“A vós, meu Deus, elevo a minha alma. Confio em Vós, que eu não seja
envergonhado! Não se riam de mim meus inimigos, pois não será desiludido quem
em Vós espera” (Sl 24,1-3).
Ah, a Liturgia! Que lições, que
intuições, que sentimentos inexprimíveis de tão ricos, ela nos faz
experimentar!
As palavras acima, do Salmo 24, são a antífona
de entrada (o Intróito) da Missa do
primeiro Domingo do Advento. Pare e pense um pouco, antes de continuar a
leitura... Tente descobrir sozinho: o que estas palavras têm a ver com o
Advento e com o Natal? Por que a Igreja as colocou aí? Pense um pouco... A
Liturgia só pode ser saboreada se a gente aprender a pensar com o coração...
Observe bem: o Advento é tempo de preparar a
celebração da Vinda do Senhor em Belém e de preparar-se para a Vinda Dele na
Parusia, na Glória final. Por isso mesmo a primeira palavra da antífona é
fortíssima: “A Vós, Senhor, elevo a minha
alma!” É o fiel, é a humanidade, que tira o olhar do próprio umbigo, da
própria autossuficiência, e, reconhecendo-se pobre, eleva a alma, a vida ao
Senhor, esperando Dele a salvação! Já aqui, se coloca a atitude fundamental com
a qual devemos viver o Advento: a espera vigilante, como a amada que espera o
amado, como a terra que espera o sol, como o vigia que espera a aurora... Feliz
daquele que sabe erguer os olhos para o Alto, que sabe abrir-se para o Eterno,
que sabe esperar no Senhor! Triste do homem fechado em si mesmo, voltado para o
próprio umbigo, atolado no seu dia-a-dia, sem tirar os olhos da terra...
Depois, a antífona nos joga em cheio no drama
da vida: quantos inimigos exteriores e interiores temos, quantas contradições,
quantos perigos de cair, de perder o rumo, de fracassar na existência! Somo tão
pobres, tão quebrados, tão frágeis... Tão incerto é nosso caminho sobre esta
terra de exílio... “Confio em Vós, que eu
não seja envergonhado! Não se riam de mim meus inimigos!”
Esta consciência da nossa miséria, esta
percepção de que temos um coração de águia, olhos de águia, mas umas asinhas
curtas apenas como as de pardal, é a condição essencial para nos descobrirmos
pobres diante de Deus e, então, gritar: Senhor, vem salvar-nos! Senhor,
precisamos de um Salvador! Sem Tua presença, a humanidade se perde, o homem se
destrói, seremos sempre frustrados, seres fracassados no mais profundo de sua
existência! É isto que esta antífona comovente nos quer fazer compreender e
experimentar.
Mas, observe como ela termina com
a proclamação de uma certeza certa: “Não
será desiludido quem em Vós espera”. Não será desiludido quem coloca sua
esperança no Senhor, quem vigia esperando o Cristo que vem! Deus é fiel:
mandou-nos o Seu Cristo e Ele estará para sempre em nosso meio! Aquele que sabe
reconhecer Sua presença e vive na Sua verdade, de esperança em esperança, não
ficará envergonhado no Dia da Sua Manifestação gloriosa. Lições assim, tão
profundas, tão saborosas, tão verdadeiras, somente a Liturgia pode nos dar!
Quem dera que soubéssemos percebê-las e saboreá-las...
Feliz Advento a todos!