírito de Cristo o santo Crisma, que nos configura a Cristo, o Ungido, o Crismado pelo Pai, e nos habilita para a missão de Povo sacerdotal, participando da obra do Senhor, sustentados pelo Seu Espírito, até que Ele venha!
Eis, como é belo: os óleos que preparamos hoje para o Senhor na aurora do Sacro Tríduo, serão canais da graça que Ele nos obteve e nos concede pela Sua Páscoa de Paixão, Morte e Ressurreição. Estes óleos benditos serão, para a Igreja de Palmares, o canal do contínuo Pentecostes, do perene dom do Espírito que o Cristo pascal concede à Sua amada Igreja.

Aqui também, queridos padres, encontra sentido o nosso sacerdócio ministerial! No meio deste sagrado Povo sacerdotal, que é a Igreja, o Senhor nos chamou, nos ungiu com o Seu Crisma e nos enviou para sermos presença sacramental Dele, Cabeça, Pastor e Esposo da Igreja! No meio do Povo sacerdotal somos sacramento do Cristo sacerdote que diante de Deus Se oferece totalmente, entrega toda a vida ao Pai pela Igreja e pelo mundo, fazendo da existência uma sacrifício de louvor e adoração e, por outro lado, diante dos homens, somos sacramento do Cristo que Se entregou totalmente o Pai para proclamar que só Ele é Deus, só Ele é Santo, somente Ele deve ser amado e servido acima de todas as coisas, dando sentido e fundamento à nossa vida!

Queridos padres, meus diletos colaboradores, neste mundo que valoriza o que é passageiro, apega-se somente ao que é visível e palpável, louva e elogia a futilidade, nós, sacerdotes do Cristo Jesus e em Cristo Jesus, somos chamados a viver uma vida realmente em Cristo, sendo, no mundo, sinal do Eterno!
Tende certeza que, mais que em outras épocas, o vosso ministério é indispensável para a Igreja e para o mundo! Por favor, não sejais padres pela metade; nunca vivais o vosso sagrado ministério como uma profissão ou uma simples atividade. O sacerdócio de Cristo, no Sacramento da Ordem plasma e configura o nosso ser inteiro, toda a nossa existência em todos os seus aspectos! Somos ministros de Cristo, somos presença de Cristo, somos a boca e as mãos de Cristo, somos sacramento do próprio Coração de Cristo que Se entregou ao Pai pela humanidade.

Recebei hoje, neste dia sacerdotal, o afeto, a gratidão e a oração do Povo de Deus, que certamente, se une aos seus pastores e reconhece em vós os administradores da graça de Deus em Cristo! Hoje, a nossa inteira Igreja diocesana reza e louva ao Senhor por vós, por vossa vida e pelo vosso sim! Hoje, o vosso Bispo se alegra por cada um de vós, louva a Deus por cada um! Sois meus colaboradores, minha ajuda, minha coroa, meus filhos mais próximos, a alegria do meu ministério episcopal!
Parabéns! Deus os abençoe! O Senhor complete em vós a obra que começou, até o Dia de Cristo. Amém.



A Missa do Crisma

Antes de mais nada, é necessário compreender que esta Missa nada tem a ver com as missas de Crisma, de celebração do Sacramento da Crisma, que o Bispo celebra nas diversas paróquias.

A Crisma ou a Confirmação ou a Crismação é o segundo dos três sacramentos da iniciação cristã. Nele, é conferido o Espírito Santo como força e vigor para o contínuo crescimento e empenho na vida em Cristo de cada discípulo do Senhor Jesus.

O Crisma é a mistura de óleo de oliveira com essências perfumadas. Esta mistura, chamada “crisma” pelos católicos latinos e “myron” pelos católicos orientais, é consagrada pelo Bispo na Quinta-feira Santa e torna-se sinal privilegiadíssimo e sacramento sagrado da presença ativa, vivificante, forte, santificante do Santo Espírito do Cristo imolado e ressuscitado na Sua Igreja e na visa dos fieis.

Então, cuidado para não confundir e errar na doutrina e no português: o crisma é o óleo perfumado; a Crisma é o sacramento da Confirmação!

Explicado isto, vamos à Missa Crismal ou Missa do Crisma – este é o seu nome correto!

Esta Missa, via de regra, deve ser celebrada sempre na Catedral, a Igreja em que se encontra a Cátedra do Bispo, a Cadeira que é símbolo da sua autoridade de pastor e pai da Igreja diocesana como vigário de Cristo e sucessor dos Apóstolos. O dia próprio é a Quinta-feira Santa pela manhã ou, excepcionalmente, por algum motivo sério, um dia próximo ao Tríduo Pascal.

Esta Celebração não faz parte do Tríduo Pascal, mas como que o prepara! Ele é toda centrada no sacerdócio de Cristo: Aquele cuja Páscoa celebraremos, viveu a Sua passagem para o Pai sacerdotalmente! Sim, Ele Se ofereceu ao Pai sacerdotalmente e fez de nós, Seus discípulos - Nele batizados, no Seu Espírito crismados e na Sua Eucaristia a Ele unidos constantemente -, um Povo sacerdotal. Fomos feitos um Povo de sacerdotes que, no Espírito do Cristo-Ungido, (1) intercede ao Pai pela criação inteira e por toda a humanidade e, (2) junto à humanidade, dá testemunho do amor salvífico do Deus Uno e Trino. Eis, portanto, a insistência da Liturgia desta Missa crismal: Aquele que por nós sofreu a Paixão, entrou na Morte e ressuscitou, fê-lo sacerdotalmente, fê-lo (1) como um ato de amorosa adoração, louvor e ação de graças ao Pai por nós e (2) como um testemunho do amor do Pai e de amor ao Pai diante da humanidade.

Nesta Missa, aqueles que no meio do Povo sacerdotal receberam o sacerdócio ministerial pelo Sacramento da Ordem, que os configurou ao Cristo Cabeça, renovam diante do seu Bispo as promessas sacerdotais, testemunhando, assim, a presença perene e eficaz do Cristo no Seu exercício sacerdotal de Pastor, Mestre e Santificador do Povo santo, no coração da Sua Igreja. Unidos como um só Presbitério ao redor do seu Bispo, os presbíteros dão testemunho de que um e único é o sacerdócio de Cristo, único e eterno sacerdote do Nova Aliança.

Também nesta Celebração são abençoados os óleos dos catecúmenos e dos enfermos e confeccionado o Crisma pelo Bispo, que mistura perfumes ao óleo, e o consagra, invocando sobre ele a presença potente e eficaz do Santo Espírito do Cristo imolado e ressuscitado!
O santo Crisma somente pode ser confeccionado e consagrado pelo Bispo! E este o faz cercado pelos seus presbíteros. O sentido é forte e potente: este Santo Crisma é sacramento da presença eficaz do Espírito Santo emanado do Sacrifício pascal do Cristo. Ele estará presente na vida de todas as comunidades da Igreja diocesana, sendo penhor da Vida divina trazida pelo Cristo Jesus com a Sua Paixão, Morte e Ressurreição! Os presbíteros, como colaboradores do Bispo, testemunham a consagração desse Crisma da salvação com o qual eles mesmos administrarão os sacramentos da graça de Cristo.
Também os demais óleos são, a seu modo, canais da graça do Senhor nosso Salvador para os catecúmenos e os enfermos.

Assim, na Missa Crismal, toda a Igreja diocesana se faz presente e aparece em todo o seu esplendor de Igreja de Cristo, una, santa, católica e apostólica, Povo sacerdotal, Povo que vive, testemunha e anuncia a presença salvadora do Cristo que o Pai consagrou e enviou ao mundo para a nossa salvação. É muito importante que todas as paróquias enviem representantes para formarem a única Assembleia do Povo de Deus ao redor do único Altar sob a presidência do único Bispo com o seu Presbitério.

É toda a Igreja que, crismada com este óleo perfumado, é enviada ao mundo como testemunha e anunciadora do Reino de Deus que o Cristo nos trouxe e, sacerdotalmente, apresenta ao Pai, na Eucaristia, o Sacrifício perfeito e santo, salvação, bênção e graça para a criação inteira!


A alma daquelas pedras

Não é um museu; não é templo da deusa cultura...
É Casa de Deus, Casa da Igreja, é Porta do Céu!

A Notre Dame de Paris foi erguida pelos habitantes de uma cidade de cerca de 50.000 habitantes. Não eram ricos... Levaram 182 anos para erguê-la...
Tinham fé intensa;
viviam diante de Deus, colocavam em Cristo Jesus sua esperança
e dedicavam à Santíssima Virgem todo o afeto filial!
Para os parisienses da Idade Média, Deus não era uma ideia; era próprio eixo da vida, e o Cristo Jesus era a certeza mais certa da existência!

Uma Catedral vale, para os cristãos,
como Casa de Deus e do Povo de Deus,
não como museu ou referência cultural!
O essencial é simples, límpido, transparente, jovial, quase pueril...

Os verdadeiros cristãos nunca pensaram em gerar uma cultura.
Tinham e têm um amor, uma fé, uma esperança no coração.
Seu nome? Jesus, nosso Senhor, o Filho Eterno do Pai, o Salvador do mundo!

É esta fé, total, inteira, generosa, menina, inocente, viçosa, que gera cultura de modo despretensioso, natural, límpido, humilde, sem nem saber, transforma vidas sem ter pretensões, ergue edifícios magníficos sem outra intenção que não a glória de Deus e do Seu Cristo.

Quem dera que a Notre Dame fosse reedificada pela fé dos católicos e não por dinheiro dos ilustres famosos e exóticos do mundo, que nesse Templo venerável não vêm mais que cultura e orgulho nacional...

A alma de Notre Dame é Deus!
A vida de Notre Dame é a Eucaristia!
O sentido de Notre Dame é a Igreja - gente pouca, simples, sem vez nem nome - que nela se reúne com Maria, a Mãe de Jesus para bendizer o Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, cujo Reino é imortal e subsistirá pelos séculos dos séculos. Amém.