sábado, 24 de maio de 2014

VI Domingo da Páscoa: Eu vivo e vós vivereis!

VI Domingo da Páscoa

At 8,5-8.14-17
Sl 65
1Pd 3,15-18
Jo 14,15-21

​Nestes dias pascais em honra do Ressuscitado, contemplamos e experimentamos nos santos mistérios não somente a Sua Ressurreição e Ascensão, como também o dom do Seu Espírito Santo em Pentecostes. Pois bem, caríssimos irmãos e irmãs, a Palavra de Deus que escutamos nesta liturgia do VI Domingo da Páscoa coloca-nos precisamente neste clima. Com um coração fiel e recolhido, contemplemos o mistério que o Evangelho de hoje nos revela! Meditemos nas palavras do Senhor Jesus:
​“Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós! Pouco tempo ainda, e o mundo não mais me verá, mas vós me vereis, porque Eu vivo e vós vivereis!” São palavras estupendas, cheias de promessa e de vitória... Mas, será que são verdadeiras? Como pode ser verdade tudo isso? Uma coisa é certa: o Senhor não mente jamais! E Ele nos garante: Eu virei a vós! Eu vivo! Vós vivereis! Mas, como se dá tal experiência? Como podemos realmente experimentar tal realidade estupenda em nossa vida e na vida da Igreja? Eis a resposta, única possível: somente no Espírito Santo que o Ressuscitado nos deu ao derramá-Lo sobre nós após a Ressurreição. Vejamos:
​“Eu virei a vós!” Na potência do Santo Espírito, Cristo realmente permanece no coração de Sua Igreja, primeiro pela Palavra, cheia de Espírito e pregada na potência do Espírito, como Filipe, na primeira leitura, que, anunciando o Cristo, realizava curas e exorcismos e, sobretudo, tocava os corações! Uma Palavra, portanto, que realmente toca os corações e coloca os ouvintes diante do Cristo vivo e atuante. Mas, conjuntamente com a Palavra, os sacramentos, sobretudo o Batismo e a Eucaristia. Em cada sacramento é o próprio Espírito do Ressuscitado quem age, conformando-nos ao Cristo Jesus, unindo-nos a Ele, fazendo-nos experimentar Sua vida e Sua força. Pelo Batismo, mergulhados no Espírito do Ressuscitado, realmente nascemos para uma nova Vida, como nova criatura; pela Eucaristia, Seu Corpo e Sangue plenos do Espírito, entramos na comunhão mais plena que se possa ter neste mundo com o Senhor: Ele em nós e nós Nele, num só Espírito Santo que Ele nos doa continuamente!
​“Vós me vereis!” Porque o Santo Espírito do Senhor Jesus habita em nossos corações, nós experimentamos Jesus em nós como uma Presença real e atuante e, com toda a certeza, proclamamos que Jesus é o Senhor, como diz São Paulo: “Ninguém pode dizer: ‘Jesus é Senhor’ a não ser no Espírito Santo” (1Cor 12,3). Porque vivemos no Espírito de Jesus, experimentamos todos os dias Jesus como Alguém vivo e presente na nossa vida, em outras palavras: vemos Jesus; vemo-Lo de verdade!
​“Eu vivo!” Sabemos que o Senhor está vivo: “morto na Sua carne, isto é, na Sua existência humana, recebeu nova vida pelo Espírito Santo”. Sabemos com toda a certeza da fé que Cristo é o Vivente para sempre, o Vencedor da Morte!
​“Vós vivereis”. O Senhor Jesus não somente está vivo, totalmente transfigurado pela ação potente do Espírito que o Pai derramou sobre Ele... Vivo na potência do Espírito, Ele nos dá esse mesmo Espírito em cada sacramento. Assim, sobretudo no Batismo e na Eucaristia, tornam-se verdadeiras as palavras do Senhor: “Vós vivereis!”, isto é: recebendo Meu Espírito, nele vivendo, tereis a Minha Vida mesma! Vivereis porque Meu Espírito “permanece junto de vós e estará dentro de vós!”
​Então, caríssimos, palavras de profunda intensidade e de profunda verdade! Num mundo da propaganda, da ilusão, dos simples sentimentalismos, essas palavras do Senhor são uma concreta e impressionante realidade. Mas, escutemos ainda o Senhor: “Naquele dia sabereis que Eu estou no Meu Pai e vós em Mim e Eu em vós!” É na oração, na prática piedosa dos sacramentos, na celebração ungida e piedosa da Eucaristia que experimentamos essas coisas! Aqui não é só a inteligência, aqui não basta a razão, aqui não são suficientes os nossos esforços! É na fé profunda de uma vida de união com o Senhor, na força do Espírito Santo que experimentamos isso que Jesus disse: Ele está no Pai, no Espírito Ele e o Pai são uma só coisa. Mas, tem mais: experimentamos que nós estamos Nele, Nele enxertados como os ramos na videira, Nele incorporados como os membros do corpo unidos à Cabeça! Repito: é nos sacramentos que essa experiência maravilhosa torna-se realidade concreta. Um cristianismo que tivesse somente a Palavra de Deus, sem valorizar os sete sacramentos – sobretudo o Batismo e a Eucaristia -, seria um cristianismos mutilado, deficiente, anêmico, não condizente com a fé do Novo Testamento e a Tradição constante da Igreja! Irmãos e irmãs, atenção para a nossa vida sacramental!
​Ora, é esta comunhão misteriosa e real com o Senhor no Espírito, que nos faz amar Jesus e viver Jesus com toda seriedade de nossa vida. É cristão de modo pleno quem experimenta o Senhor Jesus vivo e íntimo em sua vida e celebra tal união, tal cumplicidade de amor, nos sacramentos! Aí sim, as exigências do Senhor, Seus mandamentos, não nos parecem pesados, não nos são pesados, não são um fardo exterior que suportamos porque é o jeito. Quem vive a experiência desse Jesus presente e doce no Espírito derramado em nós, experimenta que cumprir os preceitos do Senhor é uma exigência doce, porque é exigência de amor e, portanto, libertadora, pois nos tira de nós mesmos e nos faz respirar um ar novo, o ar do Espírito do Ressuscitado, o Homem Novo!
​Mas, quem pode fazer tal experiência? Somente quem vive de modo dócil ao Espírito Consolador, que nos consola mesmo nos desafios mais duros. Somente viverá o cristianismo com um dom e não como um peso quem vive na consolação do Espírito, que é também Espírito de Verdade, pois nos faz mergulhar na gozo da Verdade que é Jesus. Ora, o mundo jamais poderá experimentar esse Espírito! Jamais poderá experimentar o Evangelho como consolação, jamais poderá experimentar e ver que Jesus está vivo e é doce e suave vida para a nossa vida! Por isso mesmo, o mundo jamais poderá compreender as exigências do Evangelho: aborto, infidelidade conjugal, demolição da família, liberação de drogas, casamento gay, assassinato de embriões com fins pseudo-científicos, assassinato de embriões anencéfalos, eutanásia... Como o mundo poderá compreender as exigências do Evangelho se não conhece o Cristo? “O mundo não mais Me verá!” Nunca nos esqueçamos disso! Ai dos que pensam que a Igreja deve correr atrás do mundo! Este não é capaz de receber, de acolher o Evangelho porque – diz Jesus – não vê nem conhece o Espírito Paráclito! Mas, vós, cristãos, “O conheceis porque Ele permanece junto de vós e estará dentro de vós!” Irmãos, como nosso Senhor é claro, como é verdadeiro, como nos preveniu!
​É essa experiência viva de Jesus no Espírito que nos dá a força cheia de entusiasmo na pregação como Filipe, na primeira leitura. Dá-nos também a coragem e o discernimento para dar ao mundo “a razão da nossa esperança”, santificando o Senhor Jesus em nossos corações, isto é, pregando Jesus primeiro com a coerência da nossa fé na vida concreta e, depois, com respeito pelos que não creem como nós, mas com a firmeza de quem sabe no que acredita! Dá-nos, enfim, a graça de participar da cruz do Senhor, Ele que “morreu uma vez por todas, por causa dos nossos pecados, o justo pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus”. Assim, com Ele morreremos para uma vida velha e ressuscitaremos no Espírito para uma vida nova. Eis! Esta será sempre a grande novidade cristã, o centro, o núcleo de a nossa identidade e nossa força! Nunca esqueçamos disso! Vamos! Sigamos o Senhor! Abramo-nos ao Seu Espírito!

domingo, 18 de maio de 2014

Lumen Christi!

Na Liturgia Latina, o mais belo e significativo símbolo pascal é o Círio. Ele simboliza o próprio Cristo ressuscitado.

Em geral, não é muito valorizado por falta de catequese litúrgica, mal gravíssimo da Igreja latina atual.

Nunca se deve, no âmbito da Liturgia, utilizar uma imagem de Cristo Ressuscitado. Numa procissão sim, pois não se trata de um ato litúrgico, mas gesto da religiosidade popular.

Por que representar o Ressuscitado por uma vela gigante?

Nos evangelhos, o Cristo ressuscitado não pode ser descrito ou representado: Seu aspecto é glorioso, Ele não pode mais ser visto, apreendido pelos sentidos, a não ser que Se faça ver. O Ressuscitado não voltou a esta vida, ao estado e à fisionomia que tinha antes, nos dias de Sua humilhação. Ele agora é Senhor, é Adon, como o Adonai, o Senhor Deus, Ele agora é Kyrios! Por isso mesmo a Igreja O representa no Círio, para deixar claro que Ele agora é todo Misterioso, todo Senhor glorioso na Sua santíssima humanidade divinizada.

O Círio Pascal!

Virgem, como é Virgem o Ressuscitado, Novo Adão, Princípio da nova criação.

Nele se inscrevem o Alfa e o Ômega, primeira e última letras do alfabeto grego, pois o Ressuscitado é Princípio e Fim da história e de todas as coisas.

Uma grande cruz com cinco cravos domina todo o Círio, pois a Ressurreição é fruto da Paixão, de modo que o Ressuscitado traz e trará para sempre no Seu corpo glorioso as gloriosas chagas, como troféus.

Vem também inscrito os algarismos do ano em curso, pois, na Santa Liturgia, o Mistério Pascal torna-se presente, continuamente contemporâneo a cada geração de cristãos e atuante na vida da Igreja. A Igreja e cada cristão encontram realmente, na Liturgia pascal, o Vencedor da Morte, feito Senhor e Cristo!

O fogo que consome o Círio e ilumina as trevas é símbolo do próprio Espírito Santo, no qual o Pai ressuscitou o Filho Amado; Espírito que vivifica, aquece, ilumina! É este Espírito o grande Dom que o Ressuscitado faz continuamente à Sua Igreja, vivificando-a, iluminando-a, aquecendo-a de Vida divina e transfigurando-a como presença do Reino de Deus neste mundo e semente de Vida Eterna.

Por isto mesmo, o Círio deve ser conservado com respeito sagrado. Será sempre incensado ao início das missas de Tempo Pascal nas quais se use o incenso (não é incensado nem ao Evangelho nem ao ofertório).
Deve ficar próximo ao ambão, como sinal eloquente da luz de Cristo ressuscitado que ilumina as Escrituras.
Somente é retirado após as segundas vésperas da Solenidade de Pentecostes. Deve ser, então, colocado no Batistério, ao lado da pia batismal.

Existe um belo costume de se retirar alguns fragmentos da cera do Círio e colocá-los num pequeno relicário precioso - de ouro ou prata - que é levado no pescoço, como medalha, em geral com a imagem do Cordeiro do Apocalipse, e se chama Agnus Dei. Que bela relíquia: um pequeno fragmento da cera do Círio, imagem Daquele que esteve morto, mas agora vive e vivifica para sempre!


Por que sou cristão...

Cristão
para ser tão impregnado do Espírito do Vivente Filho do Pai,
que tenha os sentimentos Dele,
os pensamentos Dele,
as atitudes Dele,
o modo de viver Dele!

Motivos para ser cristão...

Cristão
porque quero e preciso
ser envolvido com o Espírito de Cristo Jesus, meu Senhor,
que é Vida na água batismal,
é Força no sagrado óleo crismal,
é Amor que Se imola no Corpo e Sangue do Senhor eucaristizado,
é Amor esponsal no sagrado Matrimônio,
é remissão dos pecados na Penitência,
é unção que configura ao Cristo Esposo da Igreja e Pastor do Seu rebanho na Ordem,
é consolo e força para completar na carne os padecimentos de Cristo na Unção dos Enfermos...

Os porquês de ser cristão...

Cristão
porque não aceito viver somente esta vida tão parca e limitada,
porque meu coração só se contenta com o Eterno,
porque tenho sede de Vida em plenitude e abundância,
porque quero já neste mundo ser cidadão do Céu,
trazendo em mim a semente de Eternidade...

E a Vida,
a Eternidade,
a Abundância,
a Plenitude,
tudo isto é o Espírito que o Senhor Jesus nos dá nos sacramentos da Igreja!



sábado, 17 de maio de 2014

V Domingo da Páscoa: Não se perturbe o vosso coração!

At 6,1-7
Sl 32
1Pd 2,4-9
Jo 14,1-12

Neste Domingo, Quinto do Tempo da Páscoa, elevemos o olhar ao Ressuscitado; deixemo-nos tomar por Sua palavra: “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em Mim também!” Estejamos atentos: estas não são palavras ditas ao vento, para ninguém! São palavras, é exortação a nós, cristãos de agora; palavras para cada um de nós e para nós todos. No mundo complexo, numa realidade plena de desafios, na nossa vida pessoal tantas vezes sofrida, tantas vezes ferida, cheia de tantas contradições e lutas, o Senhor vivo, vencedor, nos olha, estende-nos as mãos, abre-nos o coração e nos enche de serenidade e confiança: “Não se perturbe o vosso coração!”
Pensemos nos desafios dos tempos atuais: o desafio de crer e testemunhar o Senhor em situações tão cheias de promessas, mas também tão confusas. Pois bem, o Senhor insiste: “Tendes fé em Deus, tende fé em Mim também!” Ter fé em Cristo! Eis o desafio para nós! Ontem, como hoje, é necessário proclamar nossa fé Nele, nossa entrega a Ele, nossa certeza de que Ele pode dar um sentido à nossa existência. E por quê? Não seria loucura, alienação, infantilidade, confiar assim, de modo tão absoluto, em um alguém? Por que apostar toda a vida em Jesus e somente em Jesus? Por que não um pouquinho de Buda, um pouquinho de Maomé, um pouquinho de Dalai Lama, um pouquinho de esoterismo, um pouquinho mais de consumismo e outro tantinho de rédea solta aos nossos instintos? Por que somente Cristo? Por que absolutizar Jesus? Eis a resposta, que Ele mesmo nos dá; eis a resposta surpreendente! Escutemo-la: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim!” É precisamente neste mundo de tantos desafios e de tantos caminhos, que o Senhor Jesus nos diz: Eu sou o Caminho! Nestes tempos de tantas verdades, ele nos proclama: Eu sou a Verdade! Neste mundo que nos tenta, oferecendo vida onde não há vida verdadeira, Jesus anuncia: Eu sou a Vida! De fato, Ele não é simplesmente um profeta, um sábio, não é alguém a quem podemos admirar e seguir ao lado de outros personagens igualmente ilustres! Jesus Se nos apresenta como Aquele que vem de Deus e é o único que nos pode revelar de modo pleno, de modo claro e conclusivo o caminho para Deus! Mais ainda: Aquele que é nosso Caminho é também nossa única Verdade e nossa única e verdadeira Vida!
Caríssimos, é diante Dele que temos sempre que nos decidir, que somos chamados a dar um rumo à nossa existência e à existência da sociedade, da família, das relações sociais, do mundo. O mundo tem tantas e tantas medidas para avaliar o bem e o mal, o certo e o errado... A nossa medida é Cristo! Eis! Ele é nossa medida porque é o único Caminho, a única Verdade, a única Vida! O próprio Apóstolo Pedro nos afirma na segunda leitura da Missa de hoje: “Aproximai-vos do Senhor, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e honrosa aos olhos de Deus! Com efeito, nas Escrituras se lê: ‘Eis que ponho em Sião uma pedra angular, escolhida e magnífica; quem nela confiar, não será confundido!’ Mas, para os que não creem, ‘a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular pedra de tropeço e rocha que faz cair’”. Não há como escapar: diante de Cristo, é necessária uma escolha, uma decisão! Aqui não se tem nada a ver com ser conservador ou progressista, otimista ou pessimista! Aqui tem-se a ver com a experiência tremenda de Deus que entregou Seu Filho ao mundo para ser nossa Vida e Caminho e os homens O rejeitaram. Ora, é diante do Cristo, Caminho, Verdade e Vida que nossa existência será julgada, que o mundo será examinado! E, no entanto, Ele será sempre sinal de contradição e pedra de tropeço...
Alguns se iludem, pensando numa Igreja que faça o jogo da moda, que diga “amém” a um modo de pensar, agir e viver estranho ao Evangelho! Que engano tão danado! Que vida haveria numa Igreja cheia e infiel ao Senhor? Que sal seria uma Igreja de mentalidade mundana? Que luz seriam os cristãos que batizassem o pecado do mundo, ao invés de amorosa e firmemente denunciá-lo para que em Cristo o mundo seja salvo? A renovação da Igreja está, precisamente, em voltar continuamente a Cristo e Nele se reencontrar sempre, retomando o vigor, como de uma fonte puríssima! O verdadeiro serviço à humanidade e ao mundo é apresentar o Cristo e Nele colocar toda a esperança!
“Não se perturbe o vosso coração!” – A leitura dos Atos dos Apóstolos nos mostra como já nos inícios da Igreja havia tensões, desafios, dificuldades externas e internas. Pois bem, já ali o Senhor dizia aos cristãos: “Não se perturbe o vosso coração!” Já ali lhes garantia a grandeza do amor do Pai: “na Casa do Meu Pai há muitas moradas!” E já ali, entre as consolações de Deus e as provações da vida, “a Palavra do Senhor se espalhava”. Portanto, não temamos em colocar toda a nossa confiança no Senhor; não hesitemos em procurar de todo o coração seguir os passos do Senhor Jesus! A oração inicial da Missa de hoje exprimiu muito bem o que espera o cristão, ao colocar no Senhor a sua existência. Recordemo-la: Ó Deus, Pai de bondade, concedei aos que creem no Cristo a liberdade verdadeira e a herança eterna!” – Eis o que buscamos, o que esperamos, o que temos a certeza de alcançar: a liberdade verdadeira e a herança eterna! Amém.

sábado, 10 de maio de 2014

IV Domingo da Páscoa: Jesus, o Bom Pastor do rebanho

At 2,14a.36-41
Sl 22
1Pd 2,20b-25
Jo 10,1-10

“Ressuscitou o bom Pastor, que deu a vida por Suas ovelhas e quis morrer pelo rebanho”. Estas palavras da Liturgia exprimem admiravelmente o espírito deste Domingo IV do Tempo Pascal, chamado Domingo do Bom Pastor. Valeria a pena ler e meditar de modo contemplativo o capítulo 10,1-18 do Evangelho de São João. Aí, Jesus Se revela como o Bom Pastor, ou melhor, o Perfeito, o Belo, o Completo e Pleno Pastor: “Eu sou o Bom Pastor: o bom pastor dá sua vida pelas Suas ovelhas” (Jo 10,11). Criticando duramente os pastores, isto é, os líderes do povo de Israel, Deus havia prometido Ele mesmo vir pastorear o Seu rebanho: “Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Os Meus pastores não se preocupam com o Meu rebanho! Eu mesmo cuidarei do Meu rebanho e o procurarei. Eu mesmo apascentarei o Meu rebanho, Eu mesmo lhe darei repouso. Buscarei a ovelha que estiver perdida, reconduzirei a que estiver desgarrada, pensarei a que estiver fraturada e restaurarei a que estiver abatida” (cf. Ez 34). Pois bem! Agora, o Senhor Jesus – e pensemos Nele ressuscitado, ferido e morto pelo rebanho, pelo qual deu a vida, agora trazendo as marcas gloriosas da paixão – declara solenemente: “Eu sou o Bom Pastor!” Ele é o próprio Deus, que vem apascentar pessoalmente o Seu povo, Seu rebanho!

Mas, sigamos a Palavra que hoje nos é anunciada. São Pedro e a Igreja proclamam com convicção: “Que todo o povo de Israel reconheça com plena certeza; Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vós crucificastes”. Mas, quem é Este, constituído Senhor? Por que foi crucificado? A resposta está na segunda leitura deste hoje, nas palavras do próprio São Pedro: “Cristo sofreu por vós. Ele não cometeu pecado algum, mentira nenhuma foi encontrada em Sua boca. Quando injuriado, não retribuía as injúrias; atormentado, não ameaçava... Sobre a cruz, carregou nossos pecados em Seu próprio corpo, a fim de que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça. Por Suas feridas fostes curados. Andáveis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes para o pastor e guarda de vossas vidas!” Eis o nosso Bom Pastor, Aquele que deu a vida pelas ovelhas e quis morrer para que o rebanho tivesse vida!

Diante de um amor assim, de uma doação dessas, de um compromisso tão grande conosco, somente podemos fazer a pergunta que os ouvintes de Pedro fizeram: “Que devemos fazer?” E a resposta continua a mesma: “Convertei-vos e cada um de vós seja batizado, isto é, mergulhado, no Nome de Jesus Cristo! Salvai-vos dessa gente corrompida!”

Caríssimos, somos cristãos, somos ovelhas do rebanho do Bom Pastor! Ele é tudo: é o Pastor e é também a Porta do redil: somente encontra a vida verdadeira quem entre por Ele! Há tantos falsos pastores no mundo atual, tantos sabichões, tantos que, nos meios de comunicação determinam o que é certo e o que é errado, o que é verdade e o que é mentira. Pastores falsos, que vêm “para roubar, matar e destruir”. Nós somos cristãos; nosso Pastor é o Cristo, Aquele que por nós deu a vida, Aquele que diz: “Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância!”
Seremos ovelhas desse Pastor se escutarmos a Sua voz e atendermos ao Seu chamado. Seguindo-O, encontraremos pastagens para a nossa vida.
Mas, atenção: não poderemos segui-Lo sem a conversão do nosso coração, sem nos deixarmos a nós mesmos, sem rompermos com aquilo que, no mundo, é modo de pensar e viver contrário ao Evangelho.
Supliquemos, pois, ao Bom Pastor, o estado de espírito da ovelha confiante do Salmo da Missa de hoje: “O Senhor é o pastor que me conduz, não me falta coisa alguma. Ele me guia no caminho mais seguro. Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei...”


Hoje também é Jornada de Oração pelas vocações sacerdotais e religiosas. Peçamos ao Senhor que nos envie santos e sábios sacerdotes, cheios daquele amor que o Senhor Jesus tem pelo Seu rebanho. Não nos iludamos: o único modo que o Senhor nos indicou para termos os pastores de que necessitamos é a oração: “Pedi ao Senhor da colheita que envie operários para a sua messe”. Rezemos, portanto, e nos empenhemos também, tanto material como espiritualmente, pela formação de nossos seminaristas! Quanto ao mais, esperemos no Bom Pastor, que é fiel e nunca deixará a Sua Igreja sem os pastores de que necessita. Mas, cuidado: Atentos a como tratamos os que são vocacionados! Atentos a como formamos os nossos seminaristas! Atentos a que tipo de vida religiosa oferecemos a quem se sente chamado a seguir o Cristo na piedosa e autêntica radicalidade da pobreza, da castidade e da obediência. O Senhor nunca deixa de chamar... Infelizmente, às vezes, destruímos nos que são chamados a doçura e a inocência da vocação! Ai desses - e não são poucos hoje em dia! -, que escandalizam os pequeninos e destroem a obra do Senhor nos corações!


sábado, 3 de maio de 2014

III Domingo da Páscoa - Olhos que se abrem, corações que ardem, vidas que se transformam

At 2,14.22-33
Sl 15
1Pd 1,17-21
Lc 24,13-35

            No Tempo Pascal a Igreja vive, celebra e testemunha sua certeza, aquela convicção que a faz existir e sem a qual ela não teria sentido neste mundo: “Jesus de Nazaré foi um homem aprovado por Deus pelos milagres, prodígios e sinais que Deus realizou por meio Dele entre vós. Deus, em Seu desígnio e previsão, determinou que Jesus fosse entregue nas mãos dos ímpios e vós O matastes pregando numa cruz... Deus ressuscitou este mesmo Jesus e disto todos nós somos testemunhas. Exaltado pela Direita de Deus, Jesus recebeu o Espírito Santo prometido e O derramou...” Este é o núcleo da nossa fé, o fundamento da nossa esperança, a inspiração para a nossa vida e nossa ação, isto é, para nossas atitudes concretas, nossa vida moral; esta é a certeza que nos faz enfrentar as provações da vida e o medo da morte! Sim, Deus, o Pai, ressuscitou Jesus dentre os mortos e fê-Lo Senhor!

Na Liturgia da Palavra deste Domingo, o encontro de Emaús sintetiza muito bem a experiência cristã. Prestemos atenção, porque é de nós que fala o Evangelho de hoje! O que há aí? Há, primeiramente o caminho – aquele da vida: nele, os discípulos conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido com Jesus. Mas, os acontecimentos da existência, lidos somente à nossa luz, segundo a nossa razão e os nossos critérios, são opacos, são tantas e tantas vezes, sem sentido... Por isso, no coração e no rosto daqueles dois havia tristeza e escuro; eles estavam cegos e tristes... Dominava-os o desânimo e a incerteza: esperaram tanto e, agora, só restava um túmulo vazio... Mas, à luz do Ressuscitado – quando O experimentamos vivo entre nós – tudo muda, absolutamente. Primeiro o coração arde no nosso peito. Arde com a alegria e o calor de quem vê um sentido – e um sentido de amor e de vida, ainda que sempre tão misterioso – para os acontecimentos da existência, mesmo os mais sombrios: “Não era necessário que o Cristo sofresse tudo isso para entrar na glória?” Que palavras impressionantes! São as mesmas dos Atos dos Apóstolos, na primeira leitura: “Deus em Seu desígnio e previsão, determinou que Jesus fosse entregue...” Aqui, compreendamos bem: só na fé se pode penetrar o mistério e ultrapassar o absurdo! Então, com Jesus, na Sua luz, os olhos nossos se abrem e reconhecemos o Ressuscitado, experimentamo-Lo vivo, próximo, como Senhor, que dá orientação, sustento e sentido à nossa vida! Sentimos, assim, a necessidade de conviver e compartilhar com outros que fizeram a mesma experiência, todos reunidos em torno daqueles que o Senhor constituiu como primeiras testemunhas Suas – os Apóstolos e seus sucessores, os Bispos em comunhão com o Sucessor de Simão, a quem o Senhor apareceu em primeiro lugar dentre os Apóstolos. É assim que somos cristãos; é assim que somos Igreja!

Esta é, portanto, a certeza dos cristãos, a nossa certeza! Hoje somos nós as testemunhas! Hoje somos nós quem devemos pedir: “Mane nobiscum, Domine!”“Fica conosco, Senhor!” Somente seremos cristãos de verdade se ficarmos com o Senhor que permanece conosco, se O encontrarmos sempre na Palavra e no Pão eucarístico. Nunca esqueçamos: os discípulos sentiram o coração arder ao escutá-Lo na Escritura e O reconheceram ao partir o Pão! Esta é a experiência dos cristãos de todos os tempos. São João Paulo II, precisamente na sua Carta Apostólica Mane nobiscum Domine afirmava essa necessidade absoluta de Cristo, necessidade de voltar sempre a Ele: “Cristo está no centro não só da história da Igreja, mas também da história da humanidade. Tudo é recapitulado Nele. Cristo é o fim da história humana, o ponto para onde tendem os desejos da história e da civilização, o centro do gênero humano, a alegria de todos os corações e a plenitude de suas aspirações. Nele, Verbo feito carne, revelou-se realmente não só o mistério de Deus, mas também o próprio mistério do homem. Nele, o homem encontra a redenção e a plenitude!” (n. 6).

O mundo atual – e o mundo de sempre – deseja apontar outros caminhos de realização para o homem, outras possibilidades de vida... Os cristãos não se iludem! Sabemos onde está a nossa vida, sabemos onde encontrar o caminho e a verdade de nossa existência: em Cristo sempre presente na Palavra e na Eucaristia experimentadas na vida da Igreja! Repito: este é o centro da experiência cristã; e precisamente daqui brotam as exigências de coerência de nossa vida: “Fostes resgatados da vida fútil herdade de vossos pais, não por meio de coisas perecíveis, como a prata e o ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um Cordeiro sem mancha e sem defeito. Antes da criação do mundo Ele foi destinado para isso, e neste final dos tempos, Ele apareceu por amor de vós!” Eis, que mistério! Antes do início do mundo o Pai nos tinha preparado este Cordeiro imolado, para que Nele encontrássemos a vida e a paz! Por Ele alcançamos a fé em Deus; por Ele, nossa vida ganhou um novo sentido; por Ele, não mais pensamos, vivemos e agimos como o mundo das trevas! E porque Deus O ressuscitou dos mortos e Lhe deu a glória, a nossa fé e a nossa esperança estão em Deus, estão firmadas na Rocha! “Vivei, pois, respeitando a Deus durante o tempo da vossa migração neste mundo!” Vivamos para Deus e manifestemos isso pelo nosso modo de pensar, falar, agir e viver!


Irmãos! Irmãs! Não tenhais medo de colocar em Cristo toda a vossa vida e toda a vossa esperança! É Ele Quem nos fala agora, na Palavra, e agora mesmo, para que nossos olhos se abram e o reconheçamos, Ele mesmo nos partirá o Pão na divina Liturgia dominical. A Ele a glória pelos séculos! Amém.