Ez 2,2-5
Sl 122
2Cor 12,7-10
Mc 6,1-6
O Evangelho deste Domingo
apresenta-nos Jesus na Sua Nazaré. Ali mesmo, na Sua própria cidade, onde
nascera e fora criado, os Seus O rejeitam: “’Este
homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de Joset, de Judas
e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?’ E ficaram escandalizados por
causa Dele”. Assim, cumpre-se mais uma vez a Escritura: “Veio para o que era Seu e os Seus não O
receberam” (Jo 1,11).
E a falta de fé foi tão grande, a
dureza de coração, tão intensa, a teimosia, tão pertinaz, que São Marcos
afirma, de modo surpreendente: “Ali não
pôde fazer milagre algum!”, tão grande era a falta de fé daquele povo.
Meus caros, pensemos bem na
advertência que esta Palavra de Deus nos faz!
O próprio Filho do Pai, em
pessoa, esteve no meio do Seu povo, conviveu com ele, falou-lhe, sorriu-lhe,
abraçou-o e, no entanto, não foi reconhecido pelos seus. E por quê? Pela dureza
de coração, pela insistência teimosa em esperar um messias de encomenda, sob
medida, a seu bel prazer...
Valia bem para Israel a censura
da primeira leitura de hoje, na qual o Senhor Deus Se dirige a Seu servo: “Filho do homem, Eu te envio aos israelitas,
nação de rebeldes, que se afastaram de Mim. A estes filhos de cabeça dura e
coração de pedra, vou-te enviar, e tu lhes dirás: ‘Assim fala o Senhor Deus’.
Quer escutem, quer não, ficarão sabendo que houve entre eles um profeta!”
Que coisa tremenda, meus caros:
houve entre os israelitas um profeta, e mais que um profeta: o Filho de Deus, o
Eterno, o Filho amado... E Israel o rejeitou!
Mas, deixemos Israel. E nós?
Acolhemos o Senhor que nos vem? Escutamos com fé Sua Palavra, quando Ele Se
dirige a nós na Escritura, aquecendo nosso coração? Acolhemo-Lo na obediência
da fé, quando Ele Se nos dirige pela boca da Sua Igreja católica, ensinando-nos
o caminho da Vida? Acolhemo-Lo, quando nos fala pela boca de Seus profetas?
Não tenhamos tanta certeza de que
somos melhores que aqueles de Nazaré!
Aliás, é bom que nos perguntemos:
por que os nazarenos não foram capazes de reconhecer Jesus como Messias? Já
lhes disse: porque o Senhor não era um messias do jeito que eles esperavam: um
simples fazedor de milagres, um resolvedor de problemas... Jesus, pobre, manso,
humilde, era também exigente e pedia do povo a conversão de coração.
Mas, há também uma outra razão
para os nazarenos rejeitarem Jesus: eles foram incapazes de ver além das
aparências. De fato, enxergaram em Jesus somente o filho de José, aquele que
correra e brincara nas suas praças, aquele ao qual eles haviam visto crescer.
Assim, sem conseguir olhar com mais profundidade, empacaram na descrença.
Mas, nós, conseguimos olhar com
profundidade? Somos capazes de escutar na voz dos ministros de Cristo a própria
voz do Senhor? Somos sábios o bastante para ouvir na voz da Igreja a voz de
Cristo?
É exatamente pela tendência
nossa, tremenda, de sermos surdos ao Senhor, que Jesus tanto sofreu e que Paulo
se queixava das dificuldades do seu ministério.
O Apóstolo fala de um anjo de
Satanás que o esbofeteava. Que anjo era esse? Ele mesmo explica: suas “fraquezas, injúrias, necessidades,
perseguições e angústias sofridas por amor de Cristo”. O drama de Paulo é
uma forte exortação aos pregadores do Evangelho e a todos os cristãos. Aos
pregadores do Evangelho essa palavra do Apóstolo recorda que o anúncio será
sempre numa situação de pobreza humana, de apertos e contradições. A
evangelização, caríssimos, não é um trabalho de marketing televisivo como vemos
algumas vezes nos “missionários” dos meios de comunicação. O Evangelho do
Cristo crucificado e ressuscitado, é proclamado não somente pela palavra do
pregador, mas também pela carne de sua vida. Como proclamar a Palavra sem
sofrer por ela? Como anunciar o Crucificado que ressuscitou sem participar da Sua
cruz na esperança firme da Sua ressurreição? O Evangelho não é uma teoria, não
é um sistema filosófico. O Evangelho é Cristo Jesus encarnado na nossa vida, de
modo que possamos dizer como São Paulo: “Eu
trago no meu corpo as marcas de Jesus” (Gl 6,17).
Triste do pregador que pensar em
anunciar Jesus conservando-se para si mesmo. Um diácono, um padre, um bispo,
que quisessem se poupar, que separasse a pregação do seu modo de viver, que fosse
pregador de ocasião, tornar-se-ia um falso profeta, transformar-se-ia em marqueteiro do Evangelho, portanto,
inútil e estéril. É toda a vida do pregador que deve ser envolvida na pregação:
seu modo de viver, de agir, de vestir, de relacionar-se com os bens materiais,
sua vida afetiva, seu modo de divertir-se, seu tipo de amizade... Tudo nele
dever ser comprometido com o Senhor e para o Senhor!
Mas, essa palavra de São Paulo na
Liturgia de hoje vale também para cada cristão. Hoje, somos minoria. O mundo
não-crente, secularizado zomba de nós e já não crê no anúncio de Cristo que lhe
fazemos. Sentimos isso na pele!
Pois bem, quando experimentarmos
a frieza e a dura rejeição, quando em casa, no trabalho, nos círculos de
amizades, formos ignorados ou ridicularizados por sermos de Cristo, recordemos
do Evangelho de hoje, recordemo-nos dos sofrimentos dos apóstolos e retomemos a
esperança: o caminho de Cristo é também o nosso; se sofrermos com Ele, com Ele
reinaremos; se morrermos com Ele, com Ele viveremos (cf. 2Tm 2,11-12). Não
tenhamos medo: nós somos as testemunhas, somos os profetas, os sinais de luz
que Deus envia ao mundo de hoje! Sejamos fieis: o Senhor está conosco, hoje e
sempre. Amém.